João Ferreira “aguentou-se bem” e pode voltar a candidatar-se em Lisboa, diz Jerónimo

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LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O secretário-geral do PCP considerou nesta terça-feira que a candidatura de João Ferreira “aguentou-se bem” e não excluiu que o eurodeputado venha a ser de novo candidato às autárquicas de Lisboa, no final do ano.

“Nós aguentámo-nos bem, crescemos num quadro de grande condicionalismo” numa conjuntura em que “nunca se tinha visto uma coisa destas”, a pandemia de covid-19 e o confinamento geral em que decorreu a campanha eleitoral, afirmou Jerónimo de Sousa, no final de um comité central para analisar os resultados das presidenciais de domingo.

O eurodeputado comunista João Ferreira ficou em quarto lugar, à frente da bloquista Marisa Matias, subiu percentualmente, de 3,95% para 4,32% no resultado, mas perdeu em número de votos absolutos (cerca de dois mil) relativamente à candidatura de Edgar Silva, em 2016.

Olhando a uma “análise mais fina” dos resultados, o líder comunista afirmou que, face a estes números, o candidato comunista “teve de ir buscar votos novos” para contrabalançar estas perdas. Onde houve uma quebra de votos absolutos, a leitura do comité central é que houve “um número idêntico de votos”.

O comité central destacou o aumento de 3,95 para 4,32% na votação e “a obtenção de um número idêntico de votos, num quadro em que votam quase menos meio milhão de eleitores e num contexto marcado por circunstâncias de saúde pública que limitaram a acção de esclarecimento e mobilização e que desmente os que procuram falsamente menorizar o resultado obtido pela sua candidatura”.

Questionado sobre se João Ferreira, que já foi candidato à Câmara de Lisboa em 2017 e às europeias de 2019 e subiu ao comité central no último congresso do PCP, poderá voltar a concorrer às autárquicas no final do ano, Jerónimo de Sousa não exclui o cenário. “Não estamos na fase escolhas de candidatos. João Ferreira, tal como outros meu camaradas, estão em condições de assumir essas tarefas no plano autárquico”, disse, acrescentando que conta com o eurodeputado e “com milhares e milhares de comunistas, democratas e patriotas que se revêem no projecto da CDU”.

Na “leitura mais fina” feita concelho a concelho, segundo o líder comunista, “não se pode dizer que a candidatura de João Ferreira foi fustigada pela deslocação de votos”, admitindo, ainda assim, “transferências fundamentalmente para a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa”.

Depois, outros efeitos sobre a votação presidencial ligou-os à abstenção (60,5%) e aos “efeitos do confinamento”, e que teve outro resultado: “Levou a tivéssemos de conquistar muitos votos novos.”

O secretário-geral dos comunistas, apesar de reconhecer um aumento “muito significativo” de André Ventura nestas presidenciais, com uma votação acima dos 11%, relativizou as comparações feitas pelo líder do PSD, Rui Rio, na noite eleitoral, ao dizer que candidato do Chega conseguiu no Alentejo resultados que os comunistas não alcançaram.

“Há muito anos que não somos maioritários, longe disso, no distrito de Portalegre”, afirmou Jerónimo, que ironizou com Rio que se precipitou na análise a quente na noite eleitoral, colocando-o no campo de quem acha que já “decidiram a morte do PCP”. “Enganou-se. Ele que fique com a tristeza”, afirmou, com um sorriso, sem responder directamente sobre a leitura que faz de o candidato da extrema-direita ter conseguido quase 500 mil votos.

Mais claro na leitura foi Jerónimo no que diz respeito ao que poderá ser o segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República ao dizer que o “alinhamento daqui para a frente” será “ainda mais explícito com os objectivos e agenda da política de direita”. O objectivo, antevê, é empenhar-se “no branqueamento do PSD e das suas responsabilidades, reabilitá-lo politicamente e reconduzi-lo ao poder, acompanhado ou não dos seus sucedâneos reaccionários ou para um papel de cooperação intensa com o PS, procurando assegurar a recuperação do ‘bloco central'”.

Marcelo Rebelo de Sousa, com o apoio do PSD e CDS, foi reeleito Presidente da República nas eleições de domingo, com 60,70% dos votos, segundo os resultados provisórios apurados em todas as 3.092 freguesias e quando faltava apurar três consulados. A socialista Ana Gomes foi a segunda candidata mais votada, com 12,97%, seguindo-se André Ventura, do Chega, com 11,90%, João Ferreira (PCP e Verdes) com 4,32%, Marisa Matias (Bloco de Esquerda) com 3,95%, Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal) com 3,22% e Vitorino Silva (Reagir, Incluir e Reciclar - RIR) com 2,94%.

A abstenção foi de 60,5%, a percentagem mais elevada de sempre em eleições para o Presidente da República.