Os Gift dão como prenda aos fãs uma plataforma que é uma REVolução

Chama-se REV e é uma plataforma digital que tem tudo o que a banda fez e faz, além de programas de vídeo e rádio em estreia. A abertura é esta quinta-feira, às 21h.

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The Gift: Miguel Ribeiro, John Gonçalves, Sónia Tavares e Nuno Gonçalves DR

O dia foi intencionalmente escolhido (21 do 1 de 2021 às 21 horas), tal como o nome, já que REV pode ser entendido como anagrama de VER. E é para serem vistos e ouvidos que os The Gift abrem esta quinta-feira uma plataforma de streaming que pretende ser um arquivo dinâmico de tudo o que fizeram e fazem, bem como um ponto de encontro regular com os seus fãs. Porque terá programas de rádio e vídeo, animados pelos quatro membros da banda, com a configuração de um canal exclusivo destinado a assinantes.

A REV é apresentada como a “primeira aplicação do mundo” no seu género, e Nuno Gonçalves, um dos fundadores desta banda criada em Alcobaça, em 1994, tem uma boa explicação para isso: “Nenhuma banda do mundo consegue ter concertos, discos e todo o áudio e vídeo que estão conectados à sua carreira musical juntos porque estão ligadas a editoras. E nós estamos completamente livres”, diz ele ao PÚBLICO. “Aliás, o nome REV surge porque, numa primeira reunião que tivemos para explicar este conceito, com uma empresa inglesa que gere uma aplicação do Boy George, eles afirmaram que era impossível, porque as editoras nunca iriam autorizar. Quando lhes dissemos que éramos a nossa própria editora, responderam-nos: ‘Mas isso é uma revolução!’” Daí o REV.

Chegar a outros mundos

A ideia para a criação de REV surgiu durante o primeiro confinamento, iniciado em Março de 2020. “O que mais me desconcertava na altura”, diz Nuno Gonçalves, “era perceber: porque é que eu não estou a fazer nada, porque é que não estou a aproveitar este tempo para poder compor? A trocar uma mensagem com um amigo, músico, mais velho do que eu, ele disse-me: ‘Olha de outra forma para as coisas que fizeste, ouve de novo, vê porque fizeste aquilo.’ Era uma perspectiva de olhar para o passado de forma distinta. E foi precisamente isso que me abriu os olhos para podermos fazer isto.”

A aplicação está um mês adiantada, com tudo assegurado até fim de Fevereiro. “Neste momento, já estamos a programar o mês de Março. Trabalhamos como qualquer revista mensal ou televisão.” A emissão arranca com a transmissão de um concerto da banda realizado em segredo (sem público) no Cine-Teatro de Alcobaça. “Queríamos transmiti-lo em directo, mas por causa da pandemia gravámo-lo na última semana de Dezembro. Foi gravado ao vivo, sem qualquer corte ou paragem: são nove canções que atravessam a carreira dos Gift, e mais do que os grandes sucessos são os melhores dos ‘lados B’. E isso é também um statement, para as pessoas que nos conhecem melhor e não estão aqui apenas de passagem. No final do concerto fomos para casa a pé e isso também foi filmado. E a partir do momento em que estamos em casa, aí sim, estaremos em directo a falar com as pessoas.” E na verdade estarão, mal termine a transmissão do concerto.

Quanto à restante programação, Nuno Gonçalves assegura três programas regulares de rádio (Track By Track, Quem É Quem? e Post) e os restantes serão em formato vídeo: Sónia Tavares conduz Driving You Slow (com convidados) e Na Pele De (onde interpretará autores alheios, a começar por David Bowie); Miguel Ribeiro terá Local (com produtos que fazem parte das nossas vidas, a começar pela sardinha); e John Gonçalves apresentará Intercontinental, onde começa por entrevistar Pierre Aderne.

“Em termos artísticos”, diz Nuno Gonçalves, “isto pode ser um estímulo para a música que andamos a fazer e que vamos fazer a partir de agora. É uma maneira de nos abrirmos a outros artistas, de falarmos com outras pessoas, de ouvirmos outras vozes, de chegarmos a outros mundos. Ver mundo, para mim, é o mais inspirador de tudo.”

Uma visão de futuro

A aplicação REV terá uma versão gratuita, com todo o catálogo editado ao longo dos 25 anos de carreira dos The Gift, e uma versão premium, paga por assinatura (24,99€ por seis meses ou 44,99€ por um ano, segundo o que foi anunciado), esta com acesso a tudo o resto, em particular as matérias exclusivas e as várias rubricas. “Quisemos ganhar um balanço lá atrás, organizá-lo, catalogá-lo, e depois, com essa perspectiva de passado, ter uma visão de futuro”, diz Nuno Gonçalves. “Vamos estrear esta semana remisturas de alguns temas que nunca foram usados.

Um exemplo: “Ainda há pouco tempo trabalhámos com um artista espanhol chamado Bronquio, que faz umas remisturas fantásticas. É uma remistura não muito apelativa em termos comerciais, o que é que vamos fazer com isso? Uma banda qualquer poderia fazer um post de Facebook, uma história de Instagram e 35 horas depois ela passava à história. Aqui não, é uma coisa que fica e eterniza o trabalho artístico das pessoas que trabalham connosco e o nosso próprio trabalho.”

A plataforma tem estado a ser erguida e testada há meses. “Criámos a nossa própria rede de programadores, três portugueses que trabalhavam no estrangeiro e que agora estão em Portugal através do teletrabalho. Para eles, é também um trabalho heróico, histórico, porque estão a trabalhar diariamente para isto desde Julho. É a nossa ‘Torre do Tombo’. Compete-nos programá-la para que aguente e para que seja um elemento de conservação dos Gift e de motivação extra para o futuro.” Isto apesar das contrariedades destes tempos.

“Ser artista em 2021, numa banda que sempre fez as coisas de forma muito peculiar (temos uma estrutura muito caseira, ainda que muito profissional), esse instinto de risco, de fazer o que está por fazer, esteve sempre presente, muitas das vezes saturando-nos a nós mesmos e as nossas vidas pessoais. É como se fossem as asas de um pássaro, deve ser muito difícil estar sempre a batê-las para poder existir, mas nós precisamos disso.”

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