Da vertigem ao desencanto, o teatro escrito à boca de cena
Em duas edições volumosas da Companhia das Ilhas, Carlos J. Pessoa e Rui Pina Coelho arrumam os papéis, em peças cheias de referências clássicas e de refrães de inquietação.
Logo nas primeiras linhas de Pequeno Areal Junto ao Mar, com Cravos Parece-me!, a peça inaugural do Teatro da Garagem, somos atirados para um cenário que há-de persistir nas peças que Carlos J. Pessoa vem escrevendo e encenando para a companhia há 30 anos. Estamos em Tróia, diante de um mar que promete a chegada de guerreiros gregos, mas que afinal podem ser turistas (também gregos); diante de uma falésia onde se dialoga com os deuses, mas deuses que se debatem com dores nos joanetes e se preocupam em poderem passar uma imagem de seres antipáticos. Estamos em Tróia, não em Troia. Daqui os olhos não alcançam Esparta, mas conseguem ver, em dias de pouco nevoeiro, Setúbal. Não há deusas chamadas Helena, de transcendente beleza, mas sim uma deusa que gostava de se chamar Cláudia e que, a braços com uma missão urgente, se apressa a ir arranjar o cabelo. E em vez da Vitória de Samotrácia, representação da deusa Nice, temos a prima Vitória, setubalense dos sete costados.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.