Exército colombiano matou mais de 6400 civis por uma questão de contabilidade

Comandantes negam ter existido um esquema de manipulação das estatísticas, mas os soldados admitem ter sido pressionados. Investigação diz que os civis mortos são três vezes mais do que antes se pensava.

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4 ex-comandantes das FARC, Antonio Lozada, Rodrigo Londono, Pastor Alape e Rodrigo Granda, no tribunal da JEP, Bogotá, 18 de Fevereiro de 2021. LUISA GONZALEZ/Reuters
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Ivan Marquez, dissidente das FARC, anunciou a retoma de uma "nova fase da luta" há quase dois anos, 28 de Agosto de 2019. FARC VIDEO / HANDOUT / EPA

O exército colombiano matou mais de 6400 civis inocentes entre 2002 e 2008, num exercício para aumentar as estatísticas de mortos e assim os soldados ganharem mais dinheiro. Os números vêm de uma investigação da Jurisdição Especial para a Paz (JEP) e revelam que os “falsos positivos”, como são conhecidos os civis executados durante a guerrilha contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), são três vezes mais do que antes se pensava.

“Estamos agradecidos pela publicação dos dados resultantes das investigações da JEP, que mostram como foi grande o número de execuções extrajudiciais ocorridas durante o período de Álvaro Uribe [o então presidente], entre 2002 e 2008”, disse Jackeline Castaño, porta-voz de um grupo de vítimas do conflito, citada pelo The Guardian. “Esperamos que a verdade continue a vir ao de cima”, declarou.

O conflito com a guerrilha colombiana das FARC prolongou-se durante 52 anos, desde 1964 até 2016, quando foi estabelecido um acordo de paz. Nessa altura foi criada a JEP, cujas funções se centram especialmente na avaliação dos crimes ocorridos durante o conflito, e desde então o tribunal tem procedido a uma investigação rigorosa.

O número de “falsos positivos”, divulgados na quinta-feira, mostra que o exército colombiano manipulou de forma macabra as estatísticas de mortos em benefício próprio, matando civis inocentes. O número de civis executados revelou-se três vezes mais do que os 2249 que eram conhecidos até ao ano passado.

O general Mario Montoya, que comandava o exército na altura e um dos que já testemunharam em tribunal, negou que tenha dado ordens para a execução dos civis, como refere a Al Jazeera. Mas diversos militares já mencionaram que foram, de facto, pressionados para modificar os números de maneira a que estes reflectissem um melhor resultado.

Ainda que vários soldados tenham sido presos e comandantes demitidos e afastados, as vítimas defendem que os verdadeiros culpados ainda não receberam o devido julgamento.

A JEP, por sua vez, afirmou que vai continuar com a investigação, pretendendo avançar para outros focos de combate que não foram analisados até agora.

No início, quando a JEP anunciou que iria proceder a uma investigação sobre os crimes cometidos durante a guerra de guerrilha colombiana, houve vários críticos que desvalorizaram o seu trabalho. Sobretudo, quem já não vira o acordo de paz de 2016 com bons olhos, queixando-se que os membros das FARC iriam sofrer poucas consequências.

No entanto, o tribunal tem provado o contrário aos seus críticos, pois a primeira acusação, que só foi divulgada agora no final de Janeiro deste ano, foi exactamente contra oito comandantes das FARC, por “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”, de acordo com a The Economist

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