OMS: investigação sobre origem do coronavírus será “demorada”

O processo é “complexo”, diz, em entrevista ao PÚBLICO, o porta-voz da Organização Mundial da Saúde. “Teria sido difícil a missão [em Wuhan] acontecer mais cedo.”

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Wuhan, China Reuters/ALY SONG

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu esta segunda-feira que compreender a verdadeira origem do novo coronavírus e a forma como este foi capaz de gerar uma pandemia será um processo “complexo e demorado”.

Entender a origem deste tipo de eventos “é sempre” um processo que leva algum tempo, explica, por escrito, o porta-voz da OMS, ​Tarik Jasarevic, ao PÚBLICO. “Para a MERS, foi preciso um ano para fazer a ligação com os camelos dromedários. Para a SARS, em 2003, demorou alguns anos até que tivéssemos um bom entendimento da origem (o morcego) e do papel dos gatos civetas como hospedeiros intermediários”, exemplifica.

Na semana passada, a equipa de especialistas enviada pela OMS à China para tentar descobrir a origem do vírus regressou com algumas certezas e outras tantas dúvidas ainda por esclarecer. “Estima-se que o início da pandemia tenha ocorrido nos meses anteriores a Dezembro de 2019”, diz Jasarevic, embora sem circulação “substancial” do novo coronavírus. O especialista sublinha que a descoberta do vírus no mercado de mariscos e animais de Huanan, em Wuhan, foi um “grande evento sentinela”, que accionou o sistema de vigilância nacional, mas não é um “ponto de partida absoluto para a epidemia”.

“É por isso que temos de descobrir onde e quando ocorreu a primeira transmissão de animal para os humanos, tendo em consideração que podem ter ocorrido vários eventos de transferência e quebra da barreira das espécies. Geralmente é assim que os estudos que investigam as origens dos vírus começam e o mesmo foi feito no contexto do Ébola e da MERS”, diz o porta-voz da OMS.

Estar no país foi “essencial” não só para que a equipa de peritos internacionais dialogasse com os colegas chineses que acompanharam os primeiros casos de perto, mas também para visitar locais importantes (como mercados e hospitais), ver que dados estavam disponíveis e sugerir mais estudos. 

Questionado sobre se o tempo que a viagem demorou a ser autorizada pode ter dificultado a investigação e a recolha de dados, Jasarevic afirma que se a missão tivesse ocorrido mais cedo “não existiria a mesma quantidade de material” para ser analisado. Porém, reconhece que, nesta fase, foi mais difícil detectar anticorpos nos primeiros doentes, já que estes desaparecem com o tempo. “É por isso que encorajamos que alguns estudos sejam realizados o mais rápido possível pelas autoridades nacionais”, aponta.

“Teria sido difícil a missão acontecer mais cedo”, acrescenta. “Na verdade, teria sido impossível estar em Wuhan no ano passado porque a cidade esteve em confinamento durante vários meses. Só durante o Verão é que foram feitos os planos com os nossos colegas chineses e com a comunidade internacional para formar a equipa internacional de especialistas e organizar a missão que acabámos de cumprir.”

A equipa, formada por especialistas de dez países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Rússia, divulgará um relatório preliminar da visita na próxima semana, que será actualizado nos meses seguintes com a colaboração dos cientistas chineses.

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