Morreu Paul Crutzen, o cientista que popularizou o termo “Antropocénico”

O investigador recebeu o Prémio Nobel da Química em 1995 pela descoberta de processos químicos que causam o buraco de ozono.

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Paul Crutzen C. Costard/Instituto Max Planck para a Química

O cientista Paul J. Crutzen morreu a 28 de Janeiro aos 87 anos. Juntamente com Mario Molina (1943-2020) e Frank Sherwood Rowland (1927-2012), o investigador natural dos Países Baixos recebeu em 1995 o Prémio Nobel da Química. Também ficou conhecido por ter popularizado o termo “Antropocénico”, que agora é usado para descrever a actual época em que a actividade humana está a moldar o planeta.

Paul Crutzen começou por estudar engenharia civil. A partir daí, tornou-se um programador de computadores no Departamento de Meteorologia da Universidade de Estocolmo, na Suécia. Fascinado por esta área, acabou por fazer o doutoramento em meteorologia em 1968.

Depois desse período em Estocolmo, o cientista leccionou e investigou em várias instituições, tais como a Universidade de Oxford, o Centro Nacional para a Investigação Atmosférica em Boulder, na Universidade de Chicago ou na Universidade da Califórnia. Entre 1980 e 2000, foi director do Departamento de Química Atmosférica no Instituto Max Planck para a Química, na Alemanha.

O seu trabalho científico focou-se no impacto dos humanos na atmosfera, no clima e no sistema terrestre, resume-se num comunicado do Instituto Max Planck para a Química. Também analisou as potenciais consequências da guerra nuclear global. Em 1995, recebeu o Prémio Nobel da Química por ter percebido como o óxido nítrico corrói a camada de ozono da Terra e pela descoberta de processos químicos que causam o buraco de ozono.

Popularizou ainda o termo “Antropocénico", que descreve a actual época geológica na Terra e em que se tem em conta o impacto que as actividades humanas estão a ter no planeta. Este termo foi inicialmente proposto pelo biólogo norte-americano Eugene F. Stoermer nos anos 80. Em 2000, ganhou destaque devido a um artigo conjunto de Eugene F. Stoermer e Paul Crutzen, que já tinha recebido o Prémio Nobel em 1995. “Vejo este debate como uma oportunidade para alcançar uma reorientação ecológica que é urgentemente necessária”, disse Crutzen na altura em que propôs o termo.

Nos últimos anos, Paul Crutzen “estava cada vez mais preocupado com o reconhecimento atempado da sociedade quanto à extensão e gravidade das alterações climáticas”, realça-se no comunicado. Tornou-se então um mediador entre a ciência, os políticos e a sociedade. Juntamente com o cientista Ram Ramanathan, alertou desde muito cedo que eram necessárias medidas drásticas para se conseguir reduzir as concentrações dos gases com efeito de estufa, em particular do dióxido de carbono (CO2), através de fontes de energia renováveis ou de sequestração de CO2.

“Paul Crutzen foi um pioneiro em muitos aspectos”, disse no comunicado Martin Stratmann, presidente da Sociedade Max Planck. “Foi o primeiro a mostrar como as actividades destroem a camada de ozono. Este conhecimento sobre as causas da destruição do ozono foi a base para a proibição global de substâncias que destroem o ozono”.

Já Ulrich Pöschl, um dos responsáveis no Instituto Max Planck para a Química, afirmou: “O Paul e o seu grande contributo científico continuarão a guiar o progresso científico e da sociedade, e a servir como uma fonte de inspiração única”. Também o Conselho Europeu de Investigação (ERC) publicou uma nota sobre Paul Crutzen. “Como um dos membros fundadores do conselho científico do ERC, o professor Crutzen teve um papel fundamental no lançamento da organização. Era um membro muito estimado”, lê-se.

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