Autoridades chinesas baniram a rede social Clubhouse

Espaço de relativa liberdade, cujos fóruns se abriam a discussões sobre temas sensíveis, como a perseguição dos uigures ou a questão de Taiwan, veio confirmar que era apenas uma questão de tempo até sentir o peso do controlo do Governo.

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FLORENCE LO/Reuters

A rede social Clubhouse, que foi um espaço de liberdade de debate na controlada internet da China durante quase um ano, deixou de estar acessível para os chineses desde a noite de segunda-feira. A plataforma onde se discutiam temas políticas sensíveis, como a perseguição da minoria muçulmana uigur ou os protestos pró-democracia em Hong Kong, acabou agora por ver o seu acesso proibido pelas autoridades.

Os chineses passaram a ter de se ligar a uma rede VPN para aceder à Clubhouse, visto que ao abrirem a página principal da aplicação lhes aparece agora a mensagem que “ocorreu um erro de SSL e uma conexão de segurança com o servidor não pode ser feita”, de acordo com o jornal South China Morning Post (SCMP).

Só disponível para iPhone, desde Setembro que a aplicação já não estava disponível na App Store chinesa. No entanto, os utilizadores contornavam os bloqueios implementados pelo governo chinês por meio de Apple-ID internacionais. Se inicialmente a rede social era utilizada sobretudo por políticos, empresários e celebridades, a adesão de Elon Musk no final de Janeiro desencadeou o interesse da população chinesa.

De forma paralela, o aumento da popularidade da plataforma também incrementou a crítica por parte do governo chinês. E agora aconteceu o que já era esperado. “Era só uma questão de tempo”, disse Alex Su, editora de uma empresa tecnológica em Pequim, ao New York Times, referindo-se à intrusão do poder estatal na liberdade de expressão.

A Clubhouse foi criada em Março do ano passado por dois empresários de Silicon Valley. Assente numa arquitectura de fóruns de discussão, a comunicação nesta plataforma ocorre via chat e áudio, onde os utilizadores são convidados por outros para poderem participar numa determinada conversa.

Afastados do controlo estatal, os chineses viram na Clubhouse uma possibilidade para se expressarem mais abertamente sobre diversas temáticas que os outros meios de comunicação impossibilitavam. Durante um curto espaço de tempo, os utilizadores aproveitaram a ausência de restrições para partilhar histórias pessoais, abordando as discriminações enquanto integrantes da minoria uigur, a título de exemplo, ou a independência de Taiwan, como refere o jornal Taiwan Times.

“Existem campos de concentração em Xinjiang?” é um título de uma conversa complementar que passou pela rede social no dia seis deste mês, dando voz a uma das problemáticas mais sensíveis da China nos tempos actuais. Num outro fórum foi concebido um momento de silêncio em honra e luto pelo médico Li Wenliang, o qual foi reprimido por ter alertado para o coronavírus em Wuhan. Li faleceu no dia 7 de Fevereiro de 2020.

Devido às diversas opiniões que foram partilhadas, a segurança dos utilizadores está a ser posta em causa. Isto porque por detrás desta rede social se encontra uma tecnologia chinesa designada por Agora, a qual pode potenciar o reconhecimento de voz e, consequentemente, a identificação dos respectivos utilizadores.

A Agora, fundada em 2014 por Tony Wang e Tony Zhao, é responsável por um software que influencia as transferências em tempo real de dados, o que impulsiona e melhora as redes sociais como a Clubhouse. De acordo com o South China Morning Post, as práticas de protecção de dados desta empresa começaram a ser questionadas a partir do momento em que os cibernautas se aperceberam de que as leis chinesas permitem que as autoridades peçam os dados armazenados em investigações governamentais em prol da segurança nacional.

 “A Agora é apenas uma ‘passagem’”, referiu Tony Whang ao South China Morning Post. “Não armazenamos dados do utilizador final”, explicou. Porém, mesmo se a Agora não for o cerne do problema, a aplicação desta tecnologia na Clubhouse pode vir a sê-lo. Como a plataforma requer números de telemóvel reais, os utilizadores acabam por revelar a sua identidade. Uma possível gravação do áudio pela aplicação pode levar, assim, à identificação dos utilizadores, conforme diz o Die Zeit.

Diversas outras plataformas já foram banidas na China, tais como o Facebook, o Instagram ou o Google. Enquanto redes como o Weibo e o WeChat funcionam sob forte censura.

Texto editado por António Rodrigues

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