Covid-19: cientistas defendem prioridade da vacinação a “superdisseminadores”
O estudo da Universidade de Aveiro revela que o ideal para diminuir o número de mortes seria vacinar primeiro os “super disseminadores”, ou seja, pessoas que têm contacto directo com um grande número de pessoas.
Investigadores da Universidade de Aveiro (UA) defendem que devem ser vacinados primeiro os “superdisseminadores”, para limitar a propagação da covid-19 e diminuir o número de mortes, segundo um estudo divulgado esta quinta-feira.
São considerados “super disseminadores” pessoas que têm um poder de disseminação do coronavírus até 10 vezes mais do que a média para a mesma faixa etária. Segundo os cientistas, “o grosso dos super disseminadores” encontra-se na faixa entre os 30 e os 39 anos, que corresponde a cerca de 2,5% da população portuguesa.
De acordo com as conclusões a que chegaram os investigadores da UA, a vacinação de “superdisseminadores” “limita muito mais a propagação do coronavírus e pode diminuir o número global de mortes do que a estratégia que está a ser seguida pelos países da União Europeia (...), de vacinar primeiros os idosos e sucessivamente os grupos etários de idades inferiores.
Os profissionais de saúde, professores de todos os níveis de ensino, trabalhadores de transportes públicos, trabalhadores de supermercados e outros que lidam directamente com um grande número de pessoas são exemplos de possíveis “superdisseminadores”, de acordo com José Fernando Mendes, que lidera a investigação.
“Concluímos que dar maior atenção e mesmo vacinar primeiro os “superdisseminadores” torna o protocolo de vacinação mais eficiente e permite salvar muitas mais vidas”, garante José Fernando Mendes, investigador do Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação (I3N) e do Departamento de Física da UA.
Através de um modelo epidemiológico, José Fernando Mendes e os seus colaboradores mostram que se o país vacinar 20% da população da faixa etária situada entre os 30 e os 39 anos, com uma eficácia da vacina de 70 a 95%, o país teria menos duas a três mil mortes, num contexto pandémico semelhante ao de Janeiro.
O estudo prevê também que, no melhor dos cenários, no final do ano atingir-se-á um número total de mortes a rondar os 21.000. No trabalho, a equipa de cientistas mostra que a escolha criteriosa de quem vai compor o primeiro grupo a ser vacinado “pode impactar significativamente tanto no número total de óbitos quanto na procura por cuidados de saúde”.