Partidos preocupados com incapacidade dos centros de saúde para vacinação ampla
PSD e CDS alertam para sobrecarga dos centros de saúde, PCP, BE, PEV e PAN insistem na necessidade de mobilizar mais meios. A operação pode decorrer em pavilhões ou nas juntas de freguesia, admitem os partidos.
Com a vacinação contra a covid-19 dos profissionais de saúde a decorrer sem sobressaltos, o momento mais preocupante da execução do plano é apontado quando os centros de saúde – já “sobrecarregados” – começarem a chamar os utentes com mais de 50 anos (e com doenças associadas) para dar a vacina. Utentes sem médico de família ou com dados pessoais desactualizados são algumas das preocupações manifestadas pelo PSD e pelo CDS. Tanto o PAN como o PEV também sugerem a criação de centros de vacinação em pavilhões ou nas juntas de freguesia. PCP e Bloco insistem na contratação de recursos para cumprir o plano com sucesso no âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Sem uma contestação directa às prioridades definidas pelo plano de vacinação, os partidos parecem pouco optimistas sobre a fase que sucede à dos profissionais de saúde e que passa a operação para as unidades de cuidados primários, uma transferência que significa um salto para centenas de milhares de vacinas. “Os centros de saúde não têm a informação de todos. Alguns utentes são seguidos no sector social e privado. Como é que se garante que ninguém fica para trás?”, questiona o social-democrata Ricardo Baptista Leite, lembrando ainda o problema da vacinação nos lares ilegais. A ministra da Segurança Social identificou 788 instituições clandestinas a funcionar e que serão abrangidas pela vacinação, mas uma associação representativa de lares e casas de repouso refere que esse número ultrapassa os três mil.
Para chegar ao fim de todo este ano com a população vacinada, Ricardo Baptista Leite refere que era preciso administrar, em média, 20 mil vacinas por dia. “Os centros de saúde não são o local ideal para atrair a população mais vulnerável”, defende.
Lembrando que a cadência da chegada de vacinas também irá influenciar a capacidade de inocular, a deputada do CDS Ana Rita Bessa antevê problemas na fase em que os centros de saúde assumem o protagonismo no plano. “Haverá um afluxo de carga administrativa nos centros de saúde que já estão sobrecarregados”, disse, referindo que há milhares de utentes sem médicos de família. Por outro lado, há falta de comunicação entre as várias unidades de saúde: “Posso ter sido operada num hospital e o meu médico assistente não sabe”. Ana Rita Bessa considera que “não houve um trabalho preparatório atempado” sobre a execução dessa fase do plano.
SNS ao encontro de utentes isolados
A deputada do PAN, Bebiana Cunha, concorda com a necessidade de criar outros espaços para administrar vacinas. “É fundamental que se agilize as autarquias para criar centros de vacinação para tirar pressão às unidades de cuidados de saúde primários”, diz.
Em linha com o que é defendido pelo BE, PCP e PEV, a deputada considera que essa solução “implica alocar mais recursos humanos para o efeito nomeadamente porque os centros de saúde têm muito trabalho em mãos”.
A criação de espaços de vacinação próprios não choca o bloquista Moisés Ferreira. Com o reforço de recursos humanos associado, deputado defende, no entanto, que seja o SNS a deslocar-se para ir ao encontro de “pessoas isoladas em aldeia, com pouca mobilidade ou acamadas”.
“Tendo em conta o volume da população a vacinar tem de haver uma resposta de vacinação que não tenha impacto na actividade programada, mais do que a pandemia já está a ter”, alerta o deputado.
A identificação das necessidades de pessoal médico e administrativo já devia estar a ser feita neste momento, avisa a comunista Paula Santos. A deputada não questiona os critérios definidos para os grupos prioritários mas pede um esclarecimento: “Os bombeiros estão incluídos na vacinação da primeira fase?” A dúvida já foi levada ao Governo pelo PCP e também pelo PSD, mas ainda sem resposta. Há também dúvidas quanto ao motivo por que é que os doentes oncológicos não estão abrangidos pela primeira fase da vacinação. Paula Santos sublinha que a decisão cabe ao Governo “tendo em conta a evidência científica”, mas estas e outras dúvidas levam o PSD e o CDS a pedir o acesso aos modelos científicos que estiveram na base da definição dos grupos prioritários para a vacinação. Os dois deputados não contestam as escolhas, mas gostavam de perceber por que é que não se optou, como noutros países, por vacinar primeiro todas as pessoas com mais de 75 anos.
A mesma posição de não questionar o plano é assumida por Mariana Silva, de Os Verdes. “O que nos preocupa é que havendo as datas para vacinar a população como assumiu a ministra da Saúde não se contratem profissionais de saúde e administrativos para chamar os utentes”, refere, mostrando concordância com a possibilidade de se usarem as juntas de freguesia como espaços alternativos à vacinação nos centros de saúde.
No pólo oposto ao da esquerda, a Iniciativa Liberal (IL) questiona o motivo pelo qual as vacinas são administradas exclusivamente no SNS. “Tal como temos visto com os testes covid, o Estado pode financiar e organizar o processo, mas não tem de ser o prestador exclusivo, podendo os privados ajudar nessa oferta pública”, segundo o partido liderado por João Cotrim Figueiredo. A IL também põe em causa a prioridade pela “natureza pública ou privada” da saúde ao verificar que “há alguns profissionais de saúde em hospitais privados expostos à covid que não estão a ser vacinados”.
Informação, precisa-se
A falta de informação sobre a vacinação, seja sobre a sua segurança, seja sobre os números da sua execução, é uma das principais reclamações dos partidos. Moisés Ferreira defende que é preciso uma campanha de comunicação sobre a segurança da vacina enquanto Paula Santos diz que todos têm de ter a informação suficiente para tomar uma decisão consciente sobre a sua toma.
Como forma de escrutínio a toda a operação, o PSD pede que a Plataforma de Monitorização da Administração das Vacinas anticovid disponibilize dados como qual o número de pessoas vacinadas por grupos de risco; quantas pessoas foram vacinadas por região/concelho e quantas vacinas estão a ser ministradas, em média, por dia.
Por outro lado, Ana Rita Bessa afasta a ideia de dar um “passaporte de imunidade” e também não defende a criação de um registo das pessoas que não se querem vacinar como existe em Espanha.