Música
Um Blues da madrugada como antídoto para os discursos da extrema-direita
Terceiro single e videoclipe lançado a partir do álbum Pássaro Palavra, que a cantora algarvia Susana Travassos gravou em Buenos Aires e lançou em 2019, a canção Blues da madrugada tem letra da escritora e produtora Ana Terra e música da cantor e compositor Fred Martins, ambos brasileiros. Esteve para ser lançada em 2020, mas foi adiada devido à pandemia. Susana decidiu lançá-la agora, porque tanto ele como Ana Terra acharam-na adequada ao momento: “Os olhos que derramam água/ As bocas que só podem pão/ Ao lado a minha dor é nada/ É na muralha um desvão// Talvez por ser poeta ou só um cidadão/ os tiros da ganância e da usura/ Me fazem um mal que não vai ter cura/ E atingem sempre o coração.” Susana explica ao PÚBLICO:
“Fiquei com vontade de lançar este tema depois das eleições, pelas barbaridades que ouvi dessa extrema-direita que está a crescer em Portugal. Quando a Ana Terra escreveu esse tema, creio que em 2016, isso começava a acontecer no Brasil. Surpreendentemente, até pessoas que não esperávamos começaram a tomar partido por esse populismo muito perigoso. Nessa altura, em Portugal, sentíamos que isso estava longe de acontecer. Mas agora, esta situação que vivemos, social e economicamente muito frágil, também abre caminho a esse tipo de discursos comece a ganhar espaço. Eu tinha este vídeo guardado, para lançar em 2020, mas pensei que agora era o momento certo, porque a canção fala sobre essa situação de fragilidade social.”
A pedido de Susana, Ana Terra escreveu agora um pequeno texto que corrobora o espírito das suas declarações: “Blues da Madrugada foi composta durante uma noite em que conversava à distância com meu amigo e parceiro Fred Martins. Eu no Rio de Janeiro e ele em Lisboa. Falávamos de política. Da violência contra os protestos de rua no Brasil na época e da violência do sistema capitalista e sua democracia liberal. Quando desliguei escrevi essa letra e mandei. Na mesma madrugada ele musicou e me enviou. A tristeza é saber que depois de anos o tema continua atual com a ascensão da extrema-direita em nossos países amados, Brasil e Portugal. Esse tiro simbólico continua atingindo os corações dos que não se conformam.”
Além de Susana Travassos (voz), participam nesta gravação os músicos Nacho Amil (piano), Gonzalo Fuertes (contrabaixo), Paula Pomeraniec (violoncelo), Guillermo Rubino (violino), Mariano Malamud (viola) e Santiago Arias (bandoneon). O arranjo é de Alan Plachta e o videoclipe foi produzido por Agustina Paiz e realizado por Natalio Pagés, com assistência de Francisco Novick. A edição é de Antonella Casanova.