Médicos alemães vão para o privado, mas “todos os hospitais” poderão utilizar as novas camas disponíveis
A ministra da Saúde recebeu esta quarta-feira os 26 profissionais de saúde alemães que irão ajudar o país a combater a covid-19. A equipa irá trabalhar no Hospital da Luz, em Lisboa. BE já enviou ao Governo um pedido de explicações pela escolha de uma unidade de saúde privada para celebrar o acordo com a Alemanha.
A ministra da Saúde, Marta Temido, agradeceu a disponibilidade da Alemanha em ajudar no combate à pandemia, no momento da chegada de 26 profissionais de saúde militares a Lisboa, ao início desta tarde. A ministra saudou a disponibilidade do Governo alemão “neste momento difícil para Portugal”, minutos antes do avião que transportou a equipa médica alemã ter aterrado em Lisboa, pelas 14h10, na base aérea de Figo Maduro. Os profissionais de saúde alemães permanecerão no país “durante um período de três semanas, estando prevista a sua substituição a cada 21 dias, até ao final de Março, caso seja necessário”. Além de Marta Temido, a equipa alemã foi recebida pelo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho.
À chegada da equipa alemã, Marta Temido afirmou que os 26 profissionais de saúde irão permitir “garantir funcionamento autónomo de mais uma unidade, que existia e que não era possível abrir por falta de recursos humanos”.
Entre os 26 profissionais de saúde estão seis médicos que trazem 40 ventiladores móveis e dez estacionários, 150 bombas de infusão e outras tantas camas hospitalares. Em comunicado, o Ministério da Saúde justifica que “à semelhança do sucedido em outros países da União Europeia" houve “uma articulação” entre Portugal e a Alemanha que permitiu o reforço da resposta à covid-19.
“O trabalho realizado na região de Lisboa e Vale do Tejo, permitiu encontrar disponibilidade do Grupo Luz Saúde para, realocando doentes, recursos e adaptando espaços, em tempo recorde, disponibilizar um núcleo de mais oito camas de cuidados intensivos que permitirá à referida equipa trabalhar num espaço único, proporcionando-lhes condições de maior eficiência no tratamento de doentes graves provenientes de hospitais públicos da Região de Lisboa”, lê-se no comunicado. O Ministério da Saúde explica ainda que a colaboração acontecerá “mediante acordo específico a celebrar entre a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e o Grupo Luz Saúde”.
Já em relação à gestão das oito camas agora disponibilizadas, haverá uma articulação a Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a covid-19, lê-se no documento.
Ao PÚBLICO, o Ministério da Saúde não explicou o que levou o Governo a escolher colocar a equipa alemã num hospital privado e não num hospital público. De acordo com as declarações da ministra na recepção da equipa, a escolha terá tido em conta a disponibilidade de algumas instalações no Hospital da Luz, que no entanto carecia de profissionais de saúde que pudessem operar nessas instalações.
Em comunicado, o grupo Luz Saúde detalha que “a referida equipa de profissionais de saúde contará, assim, permanentemente, com o apoio de todos os recursos clínicos do Hospital da Luz Lisboa, nomeadamente das especialidades médicas de apoio à UCI (unidade de cuidados intensivos), patologia clínica, exames de imagiologia, bem com a garantia das cadeias de abastecimento de consumos clínicos e fármacos”.
Contas feitas, o Hospital da Luz, em Lisboa, tem agora 106 camas, das quais 25 camas de cuidados intensivos para combater a covid-19. O grupo diz ainda que este é um “momento de compromisso absoluto com o país, com os portugueses e com o sistema nacional de saúde” e garante que assume essa responsabilidade “com toda a nossa capacidade e a dedicação de sempre”.
Já a nível nacional, existem neste momento “cerca de 1200 camas aquelas que país dispõe para resposta ao doente crítico e, entre essas, quase 900 estão mobilizadas para a resposta à covid-19”, disse a ministra da Saúde, em declarações aos jornalistas.
BE pede explicações
Numa pergunta enviada ao Ministério da Saúde e a que a agência Lusa teve acesso, o BE considerou que “esta é uma situação que precisa de ser urgentemente esclarecida”, referindo que “essa ajuda deveria servir para reforçar a capacidade de resposta do SNS e, através desse reforço aliviar a pressão”.
“A ministra da Saúde tem dito que o problema é a falta de profissionais e que se eles existissem seria possível expandir as repostas de internamento e de UCI [Unidade de Cuidados Intensivos]. Há hospitais do SNS que foram expandindo, ao longo da pandemia, os seus espaços de cuidados intensivos e que se tiverem reforço de profissionais podem maximizar as duas respostas. Mas, a decisão parece ter sido, afinal, colocar estes profissionais no hospital da Luz. Porquê? Este hospital e seus recursos foram requisitados e estão agora sob gestão do SNS?”, questionou o deputado Moisés Ferreira.
O processo de auxílio alemão a Portugal arrancou em 25 de Janeiro, na sequência de um pedido de ajuda da ministra da Saúde, Marta Temido, à ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer.