Cinco restaurantes amigos do Vinho Verde

Uma mão-cheia de moradas de bem comer onde o Vinho Verde é tratado com a atenção merecida. No Minho, mas também fora da região, para atestar que o verde concorda com as diversas cozinhas que cabem no território nacional.

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Na garrafeira do Via Graça, partilhada com o 9b, cabem tanto as referências clássicas como os produtores "de garagem".

Ferrugem: Raízes e criatividade

Muitos terão pensado que Renato Cunha estaria louco quando decidiu abrir um restaurante de referência na aldeia de Portela, nas proximidades de Vila Nova de Famalicão. Catorze anos depois, o Ferrugem apresenta-se, garbosamente, como um dos melhores restaurantes nacionais.

Embora Renato Cunha tenha actualmente uma forte preparação técnica das artes culinárias (é professor na Universidade Portucalense), a sua cozinha é um misto entre a criatividade, a escolha irrepreensível do produto e as tradições culturais portuguesas. “Uma cozinha depurada, manifestamente de raízes populares, descomplicada, mas muito séria”, conforme descrição sua.

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nelson garrido

O espaço amplo, antigo estábulo de uma casa agrícola transformado pelos arquitectos João Faria e Andrêa Pinto, é confortável e elegante em toda a sua rusticidade.

A ementa é muito contida, mas o grande sucesso acontece com os menus de degustação, três neste momento: o Ferrugem com seis momentos, o Recortes de Portugal com cinco e o Minho com quatro.

Nestes menus não existe lista e os clientes entregam-se nas mãos do chefe que, depois de uma curta conversa, percebe as suas preferências. Sempre presente está a sazonalidade e a autenticidade dos produtos.

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pedro couto

Cada um dos menus pode ser acompanhado com harmonização de vinhos, um para cada momento. O menu Minho é integralmente acompanhado com vinhos da Região dos Vinhos Verdes, de que o Ferrugem tem uma selecção criteriosa e muito gulosa.

A aposta em produtos regionais é tão levada a sério que Renato Cunha vai criar galinhas no espaço amplo de que a casa agrícola dispõe. Apenas 150 por ano, naturalmente de raça amarela, autóctone do Minho.

Ferrugem
Rua das Pedrinhas 32, Portela (Vila Nova de Famalicão)
Tel.: 252911700
Das 12h às 14h30 e das 20h às 22h30; encerra domingo ao jantar e à segunda
Preço médio: 60 euros

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Adega do Sossego: O Minho a seus pés

O rio Minho corre nas proximidades, e é das suas águas que saem algumas das mais apetecidas iguarias minhotas servidas na Adega do Sossego. A saber: lampreia, entre Janeiro e Maio, e sável na Primavera.

É notável o tratamento dado ao ciclóstomo, que pode ser apreciado em preparações várias, algumas raras e preciosas. É o caso da lampreia seca no fumeiro que, após demolhada, pode ser apreciada assada na brasa, panada com ovo ou cozida, recheada com presunto e salpicão. Também está disponível fresca, em preparações mais conhecidas como à bordalesa ou com arroz.

Na Primavera, o rio também oferece o sável que, depois de frito, nesta zona é acompanhado com uma iguaria muito própria, o arroz de debulho. A lista da Adega do Sossego não é longa, e para além das entradas (a cabeça de porco fumada é um must), há os bacalhaus e o arroz de cabidela de galo (por encomenda), bem como os grelhados na brasa.

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A garrafeira é notável, sendo que António Castro, o proprietário, é ele também um produtor de alvarinho, tranquilo e espumante, e ainda de tinto da casta vinhão.

Mas a referências estendem-se por mais de duas dezenas entre alvarinhos de Monção e Melgaço e ainda alguns albariños da vizinha Galiza.

Ao todo, a carta compõe-se mais de meia centena de referências de todo o país, incluindo uma dezena de espumantes da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, um dos mais completos conjuntos num restaurante deste tipo.

Adega do Sossego
Avenida do Peso, 1179, Peso (Melgaço)
Tel.: 251404308
Das 12h às 15h e das 19h às 22h. Encerra à quarta e domingo ao jantar.
Preço médio: 35 euros

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São Gião: O improvável acontece

Encontrar um restaurante de referência quase metido no estádio de futebol de uma pequena vila não será inédito, mas é seguramente uma raridade. Tal como o é o trabalho do chefe Pedro Nunes.

A sala do São Gião é bonita, espaçosa, confortável, com a solenidade das madeiras e da lareira no centro da sala a indicar-nos que se trata de um caso muito sério de bem receber. As janelas grandes são rasgadas sobre a mata e as vinhas, e dão à sala o encanto de uma luminosidade muito própria.

O São Gião guindou-se por mérito próprio a um patamar muito destacado, com Pedro Nunes a não ceder a facilitismos ao longo dos mais de 30 anos que leva de porta aberta. Os seus trunfos são a imaculada qualidade dos produtos, a manutenção de uma matriz muito portuguesa (com a utilização massiva do fogão e do forno a lenha) e criatividade sem cedências ao comodismo.

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diogo baptista (arquivo, 2015)

A ementa é extensa com variadíssimas entradas, seguindo-se mariscos e peixes ao sabor do que encontra na praça. A sopa de peixe é imperdível. Nas carnes, sempre a mesma alta qualidade, com os fins-de-semana a serem os momentos escolhidos para os chamados pratos de conforto, como os assados de vitela ou cabrito ou, ainda, especialíssimas tripas de uma textura e um sabor muito delicados.

Nas sobremesas, destaque para um delicioso pudim Abade de Priscos, mais uma homenagem à zona geográfica onde está inserido.

A garrafeira disponibiliza alguns topos de gama bem conhecidos da região.

São Gião
Avenida Comendador Joaquim de Almeida Freitas, 56, Moreira de Cónegos (Guimarães)
Tel.: 253561853
Das 12h30 às 23h00. Encerra domingo ao jantar e à segunda.
Preço médio: 55 euros

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Veneza: Um tesouro de garrafeira

O restaurante Veneza não fica num local badalado do Algarve nem tem uma ementa longa e grandiosa. Faz uma deliciosa cozinha do Barrocal, que complementa com fresquíssimos mariscos e com os doces típicos do sul de Portugal – não é, portanto, um restaurante de peixe.

Naquilo que o Veneza é imbatível é na extensa e valiosa garrafeira, uma das melhores do país, com centenas de referências, nacionais e não só.

Tudo começou há 73 anos com uma pequena taberna nas traseiras da casa do pai do actual proprietário. Em 1954 a taberna cresceu em tamanho e em oferta. Para além de vinho também vendia café, mercearia e materiais de construção, diz Manuel Janeiro.

Ainda muito novo, Manuel convenceu o pai a transformar a venda num salão de espectáculos e dancing, corria o ano de 1970. Foram feitas as obras e nasceu o Veneza, onde a decoração, para além do nome, evocava a cidade das gôndolas. Artistas e bandas de renome ali actuaram aos sábados e também muito se dançou. Em 1983, arrumaram o dancing e abriram o restaurante, com Manuel na sala e Maria José, sua mulher, na cozinha.

A garrafeira, com um acervo de mais de 30 mil garrafas, é procurada por produtores que esgotaram nas suas colecções determinadas colheitas e ali as vão encontrar.

Mesmo estando fora dos habituais circuitos turísticos, em tempos normais é conveniente fazer reserva de mesa. Quanto mais não seja, para poder provar a sopa montanheira, por si só, um monumento à cozinha regional.

Veneza
Mem Moniz, Paderne (Albufeira)
Tel.: 289367129
Das 12h às 15 e das 19h às 22h. Encerra quarta ao almoço e à terça.
Preço médio: 30 euros

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Via Graça/9B: O prazer da vista e da comida, vezes dois

É difícil definir se o Via Graça é, primeiro que tudo, um dos grandes restaurantes de Lisboa ou um dos mais bonitos miradouros da capital.

Quem conhecia as anteriores instalações vai encontrar uma grande diferença. O Via Graça dividiu-se: na “cave”, espaço antes usado em grupos, funciona o “velho” Via Graça, com a ementa clássica, enquanto no rés-do-chão surgiu o 9B by Via Graça, um restaurante fine-dining, mais virado para uma cozinha inovadora e de luxo com dois menus de degustação, o 9 + b, com nove momentos, e o 9 + 9, com 18 propostas. “O primeiro é influenciado pela região de Lisboa, só com peixes e mariscos, enquanto o segundo, além dos produtos do mar, também já tem algumas sugestões de carne”, diz o chefe responsável, Guilherme Spalk. O ainda jovem cozinheiro trabalhou antes com André Magalhães, que o classificou como nada menos do que “um dos mais talentosos da nova geração”.

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Paralelamente à excelência da comida, o Via Graça prima pela excepcional garrafeira, com referências fantásticas, para não dizer únicas. Da região dos Vinhos Verdes, para emparelhar com os pratos de marisco, estão presentes todos os principais produtores.

João Bandeira, o proprietário, refere-se à sua carta de vinhos como uma “uma viagem à mesa numa partilha de experiências entre o Velho e o Novo Mundo”, onde se pode provar, descobrir e apreciar desde as referências clássicas a produtores de “garagem”.

Via Graça / 9B by Via Graça
Rua Damasceno Monteiro, 9-B (Graça), Lisboa
Tel.: 218870830/218870305
Das 12h30h às 00h. Não encerra
Preço médio: 55/105 euros (Via Graça/9B)


Este artigo foi publicado no n.º1 da revista SingularDownload disponível aqui.

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