CoronaVac teve eficácia global de 50,38% nos testes no Brasil
Outras vacinas contra o coronavírus SARS-CoV-2 têm atingido eficácias mais elevadas.
A vacina CoronaVac contra a covid-19, do laboratório chinês Sinovac, registou 50,38% de eficácia global nos testes realizados no Brasil, informou o Instituto Butantan.
O índice de eficácia global aponta a capacidade da vacina de proteger em todos os casos, ou seja, infectados com sintomas leves, moderados ou graves. A eficácia do imunizante chinês está dentro da taxa mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador de medicamentos do Brasil, que é de 50%.
Outras vacinas da covid-19 cujos resultados têm sido divulgados em revistas científicas, e já aprovadas nos Estados Unidos e na Europa, têm revelado uma eficácia que atinge 90%.
Os dados foram anunciados pelo Instituto Butantan, órgão de investigação ligado ao governo regional do estado brasileiro de São Paulo, que comandou a pesquisa e os testes do imunizante no Brasil. O instituto também deverá fabricar o medicamento quando for aprovado pelas autoridades sanitárias do país.
Segundo o Butantan, os resultados foram submetidos a um comité internacional independente na Áustria. A investigação envolveu 16 centros de investigação científica no país. O teste duplo cego, com aplicação da vacina em 50% dos voluntários e de placebo nos demais, envolveu 12.500 profissionais de saúde.
De uma amostragem de 9200 participantes, 85 dos casos muito leves foram de pessoas que receberam vacina, e 167 em voluntários que tomaram placebo. Nenhum paciente infectado que recebeu a vacina do Butantan precisou de internamento. Entre os que tomaram placebo, houve sete pacientes que precisaram de ser internados.
Todo os voluntários eram profissionais de saúde, com risco muito alto e contínuo de exposição ao novo coronavírus.
Na semana passada, o Instituto Butantan tinha anunciado que, nos testes feitos no país, o imunizante atingia 78% de eficácia em casos leves e 100% em casos graves e moderados, ou seja, a vacina teria protegido contra mortes e complicações mais severas da doença. Mas a divulgação incompleta dos dados gerou críticas da parte da comunidade científica brasileira, lembra o jornal El País.
“Esta vacina é uma excelente vacina, disponível e esperando para ser usada num país onde morrem no momento, em torno de mil pessoas por dia. Esperamos que as nossas autoridades, principalmente, nossas agências reguladoras entendam o momento e nos ajudem a atender o pedido das vacinas, que querem ser usadas”, defendeu Dimas Covas, director do Instituto Butantan. “Essa vacina tem segurança, tem eficácia, e todos os requisitos que justificam o uso emergencial”, acrescentou o responsável.
Segundo o médico e director de investigação do Instituto Butantan, Ricardo Palácios, a vacina foi testada com os profissionais de saúde porque têm a maior exposição ao vírus face à população em geral.
“[O teste da CoronaVac] não é a vida real exactamente. É um teste artificial, no qual seleccionamos dentro das populações possíveis aquela população que a vacina poderia ser testada com a barra mais alta. Fizemos deliberadamente para colocar o teste mais difícil para essa vacina, porque se a vacina resistir a esse teste, iria se comportar infinitamente melhor em níveis comunitários”, explicou Ricardo Palácios.
A apresentação dos resultados contou com a participação de profissionais independentes, que integram o programa de pesquisa do Butantan e também médicos infectologistas ligados a universidades e outros órgãos científicos de investigação.
Natália Pasternak, microbiologista e directora do Instituto Questão de Ciência, avaliou que, numa análise de risco e benefício da CoronaVac, é possível prever que o risco pessoal de quem tomar o medicamento é quase zero já que os efeitos adversos são mínimos.
“Nunca falamos, desde o início da pandemia, que queríamos a vacina perfeita. Queremos a vacina que nos permita sair desta situação pandémica e isto a CoronaVac tem o potencial de fazer. É uma vacina que vai nos permitir começar este processo de controlo da pandemia”, avaliou a Natália Pasternak.
“Não tem justificativa para não usar uma vacina que é adequada para o país, que tem esta condição de risco e benefício e que tem o benefício de reduzir a doença em pelo menos 50%. É uma vacina boa, além desta redução de risco de 50%, ela tem o potencial de reduzir com o percentual maior, provavelmente maior, a manifestação grave da doença e as mortes”, concluiu.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.945.437 mortos resultantes de mais de 90,8 milhões de casos de infecção em todo o mundo.