Pelo bem da colmeia: um artista numa missão para pintar 50 mil abelhas
Uma abelha desorientada inspirou o projecto de Matthew Willey, que já pintou mais de 5500 abelhas à mão, em paredes de vários países. “Não estou a pintar abelhas”, garante. “Estou a pintar-nos.”
Tal como muitos artistas, Matthew Willey ansiava por conhecer a sua musa. O que ele não fazia ideia era que ela entraria, a voar, pela janela do seu apartamento.
A abelha que zumbia no seu quarto, no final da Primavera de 2008, impactou-o de tal forma que o muralista sediado em Nova Iorque embarcou numa missão para realçar as ameaças crescentes aos polinizadores. Objectivo: pintar à mão 50 mil abelhas em edifícios por todo o mundo.
Nos últimos cinco anos, pintou mais de 5500 insectos em 30 murais e instalações. Willey diz que a experiência partilhada da pandemia do novo coronavírus tornou as pessoas mais receptivas à sensação de interdependência que pretende evocar.
“Desde a depressão às dependências, passando pelas alterações climáticas, a poluição de plástico no oceano e o racismo sistémico, é a nossa escolha separar todos estes problemas interligados em fragmentos que os torna mais difíceis de resolver”, disse Willey. “Uma abelha está sempre a considerar o bem-estar da sua colmeia. Está ligada dessa forma. Mas os seres humanos não. Portanto, temos de escolher ver até que ponto todos os nossos problemas estão interligados.”
Depois de se concentrar, principalmente, na pintura de murais em discotecas, locais desportivos ou casas de luxo, Willey pintou o seu primeiro mural de abelhas num edifício de estuque em LaBelle, Florida, em 2015. Os transeuntes começaram a doar dinheiro, comida e café para apoiar o projecto de dez semanas.
Desde então, Willey tem posto abelhas a dançar em escolas, museus e edifícios municipais, de San Diego, Califórnia, a Washington DC. Em Outubro, concluiu o seu primeiro projecto internacional numa escola no sul de Inglaterra, depois de um aluno de 15 anos ter descoberto o site do seu projecto, Good of The Hive (O Bem da Colmeia, em português) e lhe ter escrito, a pedir para ir à sua escola.
Com as abelhas e outros insectos a enfrentarem pressões que vão desde o uso de pesticidas à perda de habitat e às alterações climáticas, Willey espera que os murais planeados de Itália à Índia levem mais pessoas a repensar a sua relação com a natureza — e umas com as outras.
“Não estou a pintar abelhas”, explica Willey. “Eu estou a pintar-nos.”