João Ferreira acusa saúde privada de se pôr “ao fresco”

Comunista defendeu que mesmo com o desinvestimento, o SNS “está a revelar-se essencial para, numa altura tão difícil e tão exigente, proteger a saúde dos portugueses”.

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João Ferreira (PCP) Manuel Roberto

O candidato à Presidência da República João Ferreira acusou nesta segunda-feira as entidades privadas de saúde de se porem “ao fresco” na “hora do aperto” e de “desertarem” nos momentos difíceis, como é o combate à pandemia de covid-19.

“Percebemos hoje que aquele negócio que cresceu à sombra do desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde, porque foi quando se começou a desinvestir no SNS que começou a nascer e a proliferar o negócio privado da doença, percebermos hoje que na hora do aperto, esses, os grupos económicos que fazem esse negócio, põem-se ao fresco”, afirmou.

O candidato apoiado pelo PCP iniciou o segundo dia oficial da campanha para as presidenciais em Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, com uma sessão pública no auditório António Chainho, com 242 lugares e onde estavam pouco mais de meia centena de pessoas no público.

Durante a sua intervenção, o eurodeputado sublinhou que as entidades privadas de saúde “desertaram do combate no momento mais difícil”, assim “como desertam de tudo aquilo que não lhes assegure perspectivas de lucro”.

Por outro lado, elogiou o Serviço Nacional de Saúde, “que mesmo com o desinvestimento de que foi sendo alvo, está a revelar-se essencial para, numa altura tão difícil e tão exigente, proteger a saúde dos portugueses”.

Ainda abordando a área da saúde, João Ferreira aproveitou para lamentar a desvalorização da produção nacional, dando o exemplo de “sectores da indústria de ponta”, como a produção de medicamentos e vacinas e ilustrando essa ideia com o caso alemão.

Lembrando que na origem das vacinas criadas na Alemanha esteve tecnologia desenvolvida por cientistas portugueses, o eurodeputado considerou que seria importante que, “além da tecnologia que lhe deu origem, pudessem estar as fases subsequentes de desenvolvimento dessa vacina”.

Se assim fosse, referiu, Portugal estaria “em condições de fazer hoje aquilo que a Alemanha está a fazer neste momento”, porque “já encomendou a essa empresa mais vacinas até do que aquelas que lhe caberia por via do mecanismo de distribuição criado ao nível da União Europeia”.

Para João Ferreira, este exemplo demonstra a importância de o país “não desaproveitar os seus recursos e potencialidades e não desvalorizar a produção nacional”, pois “só produzindo mais” é que o país poderá “dever menos ao exterior”.

Respondendo a uma questão do público sobre o desinvestimento no SNS, o candidato considerou ainda que “não há valorização do SNS sem valorizar os profissionais”, frisando que não basta “bater-lhes palmas” e que os trabalhadores da área da Saúde “não têm sido valorizados e cuidados”.

Defender a Constituição na Casa do Alentejo

Durante a tarde, o candidato advertiu que o novo coronavírus não se combate com cortes salariais e bancos de horas “encapotados”, mas sim respeitando os direitos dos trabalhadores e valorizando os seus salários.

“O vírus não se combate com cortes salariais, com bancos de horas encapotados, com horas negativas, com a precarização dos vínculos laborais, com o contínuo desinvestimento nos trabalhadores. (...) Pelo contrário, o vírus combate-se respeitando direitos, com mais investimento, valorizando salários dos trabalhadores”, argumentou.

João Ferreira falava durante uma sessão sob o tema “Direito ao trabalho e ao trabalho com direitos. Defender a Constituição”, na Casa do Alentejo, em Lisboa, que contou com a presença da secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha.

Antes da sua intervenção, Isabel Camarinha classificou a candidatura do PCP e PEV como “essencial e insubstituível”, por defender um “novo modelo de desenvolvimento” e ser aquela “que em melhores condições está de defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição”.

A sessão arrancou com um conjunto de intervenções de representantes de comissões de trabalhadores de empresas e activistas sindicais de diversas áreas profissionais, cujos discursos se centraram na precariedade e no facto de a pandemia de covid-19 ter vindo a aumentar a insegurança laboral.

Para João Ferreira, aqueles testemunhos “confirmam uma realidade económica e social que é urgente modificar”, missão que diz estar na base da sua candidatura, que “escolhe como prioridade defender e valorizar os trabalhadores”.

Respondendo a críticas que acusam a sua candidatura de não abandonar “a cassete da política laboral”, o eurodeputado sublinhou que essa é uma acusação que o orgulha, já que um dos propósitos da sua candidatura é a defesa dos direitos laborais.

“Nos últimos dias, a propósito de debates que terão causado amargos de boca a certos comentadores, houve quem viesse acusar esta candidatura de não abandonar a cassete da política laboral. Pois essa é uma acusação que muito me orgulha, são medalhas que esta candidatura carrega”, afirmou.