“Não teremos um Verão normal”, diz coordenador do plano de vacinação contra covid-19
Portugal terá capacidade para administrar 150 mil vacinas por dia. Actualmente, o ritmo de vacinação ronda as “22 mil vacinas por dia”.
Portugal terá uma capacidade para administrar entre 100 mil e 150 mil vacinas por dia e duplicar esse número aos fins-de-semana, anunciou esta terça-feira o novo coordenador do plano de vacinação contra a covid-19.
“O país tem capacidade para um ritmo muito elevado de vacinação, e vamos fazê-lo, assim haja vacinas para isso”, afirmou esta terça-feira Henrique Gouveia e Melo, estimando que o país, usando a capacidade máxima, consiga administrar “entre as 100 mil e as 150 mil vacinas por dia, em períodos normais e nos fins-de-semana duplicar isso”.
Numa altura em que o ritmo de vacinação ronda as “22 mil vacinas por dia”, o responsável pelo plano prevê que, no segundo trimestre do ano, “se vierem as vacinas que estão contratadas e que se pensa que virão, o ritmo aumentará para cerca de 80 a 81 mil vacinas por dia”.
Em entrevista à TVI, Gouveia e Melo afirmou ainda que Portugal conta actualmente com 910 postos de vacinação prontos a actuar, nos centros de saúde, número que poderá ser alargado para 1200 postos.
Trata-se, segundo o coordenador do plano de vacinação, que sucedeu a Francisco Ramos no cargo, de “uma malha que atinge de forma muito capilar a população portuguesa, está espalhada no território nacional” e “pronta para trabalhar”.
Com o aumento do número de vacinas, no segundo trimestre do ano, admite a necessidade de encontrar “soluções” como “postos de vacinação maciça, alargar os períodos aos fins-de-semana ou usar outros agentes que possam vacinar, tais como, por exemplo, as farmácias”.
O vice-almirante, que quer chegar ao período de maior capacidade de vacinação “sem improvisações”, assegurou ainda que a “task force” da vacinação continuará a “fechar a norma” para impedir mais casos de vacinação abusiva.
“Em cada mil vacinas que foram administradas, houve uma que não temos a certeza se cumpriu com as regras”, afirmou, sublinhando que “é preciso ter ideia desta proporção”.
Em Portugal já foram recebidas 503 mil vacinas, 43 mil das quais foram para a Madeira e para os Açores e 460 mil ficaram no continente. Destas 460 mil, já foram administradas 400 mil vacinas, estando em reserva 60 mil.
“Não teremos um Verão normal”
O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo admitiu ainda, durante a entrevista, que há escassez de vacinas e, por isso, a primeira fase de vacinação só vai estar concluída no início de Abril, o que não permitirá que tenhamos um “Verão normal”.
“Eu julgo que não teremos um Verão normal porque o processo de vacinação ainda não estará na fase em que há imunidade de grupo antes de começar o Verão, de acordo com os especialistas, e só atingirá essa fase, em princípio, praticamente no fim do Verão. Portanto, sem imunidade de grupo o Verão não deve ser normal, deve ser com todos os cuidados que temos mantido até agora. Um bocadinho mais tranquilo, mas sempre com todos os cuidados”, afirmou.
A “expectativa” é que tenhamos “a população praticamente toda vacinada” no Natal, disse, se as vacinas encomendadas chegarem nas quantidades previstas e “não houver mais atrasos”.
Grupos prioritários não serão alterados devido à escassez de vacinas
Apesar dos atrasos no fornecimento de vacinas, os grupos prioritários previstos no plano de vacinação contra a covid-19 não serão alterados, garantiu o novo coordenador da “task force”. “Não faria sentido mudar as prioridades porque não há vacinas”, disse Henrique Gouveia e Melo, lembrando que a forma como as pessoas foram priorizadas para serem vacinadas “tem muito a ver com os riscos e patologias”.
Gouveia e Melo mostrou-se desfavorável a que a estratificação passe a ser feita por idades, alegando estudos que defendem que “atacar as co-morbilidades salva mais pessoas do que atacar por faixas etárias decrescentes”.
O mesmo responsável admitiu ainda que, a manter-se um cenário de escassez de vacinas, a produzida pela AstraZeneca possa ser administrada a pessoas com mais de 65 anos. “Tudo indica que a vacina tem qualidade, não há duvidas sobre a qualidade da vacina”, afirmou, explicando que a dúvida sobre a sua administração a pessoas com mais de 65 anos tem por base o facto de, nos ensaios, não ter havido pessoas desta faixa etária “suficientes para se considerar que ela era válida para esse grupo”.
Questionado sobre um possível alargamento do prazo para a toma da segunda dose da vacina, o vice-almirante afirmou ser “uma solução possível”, aludindo a estudos que indicam que tal não se traduz em efeitos negativos no que toca a “gerar anticorpos”. “Ainda estamos num terreno de alguma indecisão, mas de futuro pode ser um caminho”, concluiu o mesmo responsável.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.325.744 mortos no mundo, resultantes de mais de 106,4 milhões de casos de infecção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 14.557 pessoas dos 770.502 casos de infecção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direcção-Geral da Saúde.