Vieira da Silva: “Todos têm de pensar bem muito bem nas consequências de uma crise política”

Em entrevista ao Diário de Notícias/rádio TSF, Vieira da Silva comentou o futuro da liderança do PS, vincando que “certas longas preparações para a liderança, por vezes, são muito bem-sucedidas, outras vezes não são”, distinguido as rupturas “tratáveis” de fracturas “muito complexas”.

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Vieira da Silva foi ministro do Trabalho e da Segurança Social daniel rocha

Para o ex-ministro do Trabalho e da Segurança Social, José António Vieira da Silva, a ameaça de uma crise política depois deste Verão é uma possibilidade, mas os responsáveis pagarão “um preço muito caro por isso”. Em entrevista ao Diário de Notícias/rádio TSF, Vieira da Silva sublinha que é um momento complicado e que “todos têm de pensar bem muito bem nas consequências [de uma crise política]”, dando o exemplo da crise política italiana, que “está a produzir uma espécie de terramoto no sistema partidário italiano”. O ex-ministro falou também da evolução da taxa de desemprego, das previsões económicas em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do futuro da liderança do PS, destacando que António Costa “não está a pensar reformar-se”.

O ex-governante e actual conselheiro da Comissão Europeia diz-se “profundamente convicto que seria muito mau” o país entrar numa crise política durante ou até mesmo num pós-pandemia. “Creio que é altura para todos terem a consciência de que uma crise política não é vantajosa”, assinalou. Apesar de uma crise política numa fase pós-pandémica ser menos “dramática”, esta “não será menos exigente do ponto de vista dos recursos que têm de ser mobilizados”, avisa Vieira da Silva. Por isso, “quem tiver a responsabilidade de uma crise política pagará um preço muito caro por isso”. “É a minha convicção”, conclui.

"Certas longas preparações de liderança não são bem sucedidas"

Vieira da Silva desvaloriza a divisão socialista em torno dos candidatos apoiados nas eleições presidenciais e insiste que António Costa disse “claramente que não está a pensar reformar-se”. Sobre o futuro da liderança do PS, o ex-ministro de Costa argumenta que o seu partido “é um partido muito aberto, é um partido muito plural e dá-nos muitas lições de que certas longas preparações para a liderança, por vezes, são muito bem-sucedidas, outras vezes não são”.

“As rupturas que pode haver, aqui ou acolá não são rupturas que levam a fracturas. Uma ruptura trata-se com alguma facilidade. Uma fractura é mais complexa. E, às vezes, leva tempo a cicatrizar. E o PS já teve essa experiência. E, portanto, o PS é o partido com maior equilíbrio, do ponto de vista territorial. O PS é sempre um grande partido, em qualquer zona do país”, diz.

Adiar as autárquicas? Devemos aprender com as presidenciais

Sobre o possível adiamento das eleições autárquicas, o ex-ministro defende que se devem ouvir os especialistas “aprender com as lições das presidenciais”, uma vez que “podíamos ter feito melhor”, ainda que a resposta de mobilização dos portugueses “nos deve honrar”.

Vieira da Silva afirma-se ainda surpreendido pela evolução da taxa de desemprego (6,8%) em 2020 perante a crise pandémica, mas destaca que haverá mais pessoas em inactividade que não contam para o cálculo da taxa. Sem arriscar pronunciar-se sobre como os sectores poderão continuar a reagir, Vieira da Silva sublinha o peso do Turismo na economia (15%), mas defende a importância de um país “aberto” para a cultura e economia. “É muito importante que haja o turismo, mas é muito importante que haja mais coisas para além do turismo, porque se uma economia está muito concentrada nalguns sectores, se esses sectores afundam ela afunda. Se uma economia é diversificada há sempre ritmos diferentes de resposta”, considera.

Sobre a Europa, o ex-governante elogia ainda a forma como as assimetrias “foram contrariadas” com “o passo notável que foi dado, perceber que nunca poderíamos sair desta crise sem a Europa se endividar”. “Esse é um salto absolutamente gigantesco na história da Europa, da União Europeia”, disse. Acerca do destino da “bazuca” europeia, os fundos de recuperação que serão distribuídos pelos Estados-membros, Vieira da Silva admite que há o risco de “utilizações indevidas”, mas acrescenta que a União Europeia “tem um conjunto de instrumentos de controlo de usos indevidos que é extremamente poderoso”. “No passado não tenho dúvidas em dizer que fizemos investimentos em sectores que não provaram ter capacidade de resistência e de desenvolvimento”, reconhece. “Se a bazuca funcionar, a economia portuguesa vai reagir rapidamente”, diz. 

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