Rede de oxigénio do Amadora-Sintra entra em sobrecarga. 48 doentes vão ser transferidos
Flutuações no débito de oxigénio afectaram enfermarias e urgência covid. Doentes estão a ser transferidos para outras unidades hospitalares de Lisboa. O Hospital de Santa Maria vai receber 20.
A rede de oxigénio do Amadora-Sintra entrou em sobrecarga ao início da noite desta terça-feira, confirmou o PÚBLICO junto de fonte oficial. Estão em causa flutuações na quantidade de débito de oxigénio que chega às enfermarias e urgência para doentes com covid. Esta situação está a obrigar à transferência de 48 doentes que estavam internados em enfermarias para o Hospital de Santa Maria, Hospital Militar e o hospital de campanha, confirmou o Amadora Sintra em comunicado publicado no Facebook na noite desta terça-feira.
Rui Dias Santos, membro do Conselho de Administração, explicou à comunicação social que o hospital teve de combater esta sobrecarga “com recurso a garrafas de oxigénio portáteis e mobilização de profissionais internos”. O responsável disse ainda que os doentes foram transferidos para várias unidades hospitalares da região de Lisboa e Vale do Tejo: “Estão a ser transferidos doentes para algumas unidades de saúde para a região de Lisboa e Vale do Tejo: Hospital de Santa Maria, Setúbal, Hospital Egas Moniz e do Hospital de Campanha do Estádio Universitário.”
O PÚBLICO apurou junto de fonte oficial do hospital que na quarta-feira serão transportados 19 doentes para uma enfermaria do Hospital da Luz que se encontrava inactiva. Este espaço será operado por profissionais do Amadora-Sintra, que continuarão a seguir os pacientes.
O plano de contingência do hospital previa no seu limite 120 camas de enfermaria para doentes com covid. Tinha esta terça-feira 333 pacientes em enfermaria, o que elevou o esforço da rede de oxigénio a níveis que fizeram disparar o alerta quando se registaram flutuações no fluxo, explicou ao PÚBLICO fonte oficial da unidade. O Hospital Amadora-Sintra tem ainda 30 doentes com covid internados em cuidados intensivos, o que perfaz um total de 363 doentes infectados.
“Os nossos tanques estão cheios com oxigénio, o que aconteceu foram flutuações nos débitos”, disse a mesma fonte, assegurando que “nenhum doente está em risco de vida. Nem as unidades de cuidados intensivos foram afectadas”.
Inicialmente uma outra fonte do hospital tinha adiantado ao PÚBLICO que o hospital tinha feito um reforço dos postos de oxigénio, mas que a rede de oxigénio baixou para níveis de risco: “A rede de oxigénio entrou em colapso: não foi um colapso total, mas obrigará à transferência de doentes.”
No total, estão a ser transferidos 48 doentes para outras localizações, sendo que alguns estão a fazer ventilação não invasiva. Nestes casos, explicou uma das fontes hospitalares, os pacientes “foram ventilados com botija” e explicou que “estão a ser feitas obras para aumentar o diâmetro da canalização da rede de oxigénio e a criação de uma rede de fornecimento autónomo para a urgência de doentes respiratórios”.
O Amadora-Sintra, um dos hospitais com maior pressão provocada pela pandemia, já tinha feito a transferência de pacientes para o Algarve, na última semana. Nas últimas 72 horas o hospital tinha aberto 90 camas de enfermaria para doentes com covid.
O comunicado do Amadora-Sintra publicado esta terça-feira esclarece que "em momento algum os doentes internados estiveram em perigo devido a esta ocorrência”, relembrando que esta unidade hospitalar é a que tem maior número de internados covid do país, com 363 pacientes. Desde o início do ano registou-se um aumento de 400% nos internamentos, com o Amadora-Sintra a adiantar que grande parte destes doentes precisam de “oxigénio medicinal em alto débito”.
O Hospital de Santa Maria vai receber 20 doentes, confirmaram ao PÚBLICO fontes oficiais das duas unidades. Destes, 13 são doentes com covid e sete sem a infecção. Quanto aos doentes infectados, fonte do Hospital de Santa Maria adiantou que alguns estão a fazer ventilação não invasiva.
O hospital de campanha, instalado no Estádio Universitário de Lisboa, “é uma das unidades que vão receber doentes com covid encaminhados pelo Hospital Amadora-Sintra, confirmou ao PÚBLICO o coordenador desta unidade, António Diniz, mas sem adiantar um número concreto. Esta unidade de apoio a doentes menos graves recebeu os primeiros doentes no sábado e a previsão é que esta terça-feira tivesse já cerca de 25 camas ocupadas. Isto sem contar com a situação inesperada que afectou o Hospital Amadora-Sintra.
O hospital de campanha tem 58 camas, das quais 23 têm saída de oxigenioterapia. “Disponibilizamos todas as camas vagas, que ainda são algumas”, disse o médico.
Contactado pelo PÚBLICO, fonte do Hospital do São João diz que “está previsto” que esta unidade hospitalar receba alguns destes doentes. Mas esta possibilidade foi afastada pelo presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Pisco. Em entrevista à SIC Notícias, Luís Pisco explicou que o objectivo era ter resposta na região, o que foi conseguido. “Tinhamos oferta de 72 camas de vários hospitais da região”, disse, especificando que “foram 20 doentes para o Hospital de Santa Maria, dez para Setúbal - havia essa oferta -, para o Centro Hospitalar Lisboa Oriental (do qual faz parte o Hospital São Francisco Xavier) foram quatro doentes. Lisboa Central recebeu seis doentes. As Forças Armadas também responderam e receberam cinco doentes e o hospital de campanha seis”. Houve ainda uma oferta de 19 camas por parte do Hospital da Luz.
Também Luís Pisco negou um colapso da rede de oxigénio. “É apenas uma questão estrutural. Temos depósito e tem de haver concentração de oxigénio de alto débito. Por sobrecarga de doentes, requer-se um débito de oxigénio superior ao normal. O que aconteceu foi que perante esta sobrecarga foi preciso retirar doentes para o oxigénio voltar a ter o débito necessário.”
Em declarações à TVI24, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, diz que a situação do Amadora-Sintra “independentemente da pandemia é um pandemónio”. A responsável diz que apesar do reforço que o hospital fez à rede de oxigénio, não aceita “que se fez tudo o que se podia fazer”.