Covid 19: na produção de vacinas, a indústria precisa de se adaptar ao ritmo da ciência, diz Von der Leyen
Presidente da Comissão Europeia admite que foram subestimadas as dificuldades da produção em massa de vacinas.
No seu primeiro debate no Parlamento Europeu depois de sanado o conflito entre a Comissão Europeia e a farmacêutica AstraZeneca por causa da redução em cerca de 60% da distribuição de vacinas contra a covid-19 previstas para o primeiro trimestre, a presidente do executivo comunitário admitiu que houve “demasiado optimismo” quanto à capacidade de produção em massa e um “excesso de confiança” de que as doses encomendadas pela União Europeia seriam entregues a tempo.
A escassez de doses no mercado, e a lentidão das campanhas de vacinação nos 27 Estados-membros, por comparação com outros países ocidentais, está a gerar angústia e ansiedade na população europeia, reconheceu Ursula von der Leyen, esta quarta-feira. “Estivemos demasiado concentrados no desenvolvimento da vacina e subestimámos as dificuldades relacionadas com a produção em massa. De certa forma, a ciência ultrapassou a indústria”, acrescentou.
Mas, para a presidente da Comissão, os percalços iniciais na produção não significam que a estratégia seguida pela UE para garantir o abastecimento de todos os Estados-membros tenha sido errada. “As decisões que tomámos, colectivamente, foram as mais correctas”, defendeu a presidente da Comissão, que se viu respaldada pela secretária de estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, em nome do Conselho da UE, e também pelos líderes dos maiores grupos políticos do Parlamento Europeu.
“O que teria acontecido se apenas um número reduzido de países ricos tivesse arrebatado as vacinas, deixando os restantes de mãos a abanar? O que teria isso significado para o nosso mercado interno? Em termos económicos, não faria o menor sentido. Teria sido o fim da nossa União”, considerou Ursula Von der Leyen, que só ouviu críticas à abordagem europeia da parte dos membros das bancadas de extrema-direita e extrema-esquerda.
A presidente da Comissão veio armada de números para mostrar que a campanha de vacinação “está a ganhar velocidade” e que, apesar de neste momento a disponibilidade de vacinas ainda ser limitada, não existem razões para rever a meta de ter 70% da população adulta imunizada no final do Verão.
“Na Polónia, desde o início de Fevereiro, 90% do pessoal médico e 80% dos residentes de lares de idosos foram vacinados. Na Dinamarca, foram 93%. E em Itália, mais de 4% da população já foi inoculada contra o novo coronavírus”, informou. “Desde Dezembro, 26 milhões de doses foram distribuídas na UE e mais de 17 milhões de pessoas foram vacinadas. É um facto que no nosso combate contra o vírus ainda não estamos onde desejaríamos. Mas estamos a fazer todos os esforços possíveis para cumprir os nossos objectivos”, prometeu.
Em nome da presidência portuguesa do Conselho da UE, Ana Paula Zacarias reforçou que “as notícias dos problemas no abastecimento de vacinas são uma fonte de preocupação que obrigam a UE a reagir em tempo real”. A secretária de Estado manifestou o apoio dos Estados-membros ao novo mecanismo de autorização de exportações de vacinas que foi lançado pelo executivo, para assegurar a transparência do mercado e o cumprimento dos contratos europeus.
“Temos que nos certificar que as empresas respeitam os compromissos assumidos nos contratos. Os Estados-membros precisam de saber quantas vacinas vão estar disponíveis, e em que data, para poderem fazer o seu planeamento. Estes dados são cruciais”, sublinhou.
Os eurodeputados criticaram a falta de transparência dos contratos de aquisição prévia assinados pela Comissão Europeia com as multinacionais farmacêuticas, e voltaram a levantar a possibilidade de serem invocadas as disposições dos tratados para reclamar os direitos de propriedade intelectuais e industriais das vacinas, para poder ser acelerada a produção de doses.
Von der Leyen disse que era “impossível” estabelecer uma fábrica de vacinas “da noite para o dia” e vincou que o processo “complexo” de produção envolve mais de uma centena de empresas e cerca de 400 ingredientes. A presidente da Comissão lembrou ainda que foi criada uma “task force”, sob a autoridade do comissário europeu com a pasta do Mercado Interno, para trabalhar com a indústria “com o objectivo de identificar os problemas e encontrar as soluções que permitam acelerar a produção”. “Compreendemos que haja problemas nas cadeias produtivas. Mas a indústria tem que se adaptar ao ritmo da ciência”, insistiu.