Líder do CDS admite que ascensão de Chega é questão séria para a direita

Há um conjunto de temas que não estão a ser discutidos por nenhum outro partido, alerta Francisco Rodrigues dos Santos.

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O presidente do CDS-PP vota nas eleições presidenciais deste domingo LUSA/João Relvas

O presidente do CDS-PP concorda que o resultado alcançado pelo candidato presidencial André Ventura “é uma questão séria” para o seu partido e para a direita, propondo uma “visão moderada e sensata” para problemas que preocupam os portugueses.

Em entrevista à Lusa, a propósito do primeiro aniversário da sua eleição como presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos disse concordar com o antigo líder Paulo Portas que o resultado eleitoral de André Ventura nas presidenciais, 11,9 %, “é uma questão séria” para PSD e CDS, e garantiu que não a desvaloriza. Paulo Portas tinha apontado, neste domingo à noite, o facto de haver um partido populista a obter “dois dígitos” numa eleição e que “não se deve desvalorizar e que representa para o PSD, e ainda mais para o CDS, uma questão séria”.

Para Francisco Rodrigues dos Santos, os 500 mil votos alcançados pelo líder do Chega mostram que “há muita gente que está descontente com a situação que o país vive e não se sente realizada com a vida que tem” e que não se sente representada ou ouvida nos seus medos e anseios.

“Um partido como o CDS tem que ter uma lupa para perceber que há um conjunto de temas que não estão a ser discutidos por nenhum outro partido em Portugal, e que deixam uma determinada parte do eleitorado órfão e sem voz”, atirou, dando como exemplos a corrupção, reforma do sistema político, coesão territorial, abandono do interior, falta de oportunidades, precariedade ou a segurança.

Alertando que “no silêncio dos moderados haverá o ruído dos fanáticos e dos extremistas”, o presidente do CDS-PP defendeu que o partido deve “centrar o discurso” nestas temáticas, apresentado “uma visão moderada, sensata e racional das coisas”, para “impedir que haja essa ascensão” do Chega.

Para Francisco Rodrigues dos Santos, “todos os partidos têm que daqui retirar as suas ilações e dirigir o discurso para quem está órfão de uma voz que as represente”, devendo “abordar determinado tipo de assuntos com seriedade, com humanidade, com preocupação e apresentar soluções razoáveis”, por forma a evitar “entregar esses mesmos problemas a franjas radicais que, por muito estapafúrdias e absurdas que sejam as respostas que apresentam, são as únicas, portanto ficam com o monopólio de uma determinada parte do eleitorado”.

O dirigente defendeu que “a história ensina” que os resultados das “eleições presidenciais esgotam-se no próprio dia” e não podem ser transpostas para umas legislativas, por exemplo, e que “quem perdeu estas eleições verdadeiramente foi o Partido Socialista”, que não apoiou qualquer candidato.

“E o CDS fê-lo e o seu candidato ganhou” à primeira volta, destacou, apontando que “a vitória foi de Marcelo Rebelo de Sousa”, mas o CDS, tendo apoiado o actual Presidente da República e tendo contribuído “para a formação da maioria presidencial”, tem razões para celebrar a sua reeleição.

Questionado sobre as razões para o partido não ter apoiado um candidato próprio, o presidente do CDS disse que “todos os ex-presidentes” do partido acompanharam esta decisão, bem como os órgãos próprios, nomeadamente o Conselho Nacional (órgão máximo entre congressos).

Realçando que Marcelo Rebelo de Sousa é “a melhor pessoa” para exercer o cargo e “apresenta um programa no qual o CDS se revê”, Francisco Rodrigues dos Santos frisou que apoiar a recandidatura do antigo líder do PSD foi uma decisão “lúcida e racional” e considerou que “a esmagadora maioria” do eleitorado centrista “apostou em Marcelo Rebelo de Sousa nestas eleições”.

“Parece que de repente é um crime apoiar-se Marcelo Rebelo de Sousa. Porque é que o CDS tinha de ter um candidato nestas eleições? Para dividir a direita, para dizer que ia a jogo e colocar os interesses partidários acima do interesse nacional?”, questionou, recusando que estas eleições sirvam “para ver quanto é que cada partido vale” e criticando “alguns analistas” que disseram que “o CDS desapareceu”.