Covid-19. Perante a pressão dos números e perto do limite de ocupação, hospitais tentam aumentar capacidade de internamento

Hospitais de Norte a Sul tentam reorganizar-se perante a pressão dos números de doentes internados com covid-19. Muitos têm, nos últimos dias, aumentado a capacidade de resposta. Outros estão já no limite de ocupação.

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Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos Rui Oliveira

Há vários hospitais do país a alargar a capacidade para internar doentes com covid-19 já que o número de pessoas que necessitam de ser hospitalizadas não pára de crescer. Há outros que estão já no limite e que têm poucas camas para acolher estes doentes. Ainda que se tenha registado uma diminuição ligeira deste indicador nesta quinta-feira (segundo o último boletim da Direcção-Geral da Saúde), no dia anterior foram registados números máximos de doentes hospitalizados, tanto em enfermaria como em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Existiam 4368 doentes internados no total, 611 destes nas UCI. Foi a primeira vez, desde o início da pandemia, que Portugal teve mais de 600 doentes nestas unidades. E as previsões dão conta de que estes números deverão aumentar nas próximas semanas.

O Centro Hospitalar Lisboa Norte, do qual fazem parte os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, tem 210 camas em enfermaria para doentes covid-19, das quais 48 em cuidados intensivos. Fonte do centro afirma que vão ser abertas duas enfermarias até ao fim da próxima semana, cada uma com vinte camas. A urgência covid-19, que tem capacidade para 30 doentes, também vai ser reforçada para receber mais dez pessoas em simultâneo. A mesma fonte diz que tem sido feita uma realocação de espaços e de profissionais e um “esforço” de abertura de vagas não-covid para dar resposta a uma fase que é “de enorme pressão”.

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Hospital de Santa Maria, Lisboa Rui Gaudêncio

Já o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), que integra os hospitais de S. José, S. Marta, D. Estefânia, Capuchos, Curry Cabral e a Maternidade Dr. Alfredo da Costa (MAC), registava esta sexta-feira 240 internamentos, 199 em enfermaria e 41 em cuidados intensivos. Existem, assim, 11 camas livres, das quais três de cuidados intensivos.

“O Plano de Contingência, activo desde Março, prevê uma adaptação da lotação hospitalar às necessidades diárias, em conformidade com a evolução da pandemia. No limite, o CHULC poderá ir até cerca das 300 camas (enfermaria mais cuidados intensivos), que são todas as disponíveis no Curry Cabral, mais as camas do Serviço de Infecciologia do Hospital Dona Estefânia e parte das camas de cuidados intensivos do S. José. Os serviços clínicos não covid a funcionar no Curry Cabral serão, nesse sentido, e conforme as necessidades, transferidos para outros pólos do CHULC”, garante fonte do centro hospitalar.

O Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (que integra o Hospital de São Francisco Xavier, Hospital de Egas Moniz e Hospital de Santa Cruz) tem, neste momento, uma taxa de ocupação de 98%, com 116 doentes em enfermaria e 36 em UCI.

Em Almada, o Hospital Garcia de Orta (HGO), tinha esta sexta-feira 167 doentes covid-19 internados, 146 em enfermaria (o máximo que pode ter), 18 doentes em cuidados intensivos e três doentes internados em Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD), segundo avança o hospital em comunicado, acrescentando que tem uma taxa de ocupação de 221%.

“Considerando a enorme pressão assistencial, decorrente da elevada procura de doentes ‘Covid’ e doentes ‘não Covid’ que dura há várias semanas, o HGO tem vindo a realizar reafectações sistemáticas de circuitos e espaços e continua a trabalhar para no final do mês de Janeiro poder expandir a Área Dedicada ao Atendimento de Doentes Respiratórios (ADR) do Serviço de Urgência Geral”, lê-se na nota da instituição.

Por sua vez, o Hospital Distrital de Santarém (HDS) vai abrir mais dez camas na UCI (num total de 20) e mais 12 na enfermaria (num total de 93). “Tendo presente esta dura realidade, os hospitais têm de se adaptar e reinventar para de dar resposta às exigências acrescidas da pandemia”, refere o Conselho de Administração do HDS em comunicado.

Norte e Centro perto da ocupação total

Mais a Norte, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), existem 11 camas disponíveis para doentes covid-19 em enfermaria (há 285 pessoas internadas) e nove nos cuidados intensivos (há 46 pacientes nessas unidades).

Por causa destes números, o CHUC suspendeu, na semana passada, a actividade cirúrgica programada, convencional e ambulatória que ocorra no bloco operatório central, com excepção de doentes oncológicos, urgentes e muito prioritários e prioritários.

O objectivo, segundo um comunicado do CHUC, é “mobilizar recursos humanos necessários ao reforço do dispositivo do plano de contingência da covid-19, de reduzir a pressão sobre os serviços de internamento e a circulação de pessoas no pólo Hospitais da Universidade de Coimbra”.

Ao PÚBLICO, fonte do centro diz agora que “os profissionais vão sendo alocados às necessidades decorrentes do aumento dos números de doentes covid-19, o que prejudica outras actividades e serviços”.

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Hospital de Pedro Hispano, Matosinhos Rui Oliveira

No Centro Hospitalar do Porto (CHP), que inclui o Hospital de Santo António, há 20 vagas em enfermaria (num total de 133 camas) e 13 nos cuidados intensivos (num total de 46), segundo adiantou fonte do centro hospitalar.

Já no Hospital Pedro Hispano (HPH), em Matosinhos, existem 20 camas de cuidados intensivos ocupadas, 15 com doentes covid-19 (sendo que o limite “actual” é de 21 camas na UCI). A Unidade de Cuidados Intermédios, que tem espaço para dez camas, “tem estado sempre com ocupação máxima”, avança fonte do hospital. Na enfermaria há 65 doentes internados para um total disponível de 70 camas.

“Se necessário, no internamento temos capacidade para crescer até às 90 camas, mas aqui coloca-se também a dificuldade de garantir a disponibilidade de recursos humanos”, refere fonte do hospital.

Perante esta situação, o Conselho de Administração decidiu suspender cerca de 50% das cirurgias programadas desde que este adiamento “não agrave a condição clínica do doente ou condicione o prognóstico da doença”. “Nesse sentido, relativamente às cirurgias oncológicas inadiáveis está a ser feito um planeamento para as próximas quatro semanas, de modo a garantir que essas cirurgias são realizadas, sem comprometer a sua evolução e tratamento. Esse planeamento está a ser feito em articulação com o IPO do Porto, de modo a que esta instituição consiga programar a sua actividade e apoiar a Unidade de Saúde Pública de Matosinhos/Hospital Pedro Hispano”, lê-se ainda nas respostas enviadas pelo hospital.

O Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) “reconverteu” uma enfermaria com 24 camas para receber doentes com covid-19, dando resposta a um possível “súbito aumento de procura”. Em resposta à Lusa, o CHVNG/E indicou que, “dado que é expectável um súbito aumento de procura”, foi reconvertida uma enfermaria que “permanece em espera e será usada conforme a necessidade”. O centro tem 75 doentes internados em enfermaria e dez em cuidados intensivos (28 no total).

Na Guarda, a Unidade Local de Saúde (ULS) também aumentou a capacidade de internamento para doentes com covid-19 no Hospital Sousa Martins e prepara-se para “abrir” mais 24 camas nas instalações do Serviço de Pneumologia, ficando com 100 camas no total. E em Viana, o hospital “ajustou a capacidade de resposta ao aumento de casos de infecção e aumentou, numa semana, o número de camas para internamento de 35 para 116.

“Neste momento, temos atribuídas 116 camas para internamento de doentes com covid-19, fora as 25 camas da Unidade de Cuidados Intensivos, sendo que, no total, a taxa de ocupação rondará os 90%”, afirmou, em declarações à Lusa, o presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), Franklim Ramos. “Não estamos numa situação de crise, caótica, mas estamos com bastantes doentes, reflexo do aumento substantivo da epidemia. Estamos a responder adequadamente. Estamos sempre a reajustar em função das necessidades e não temos a capacidade esgotada”, sublinhou.

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