Pandemia
No Porto, nem a névoa esconde a solidão
Como a gente, só as cores fortes se salvam num Porto que acordou sob um manto de névoa. Um Porto que acordou, sobretudo, vazio. Seria preciso um nevoeiro bom, daquele de prometer o regresso de reis e não nos dar mais de um palmo à frente do nariz, para esconder a evidência destes dias de desolação, do chão sem gente, que se parece menos cidade.
A humidade que se cola às pedras das casas e aos ossos apenas incomoda, e até devolve o granulado à fotografia, um efeito vintage na era do digital dos megapixels. Uma tarde de Inverno assim apresentada seria um bom convite para um domingo em casa, não fosse o facto de estarmos fartos de estar em casa.
Cinzentos são os dias daqueles que se fecham, e que descobrem, nas ruas sem gente, o espelho do seu isolamento forçado. Um dia haverá sol. Um dia. Até lá, é de névoa o horizonte, para onde quer que olhemos. Abel Coentrão