E tu, tens F.O.D.A.?

É a sigla de Fear of dating again. Se já antes da pandemia era complicado emparelhar personalidades distintas, imagine-se agora com a covid-19 a ser a companheira regular de qualquer solteiro(a) socialmente consciente que, por isso, evita conhecer uma nova pessoa “por dá cá aquela palha”.

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Pijama, chinelos, robes, livros e Netflix. Há quase um ano que esta tem sido a realidade dos adultos com responsabilidade pandémica, confinados da socialização, do prazer, no fundo, da vida, para todos juntos podermos dar mais vida a quem precisa. 

É neste cenário demasiadamente conhecido por todos (quer dos que têm o privilégio do teletrabalho, quer dos que o vivem nos dias de folga ou ao fim-de-semana), que surgiu uma aparente síndroma com uma sigla inglesa diametral e ironicamente oposta ao seu significado em português: F.O.D.A. Ou seja, fear of dating again; numa tradução literal: medo de namorar novamente.   

Entre discussões de decisões políticas, mais ou menos acertadas, em como se deve lidar com uma pandemia (meus caros, nem a minha avó que viveu até aos 102 anos – partiu há poucos meses – e, consequentemente, testemunhou a outra grande pandemia da Gripe Espanhola, tinha soluções e respostas para isso, advindas da sua aparente experiência), passando por task forces de vacinação que, tal como lá, tentam evitar o chico-espertismo que, espante-se, não é apenas lusitano, arrisco dizer que ninguém se lembrou de incluir solteiros (divorciados e viúvos) nas listas dos prioritários à vacinação.  

O que parece ser uma aparente piada ou ironia, é uma questão séria e pertinente. Quem tem companheiro (a), imagine-se há quase um ano a tentar conhecer alguém para amar, no mais lato senso do seu significado. Se já antes da pandemia era complicado emparelhar personalidades distintas, imagine-se agora com a covid-19 a ser a companheira regular de qualquer solteiro(a) socialmente consciente que, por isso, evita conhecer uma nova pessoa “por dá cá aquela palha”. Os potenciais locais para conhecimentos do destino ou do acaso, dignos de filmes de domingo à tarde, estão encerrados. Sobram-nos as filas do supermercado, onde usamos máscara e devemos manter a distância física. O trânsito, uma outra opção ainda exequível em tempos pandémicos, tem diminuído em tempos de confinamento geral (à data em que redijo este texto). Bares, discotecas, teatros, salas de concertos, anfiteatros de universidades: tudo encerrado. Resta-nos o digital.  

As apps de relacionamento são várias, mas, honestamente, servem sobretudo para:
1) nos comprovar que a pandemia não nos veio tornar melhores pessoas (sugiro aos solteiros que as utilizem e, numa tarde apenas, vão perceber o imenso trabalho que psicólogos e terapeutas vão ter quando, finalmente, tudo isto terminar (seja lá quando isso for);
2) ganhar milhões de euros à conta da venda dos nossos dados pessoais e das contas premium onde pagamos para estarmos expostos (qual red light district) a mais potenciais compradores. Sim, as relações são transacções de troca de favores, das mais variadas índoles.  

Perante a nuvem negra que assola Portugal, há ainda a considerar a tal F.O.D.A. O medo de conhecer alguém que nos poderá transmitir o vírus que colocou o mundo em stand by e, pior, que, por sua vez, o possamos passar a alguém da nossa família, com defesas menores e fragilidades maiores. Senhores responsáveis, esta síndroma está já e irá atingir ainda mais jovens e menos jovens no mundo inteiro, com danos irreversíveis. 

Mas como sou optimista por natureza, os solteiros socialmente conscientes, devem aproveitar esta pausa no dating para aperfeiçoar skills, porque, pelos vistos, em breve estarão aí os novos loucos anos 20

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