Pandemia tira lucros à Caixa e reduz dividendos ao Estado

O resultado líquido do banco público ficou-se, em 2020, pelos 492 milhões de euros, uma quebra de 37% explicada pelo impacto da crise económica. Dividendos ao Estado caem para 85 milhões.

Foto
Nuno Ferreira Monteiro

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou uma queda de 37% do lucro líquido em 2020, explicado pelo “reforço preventivo de imparidades e provisões no montante de 309 milhões de euros”, na sequência dos impactos económicos das medidas para conter a covid-19, com a gestão de Paulo Macedo a antecipar uma degradação da carteira de crédito na sequência da crise económica em curso.

Segundo explica o banco público, este resultado beneficiou “de um resultado extraordinário de 51 milhões de euros decorrentes de ganhos actuariais nas responsabilidades com benefícios pós-emprego (fundo de pensões e plano médico)”. Sem este impulso, e sem o impacto do fecho da sucursal em Espanha, os lucros teriam ficado nos 450 milhões, menos 29%. 

O fecho do ano na instituição liderada por Paulo Macedo dá também conta do falhanço de uma das metas definidas pelas autoridades europeias no plano de reestruturação de cinco mil milhões de euros, que permitiu equilibrar o banco e que chega agora ao fim. Segundo revela a CGD, o rácio que avalia a rentabilidade dos capitais próprios - a medida que traduz a capacidade de a sua operação gerar proveitos - foi de 6,1%, com efeitos extraordinários, e de 5,6% sem esses impactos não recorrentes.

Estes valores ficam muito aquém da meta de 9% definida pela Direcção Geral de Concorrência da União Europeia, para autorizar as ajudas públicas, um pacote de apoios que permitiu sanear o banco público. 

Como contexto, a CGD explica que o último ano do Plano Estratégico “foi fortemente marcado pelo impacto da crise pandémica, com reflexos substanciais na rentabilidade do sector bancário em toda a Europa”, tendo a CGD cumprido “a generalidade dos compromissos assumidos no referido Plano e atingido uma rentabilidade superior à média da banca europeia”. 

A rentabilidade do banco foi, em especial, “afectada pelo reforço preventivo de provisões e imparidade para “fazer face aos impactos expectáveis decorrentes da crise pandémica”. Neste aspecto, o banco destaca que “os resultados operacionais registaram uma redução de 41,6% face ao ano de 2019, tendo sido impactados pelo reforço de provisões para garantias bancárias em 37,9 milhões de euros, um aumento de 47,8 milhões de euros face a 2019”. A este impacto, acresce que “o reforço de imparidade de crédito líquida de recuperações ascendeu a 166,2 milhões de euros, o que representa uma variação positiva de 213,8 milhões de euros face ao mesmo período do ano anterior, reflectindo assim uma atitude de prudência face à eventual degradação da carteira de crédito”. 

No reforço “preventivo” de imparidades estarão certamente o volume de moratórias de crédito concedidas, que a 31 de Janeiro de 2021, ascendia a cerca de sete mil milhões de euros, cerca de 13,7% da carteira de crédito da instituição. Os mais de 78 mil contratos sob moratórias representavam 10,7% da carteira de crédito total dos particulares e a 21,1% das empresas. 

No que diz respeito à solidez, uma das metas que o banco superou confortavelmente, “os rácios de capital atingiram 18,3% no capital core (CET1) e 20,9% no capital total”, um desempenho que supera os 14% definidos como objectivo. Assim, continua o banco “seguindo a recomendação do BCE, irá ser proposta à Assembleia Geral a distribuição de dividendos referentes a 2020 num valor correspondente a 20 pontos base do rácio CET1, o que equivale acerca de 85 milhões de euros”.

Este valor dos dividendos está aquém dos 159,6 milhões de euros previstos no Orçamento do Estado para 2021 e dos 158 milhões de 2019 (em 2020, o BCE recomendou aos bancos que não entregassem qualquer dividendo perante a crise económica em curso). 

A actividade central do banco saldou-se por um recuo generalizado, tanto no “resultado bruto de exploração que se reduziu 128,3 milhões de euros (-14,0%) face ao nível verificado em Dezembro de 2019”, como, mais revelador, na “margem financeira [que] diminuiu 106,3 milhões de euros (-9,4%) face ao mesmo período do ano anterior, impactada pelos níveis historicamente baixos das taxas de juro e pela amortização antecipada de crédito a entidades públicas que se verificou em Junho e Dezembro de 2019”. 

As comissões estabilizaram face ao ano anterior nos 497 milhões de euros, com as comissões dos serviços bancários em Portugal a recuar ligeiramente. 

Em termos de custos, “regista-se uma descida de 6,1% nos custos com pessoal. Por seu turno, os gastos gerais administrativos diminuíram 38,9 milhões de euros (-14,1%)”, diz o comunicado. 

Já “a carteira de crédito a clientes totalizou 50.149 milhões de euros, o que correspondeu a um ligeiro aumento face ao ano anterior”. Sobre este aspecto, a Caixa explica que “a conjuntura adversa que se faz sentir desde o final do primeiro trimestre do ano fez com que se verificassem períodos em que o ritmo de crescimento da nova produção de crédito registasse um abrandamento significativo”. Ainda assim, sublinha “a dinâmica de evolução muito significativa registada no último trimestre do ano, permitindo atingir, para o conjunto de 2020 um total de 20.809 novas operações de crédito habitação contratadas na CGD Portugal, no valor total de 2.320 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 248 milhões de euros no valor contratado (+12,0%) face ao período homólogo”.

Os depósitos “aumentaram 6208 milhões de euros (+9,4%) quando comparados com o ano de 2019, evolução totalmente justificada pela captação na CGD Portugal”.

Por outro lado, no final de 2020, em Portugal, a CGD contava com 543 “agências, espaços Caixa e gabinetes de empresas”, menos oito que os 551 com que contava em 31 de Dezembro de 2019, ao passo que o número de trabalhadores na “actividade bancária e financeira doméstica” reduziu-se dos 7100 no final de 2019 para os 6583 no final de 2020.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários