Benfica tem a Europa a escapar-lhe por entre os dedos
Os “encarnados” empataram nesta quinta-feira frente ao Arsenal, na Liga Europa. Com o 1-1 em casa, a equipa de Jorge Jesus está obrigada a marcar um golo na segunda mão, em Atenas.
A Supertaça está perdida, bem como a Taça da Liga. O campeonato é pouco mais do que uma quimera e, na Liga dos Campeões, o Benfica nem chegou a sonhar. Nesta quinta-feira, a equipa de Jorge Jesus deu mais um pequeno passo para prolongar a já extensa lista de insucessos nesta temporada.
Diz-se “em Roma, sê romano”, mas, em Roma, o Benfica foi apenas mediano. A equipa portuguesa empatou frente ao Arsenal (1-1), na primeira mão dos 16 avos-de-final da Liga Europa. O resultado conseguido no Olímpico de Roma – casa emprestada ao Benfica, por culpa das restrições de voos – coloca a equipa “encarnada” a precisar de marcar, pelo menos, um golo em Atenas, na segunda mão desta eliminatória.
Nada está perdido, longe disso, mas está, no mínimo, mal encaminhado. Culpa de um jogo em que o Benfica teve uma defesa inédita e ainda algo perdida – incapaz de impedir o Arsenal de penetrar das mais variadas formas – e em que voltou a demonstrar a já crónica incapacidade para segurar vantagens no marcador – limitação já abordada no PÚBLICO.
Benfica com três centrais
O Benfica surgiu em Roma com um sistema de três centrais, mas não o esperado 3x4x3. Jorge Jesus montou um 3x5x2 tendo na frente a dupla Darwin e Waldschmidt (que tão bem se entendeu a espaços nesta temporada) e um triângulo de meio-campo com Weigl atrás de Pizzi e Taarabt.
Este sistema dotou o Benfica de maior equilíbrio e de uma ocupação de espaços mais capaz (é neste domínio que sistemas de três centrais são mais úteis), mas houve pouca chegada à área.
Não necessariamente pelo sistema em si, mas mais pela postura dos intérpretes: Grimaldo e Diogo Gonçalves estiveram pouco “corajosos” nos corredores, enquanto Waldschmidt, desligado do jogo, poucas vezes conseguiu associar-se com Pizzi e Taarabt. E o jogo do Benfica foi invariavelmente desprovido de verticalidade e presença ofensiva, fruto desta falta de ligação entre os atacantes, os alas e os médios.
O Benfica pareceu ter algum receio de encarar esta partida como o jogo caseiro da eliminatória e o Arsenal pareceu sem pressa para resolver uma eliminatória na qual ainda jogará em casa (ainda que emprestada pelo Olympiacos). E assim se passaram vários minutos de jogo “sem balizas”.
O Arsenal teve o domínio global da partida e, mesmo sem ser sufocante, longe disso, conseguiu alguns lances de perigo a partir dos 20’, quase sempre pelo lado direito do Benfica.
Foi nessa altura que Bellerín foi lançado em profundidade, ultrapassou Grimaldo (que estava “a dormir”) e serviu Aubameyang, que falhou um golo quase certo. O 3x5x2 de Jesus até pode proteger mais Grimaldo e Diogo Gonçalves, mas não faz milagres: o espanhol, numa defesa a três ou a quatro, continua com dificuldades em defender o espaço entre ele e o central.
Aos 39’, um lance em tudo idêntico ao anterior, novamente com Grimaldo ultrapassado, deixou Saka com espaço para cruzar. Valeram Vertonghen e Helton.
Poucos segundos depois, novamente o lado direito do Benfica na berlinda. Odegaard, Bellerín e Ceballos fizeram um “meinho” com os jogadores “encarnados”, mas o norueguês falhou perante Helton. Havia fora-de-jogo, é certo, mas o problema estava lá.
Descontando um remate tímido de Darwin (que veio da única ligação entre os médios e os avançados), o Benfica passou 45 minutos sem incomodar o Arsenal – e, reforce-se, jogava em casa.
Só já a segundos do intervalo os “encarnados” criaram perigo, num lance em que Grimaldo aproveitou um erro do Arsenal na construção para recuperar a bola e cruzar com perigo (havia Darwin e Waldschmidt em posição de finalização).
Rafa para dar o que Waldschmidt não deu
Ao intervalo Jorge Jesus olhou para Rafa como o jogador capaz de trabalhar entre linhas como Waldschmidt não trabalhou. E houve um lance criado pelos “encarnados”, por essa zona, com remate fraco de Pizzi aos 48’.
Pouco depois, uma nova combinação do Arsenal pelo lado direito, com passes curtos e triangulações, terminou com remate se Saka ao lado, em boa posição.
Aos 53’, a presença de Rafa voltou a fazer sentir-se. Um canto curto deu combinação entre Pizzi, Rafa e Diogo Gonçalves e o cruzamento do lateral deu mão de Smith-Rowe. Penálti para o Benfica e golo de Pizzi.
Rafa e Diogo Gonçalves deram-se muito ao jogo e o Benfica beneficiou naturalmente com isso no plano ofensivo. No defensivo, tudo na mesma. O Benfica continuou muito preso às referências individuais e o futebol “rendilhado” do Arsenal continuava a permitir ultrapassar os defensores “encarnados”.
Aos 57’, com Diogo Gonçalves a defender muito por dentro, Cédric pôde cruzar com espaço e Saka finalizou sem dificuldade no centro da área. Os problemas defensivos não mudaram com o decorrer da partida e outro aspecto que também não mudou foi a incapacidade crónica do Benfica para segurar vantagens no marcador.
Aos 61’, depois de ter combinado com colegas até então, Rafa decidiu resolver os problemas por si próprio. Furou a defesa do Arsenal com a bola colada ao pé e rematou de fora da área para defesa de Leno.
Novamente capaz de colocar a bola em profundidade na perdida defesa “encarnada”, o Arsenal deixou Aubameyang na cara do golo aos 63’. Falhou o gabonês, uma vez mais.
Com um resultado que lhe interessava, o Arsenal começou a controlar a partida com bola, prolongando os ataques e arriscando menos no passe. O Benfica, menos capaz do que quando regressou do intervalo, foi perdendo gás com o passar dos minutos. A excepção foi um remate de Everton aos 73’, que saiu por cima.
Logo a seguir, Aubameyang foi lançado em profundidade, mas, isolado, demorou a finalizar. Demorou o suficiente para Lucas Veríssimo ser o “bombeiro” do Benfica e resolver o problema – e seria um problema sério sofrer mais um golo em Roma.
Depois destes dois raides, um de cada lado, o jogo regressou à toada tranquila, com o Arsenal a controlar a partida em posse. O Benfica, em clara quebra física, viu-se entre o risco que seria ir à procura do triunfo e a necessidade de o fazer por ter sofrido um golo em casa. Optou pela primeira via e a partida caminhou calmamente até ao final.