Covid-19. Dez deputados e 24 funcionários estiveram infectados desde Março de 2020
Desde 10 de Dezembro que a Assembleia da República realizou 1029 testes a deputados, funcionários parlamentares, colaboradores e assessores dos partidos.
No momento em que se vai iniciar a vacinação contra a covid-19, a Assembleia da República registou dez casos de infecção de deputados e 24 de funcionários parlamentares desde Março do ano passado, segundo a secretaria-geral. Na semana passada, estavam em isolamento dez deputados, mas o número vai variando com o passar do tempo - na semana anterior eram só dois. Quanto ao número de testes, já foram realizados 1029 desde o início de Dezembro, dos quais apenas nove deram positivo.
Se o Parlamento britânico só começou a realizar testes rápidos de antigénio na passada terça-feira, o português já lhe leva dois meses de avanço: a Assembleia da República começou a fazê-los a 10 de Dezembro, tendo o presidente, Eduardo Ferro Rodrigues, dado o exemplo e sido testado logo nesse dia.
Desde então, foram realizados 1029 testes, dos quais apenas nove deram resultado positivo. Todas as quartas-feiras, cerca de 130 pessoas dos diversos serviços do Palácio de São Bento passam pelo Refeitório dos Monges onde uma equipa de uma empresa contratada para o efeito recolhe a amostra e daí a 15 ou 30 minutos o resultado está disponível por email.
São abrangidas pessoas de todas áreas de funcionamento do Parlamento: deputados (foram realizados 258 testes, o que significa que alguns dos 230 já repetiram); funcionários parlamentares (362 testes); elementos dos grupos parlamentares (227, como assessores e juristas); forças de segurança (PSP e GNR que fazem serviço no palácio, 35); funcionários das empresas que ali prestam serviço como o bar, a limpeza e a manutenção (139); e também jornalistas (8). Ao abrigo da prerrogativa do estado de emergência que determina que as empresas e outras entidades podem exigir testes aos funcionários e quem frequente o espaço, os nomes alvo de teste são avisados nos dias anteriores.
A ideia é abranger pessoas de todas as unidades orgânicas e de todos os espaços e serviços, especifica João Amaral, director do gabinete de comunicação, incluindo aqueles que a Assembleia tem em outros edifícios nas imediações e onde funcionam divisões parlamentares ou entidades como a UTAO. Apesar dos nove testes positivos (apenas dois eram funcionários), não houve ainda serviços encerrados no Parlamento.
Populismo, diz Ferro Rodrigues
Desde o início da pandemia que a Assembleia da República tomou medidas de contingência, mas nunca deixou de funcionar e de realizar plenários, embora de forma reduzida e com restrições de presenças no hemiciclo. Actualmente, as sessões plenárias foram reduzidas de três semanais para apenas uma.
A vacinação dos deputados contra a covid-19 tem estado envolta em polémica. Numa lista inicial, o presidente da Assembleia da República colocou 50 parlamentares como prioritários mas a opção foi contestada por alguns sociais-democratas e socialistas depois de ter sido tornada pública.
Do grupo inicial 15 deputados – 12 do PSD (incluindo o líder do partido Rui Rio) e três do PS saíram da lista por discordarem do critério aplicado - a lista de precedências do protocolo do Estado. Entre os socialistas que se retiraram estão dois presidentes de comissões parlamentares permanentes (Sérgio Sousa Pinto e Marcos Perestrello) e Maria Begonha.
Depois de o líder da bancada do PSD ter mostrado desconforto sobre a forma como foi elaborada e divulgada a lista inicial, Ferro Rodrigues anunciou concordar com a proposta do PS de criar um grupo de trabalho para acompanhar o processo de vacinação de deputados e de “funcionários considerados indispensáveis para garantir o funcionamento efectivo” do órgão de soberania. O grupo de trabalho só será constituído depois de os 35 deputados que constam na lista inicial – que Ferro Rodrigues se recusou a retirar – serem vacinados.
Desagradado com os deputados que retiraram da lista, o presidente da Assembleia da República disse nesta sexta-feira ao Expresso que essa decisão é “uma demonstração de como o medo do populismo pode levar a mais populismo”. E acrescentou, com dureza: “Lamento muito que algumas pessoas e alguns parlamentares achem que se combate o populismo sendo ainda mais populistas do que os populistas”.