Milhares regressam às ruas da Birmânia com esperança numa revolução
A data desta segunda-feira mostra-se auspiciosa para os opositores da junta militar que tomou o poder no início do mês. Há manifestações em todo o país.
A Birmânia prepara-se para um dia de grande tensão, quando estão marcadas para esta segunda-feira manifestações em todo o país contra a tomada do poder pelo Exército. Os activistas esperam que os protestos marquem um ponto de viragem para o regresso da democracia.
Desde que os militares tomaram o poder no início do mês que todos os dias têm sido marcados por grandes manifestações, mas esta segunda-feira é vista pelos activistas pró-democracia como uma data histórica. Chamam-lhe a “revolução dos cinco dois”, referindo-se à data 22/02/2021, e comparam a sublevação aos grandes protestos de oito de Agosto de 1988, quando o regime militar respondeu com enorme violência às manifestações daquele dia.
Antevendo uma forte mobilização, a chefia militar emitiu avisos sombrios de que a repressão das forças de segurança poderá tornar-se mais violenta. “Os manifestantes estão agora a incitar as pessoas, especialmente adolescentes e jovens emocionais, para um confronto em que irão perder a vida”, ouvia-se na emissão de domingo à noite no canal estatal MRTV.
A página da cadeia de televisão controlada pelos militares no Facebook foi encerrada pela rede social, que a acusou de violar as regras da empresa ao incitar à violência. O perfil do Exército birmanês já tinha sido excluído da plataforma.
Apesar dos avisos, milhares de pessoas marchavam esta segunda-feira por cidades em todo o país. Em Rangum, a maior cidade birmanesa, grupos de estudantes e trabalhadores concentraram-se perto da Câmara Municipal, onde as forças de segurança ergueram barricadas.
Na capital Napidaw, a polícia usou um canhão de água para dispersar uma multidão de manifestantes. “Eles estão a perseguir-nos e a prender-nos, estamos apenas a protestar pacificamente”, dizia uma mulher num vídeo citado pela Reuters.
Três pessoas morreram nos últimos dias durante as manifestações, levando a condenações por parte de observadores internacionais. “Esta loucura tem de acabar agora”, escreveu no Twitter relator especial da ONU para a Birmânia, Tom Andrews, depois da morte de duas pessoas em Mandalay no sábado.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, disse estar a ponderar tomar “acções adicionais” contra os militares que acusa de estarem a “esmagar a democracia e a sufocar as críticas”. Raab irá fazer um discurso esta segunda-feira em que vai exigir o afastamento imediato dos militares do poder e a libertação de Aung San Suu Kyi que governava o país.
O movimento de oposição aos militares parece reunir um forte consenso junto da sociedade birmanesa, unindo activistas políticos, estudantes, líderes religiosos e sindicatos. Trabalhadores de sectores fundamentais, como a saúde, educação, banca, indústria e caminhos-de-ferro, estão há vários dias sem trabalhar depois de ter sido declarada uma greve geral.
O golpe militar deste mês é um regresso a um passado que muitos birmaneses esperavam ter ficado definitivamente para trás. Durante 49 anos, o país viveu sob o jugo de uma ditadura militar dissolvida em 2011 e que, em 2016, dava lugar a um Governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, antiga prisioneira do regime e Prémio Nobel da Paz.
A experiência democrata da Birmânia foi terminada abruptamente a 1 de Fevereiro deste ano, com a detenção de Suu Kyi e dos líderes civis do Governo pelos militares, que nunca deixaram de ter um grande poder na vida política nacional.