Netanyahu declara-se inocente e pede adiamento do processo até depois das eleições
Audiência em tribunal ocorre na semana seguinte ao tiro de partida da campanha eleitoral.
Sem surpresas, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou-se esta segunda-feira inocente no processo em que é acusado por corrupção.
“Confirmo a resposta escrita submetida em meu nome”, disse simplesmente Netanyahu perante três juízes na audiência de um Tribunal de Jerusalém. Cerca de 20 minutos depois, conta o site do diário Yediot Ahronot, saiu sem explicações, em mais um passo de um processo inédito na história do país, já que é a primeira vez que um primeiro-ministro em exercício responde por acusações de corrupção em tribunal (o anterior chefe de Governo acusado, Ehud Olmert, demitiu-se para responder às acusações e foi condenado). Netanyahu mantém que é inocente e sempre recusou demitir-se.
O caso é ainda mais invulgar quando se junta a pandemia de covid-19 e as restrições ainda em vigor (Israel está a debater o relaxamento das medidas do terceiro confinamento nacional) e o facto de estarem próximas eleições de 23 de Março: na semana passada, com a entrega das listas, foram definidas as alianças e assim foi dado o tiro de partida para a campanha.
Os advogados de Netanyahu pediram o adiamento da fase seguinte, quando o tribunal deverá ouvir as testemunhas. A juíza presidente, Rivka Friedman-Feldman, disse que o tribunal irá “considerar tudo” antes de tomar a decisão – apontando, no entanto, que o processo já foi várias vezes adiado por causa das restrições da covid-19 (Friedman-Feldman acabou, ela própria, de recuperar de covid-19).
Netanyahu é acusado em três casos. Num deles, por corrupção, fraude e abuso de confiança por favorecimento a um grupo de telecomunicações detentor de um site que lhe terá dado cobertura noticiosa favorável (o antigo empresário da empresa Bezeq e do site Walla é também acusado).
No segundo, é acusado de fraude e abuso de confiança: terá aceitado presentes de empresários em troca de favores políticos.
No terceiro, é acusado de novo por fraude e abuso de confiança, por suspeita de ter prejudicado a concorrência de um jornal que lhe deu boa cobertura noticiosa, o diário de grande circulação Yediot Ahronot, cujo publisher é também acusado.
Apesar dos apelos para que não houvesse ajuntamentos à porta do tribunal, alguns manifestantes juntaram-se para pedir a demissão de Netanyahu. O país tem visto protestos regulares contra o “crime-minister”, como chamam ao chefe do Governo.
As próximas eleições, a 23 de Março, são as quartas em dois anos – sucessivos empates entre dois campos, um pró-Netanyahu e outro contra, resultaram na formação de um governo de unidade que fracassou. Apesar do partido de Netanyahu, o Likud, estar à frente nas sondagens, o equilíbrio dos potenciais blocos de aliança ainda aponta para um empate.