Cristas mostra-se indisponível para ser candidata em Lisboa e critica líder do CDS
Ex-líder do CDS deixa críticas à forma como Francisco Rodrigues dos Santos está a conduzir o processo autárquico. Direcção agradece “papel no passado autárquico” do partido
A ex-líder do CDS, Assunção Cristas, declarou não estar disponível para uma nova candidatura à Câmara Municipal de Lisboa por considerar que não “estão reunidas as condições de confiança necessárias para ponderar” essa hipótese, apesar de ter o “apoio” das estruturas locais. A posição foi anunciada nas redes sociais e inclui críticas à forma como Francisco Rodrigues dos Santos tem trabalhado o processo autárquico em Lisboa. Ao final da tarde desta quarta-feira, a direcção do CDS reagiu em comunicado em que expressa respeito pela decisão, agradece o papel de Assunção Cristas pelo seu “papel no passado autárquico do partido” e aponta como objectivo a "criação de condições favoráveis a uma maioria de centro direita nas eleições legislativas de 2023”.
Na declaração escrita, Assunção Cristas apontou “três razões essenciais” que pesaram na sua decisão. “A discordância da estratégia do CDS na negociação de uma coligação alargada com o PSD; o discurso contraditório da direcção do CDS, que me considera simultaneamente responsável pela degradação do partido no último ano e uma boa candidata a Lisboa, somado ao parco interesse em falar comigo, num tempo e numa forma que fica aquém do que a cortesia institucional estima como apropriado”, escreveu, acrescentando que também influenciaram na reflexão os “desafios profissionais” que tem pela frente.
A vereadora em Lisboa, eleita em 2017 com um dos melhores resultados de sempre do CDS na capital, informou que, perante a insistência dos jornalistas em saber da sua disponibilidade, optou por manter “a ambiguidade, de forma a em nada comprometer qualquer decisão e a manter um espaço vital para a negociação e a afirmação do CDS”.
Assunção Cristas defendeu que seria vantajosa uma “grande coligação” que junte PSD, CDS, “os partidos do espaço político da direita democrática que o desejem” e que “tenha uma forte presença de independentes”.
A ex-líder dos centristas considerou que, tendo em conta o relacionamento histórico entre PSD e CDS, deve ser o seu partido a indicar o cabeça de lista nessa coligação e a construir um programa em torno dessa candidatura, coisa que na sua perspectiva parece não estar a acontecer. “Entendo que é dever do presidente do CDS trabalhar no sentido de construir essa coligação a par de um método para em conjunto ser desenhado um programa sólido e ambicioso. Até agora, isso não transpareceu. Penso, contudo, que vai a tempo de encontrar um bom nome, da área do CDS, para encabeçar uma coligação ganhadora”, escreveu.
Assegurando que terminará o mandato autárquico, Assunção Cristas adiantou que será tempo de se “focar plenamente” na sua actividade profissional. Quanto ao seu futuro político, deixa uma frase enigmática: “Se muito há para fazer em Lisboa, também há mais marés que marinheiros”.
Foi primeira vez que Assunção Cristas faz críticas em público à actual direcção desde que deixou a liderança do partido há pouco mais de um ano. Em comunicado, assinado pela porta-voz do CDS Cecília Anacoreta Correia, a direcção regista que “tomou conhecimento, através de uma rede social, da indisponibilidade de Assunção Cristas para participar nas eleições autárquicas de 2021”. “Respeitamos a legítima opção de Assunção Cristas querer dedicar-se apenas à sua vida familiar e profissional. E expressamos um agradecimento a Assunção Cristas pelo seu papel no passado autárquico do partido”, refere. A mesma nota adianta que o partido está empenhado em “trabalhar no desenvolvimento da estratégia nacional para as próximas eleições autárquicas, que se norteia pelo crescimento da implantação autárquica do CDS”, pela “derrota do PS nas próximas eleições autárquicas" e pela “criação de condições favoráveis a uma maioria de centro direita nas eleições legislativas de 2023”.