Cuidadores de casas de acolhimento de crianças e jovens sem prioridade na vacina
Desde o início da pandemia, unidades residenciais para crianças e jovens em perigo têm sido equiparadas a estruturas residenciais para idosos, mas não desta vez.
A dúvida propaga-se entre estruturas de acolhimento de crianças e jovens em perigo. Está ou não quem ali trabalha entre os grupos prioritários definidos para a vacinação contra a covid-19? Se não estão, duas associações e alguns supervisores pedem às entidades competentes que inclua.
Questionado pelo PÚBLICO, Francisco Ramos, coordenador da Task Force para o Plano de vacinação contra a COVID-19 em Portugal, esclareceu que aqueles profissionais não integram a primeira fase, nem sequer a segunda. Deverão ser vacinados já na terceira, a prevista para a população em geral.
O pedido de esclarecimento foi enviado esta sexta-feira numa mensagem assinada pela Ajudajudar – Associação para a Promoção dos Direitos das Crianças e Jovens, a PAJE – Plataforma de Apoio a Jovens Ex-Acolhidos e alguns supervisores de casas de acolhimento. Para Francisco Ramos, mas também para a directora-geral de Saúde, Graça Freitas, e para o presidente do Instituto de Segurança Social, Rui Fiolhais.
Até agora, nenhuma informação chegou pelos canais oficiais àquelas estruturas geridas por instituições de solidariedade e tuteladas pela Segurança Social. Desde o início da pandemia, foram sistematicamente equiparadas a estruturas residenciais para idosos, o que gerou polémica no que diz respeito ao regime de saídas e à obrigação de isolamento profiláctico. Havia, por isso, expectativa que essa lógica se mantivesse no plano de vacinação, que coloca na primeira fase “profissionais e residentes em lares e instituições similares”.
São estruturas de tamanho variável. Podem ter dez, 20, 30 ou mais crianças e jovens, que frequentam a escolas e outras actividades e recebem visitas ou visitam as suas famílias. E cuidadores que mantêm contactos diários e a sua rotina no exterior.
“O facto de os cuidadores destas crianças se sentirem em risco acaba por condicionar a dinâmica das casas e a relação com as crianças”, observa Sónia Rodrigues, presidente da AjudAjudar. O distanciamento físico tem efeitos nas crianças, “especialmente nestas que têm tantas necessidades afectivas”. “Fica muto dificultada toda esta componente importante do trabalho do cuidador.”
Aquela especialista em acolhimento residencial, também ela supervisora de casas de acolhimento, lembra que as equipas têm funcionado em espelho. “Isso obriga a que não haja tantos cuidadores na hora em que as crianças estão em casa. Isto também dificulta a vida na casa, o cuidado com as crianças.”
“A vacinação não permite nenhum alívio das regras de segurança”, salienta Francisco Ramos. “Se o argumento é que devem aliviar… É importante perceber que até chegarmos à tal imunidade de grupo não há imunidades individuais. As regras de segurança têm de ser mantidas integralmente”, diz, numa alusão à distância física, ao uso de máscara e à frequente higienização das mãos.