Covid-19: Composição do microbioma pode influenciar gravidade da doença

Equipa de cientistas chineses analisou amostras de sangue e fezes e registos médicos de 100 doentes hospitalizados por covid-19, bem como de 78 pessoas saudáveis participantes num estudo anterior à pandemia.

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A composição do microbioma - as bactérias do intestino -- pode influenciar a gravidade do covid-19, bem como a magnitude da resposta do sistema imunitário à infecção, segundo uma investigação da Universidade Chinesa de Hong Kong.

Os desequilíbrios na composição do microbioma também podem estar implicados na persistência dos sintomas inflamatórios uma vez superada a doença, indica a investigação, publicada na revista Gut, do grupo que edita a revista British Medical Journal.

O intestino é o maior órgão imunitário do corpo humano e sabe-se que as bactérias que nele estão influenciam as respostas imunitárias, pelo que os investigadores queriam averiguar se o microbioma pode afectar a resposta do sistema imunitário à infecção com o novo coronavírus, assinalou a revista em comunicado.

Os investigadores chineses obtiveram amostras de sangue e fezes e registos médicos de 100 doentes hospitalizados por covid-19, entre Fevereiro e Maio de 2020, bem como de 78 pessoas saudáveis que participaram num estudo anterior à pandemia.

Para caracterizar o microbioma, 41 dos doentes com covid-19 deram várias amostras de fezes durante a sua estadia no hospital e 27 continuaram a fazê-lo 30 dias depois de terem eliminado o vírus.

A análise das amostras de fezes mostrou que a composição do microbioma “diferia significativamente” entre os doentes com e sem a doença, independentemente de terem sido tratados com medicamentos, incluindo antibióticos.

Os doentes com covid-19 tinham um maior número de bactérias Ruminococcus gnavus, Ruminococcus torques e Bacteroides dorei que as pessoas sem a infecção e “muito menos espécies que podem influir na resposta do sistema imunitário”.

Neste sentido, os números mais baixos do Bifidobacterium adolescentis, Faecalibacterium prausnitzii e Eubacterium rectale “associaram-se particularmente com a gravidade da infecção, depois de ter em conta o uso de antibióticos e a idade do doente”.

Para mais, o número destas últimas bactérias permaneceu baixo nas amostras recolhidas até 30 dias depois.

Por outra parte, a covid-19 faz com que o sistema imunitário produza citoquinas inflamatórias, que por vezes podem ser excessivas, desencadeando a chamada “tempestade de citoquinas”, que provoca uma deterioração generalizada dos tecidos, choque séptico e falência multiorgânica.

A análise das amostras de sangue mostrou que o desequilíbrio microbiano encontrado nos doentes com covid-19 “também estava associado a níveis elevados de citoquinas inflamatórias e marcadores sanguíneos de destruição tecidual”.

Isto “sugere que o microbioma intestinal poderia influir na resposta do sistema imunitário” à infecção com o novo coronavírus e “afectar potencialmente a gravidade da doença”, segundo os investigadores.

Uma parte dos doentes que superaram a doença experimentaram sintomas persistentes como fadiga, falta de ar e dores nas articulações, que chegaram a manifestar-se até 80 dias depois do aparecimento dos sintomas.

Por isso, a equipa coloca a possibilidade de um microbioma intestinal em desequilíbrio “poder contribuir para os problemas de saúde relacionados com o sistema imunitário depois da covid-19”.

Os autores especificam que o seu estudo é de tipo “observação”, pelo que não se pode estabelecer a causa, além de que o microbioma varia muito entre populações, pelo que as alterações observadas “podem não ser aplicadas em outras doentes com a covid-19 em outros locais”.

Contudo, destacam “a crescente evidência que mostra que os micróbios intestinais estão vinculados a doenças inflamatórias dentro e fora do intestino”.