Morreu o meu último professor… Homenagem a António de Oliveira
As homenagens prestadas aos historiadores não passam geralmente de um convívio com os colegas, de um apontamento num jornal local ou — e esta é a melhor forma de os lembrar — da leitura ou releitura dos seus livros pelos poucos que se atrevem a tentar encontrar as razões da vida de outros tempos e de agora. Por isso quis deixar aqui o meu testemunho.
Não tenho do meu curso de História, na época de 1960 a 1966, ano em que defendi a tese de licenciatura, uma imagem essencialmente positiva, conforme já o disse num livro, História… Que História?, publicado pela editora Temas e Debates em 2015. A nossa ciência era então vista de uma forma “narrativista” e “acontecimental”. As cadeiras que estimulavam a minha reflexão crítica — aprendida no liceu com Alberto Martins de Carvalho — fui buscá-las particularmente à Filosofia e à História da Cultura, em que ensinavam professores, de diversas concepções, oriundos de outras áreas: Sílvio Lima (em 1935 demitido por Salazar, mas que pudera regressar nos anos 40), o qual reflectia, nas suas lições inesquecíveis, sobre os princípios da teoria da História; Miranda Barbosa, que recordo sobretudo pela forma didáctica com que nos explicava as complexas teses filosóficas, com particular menção para a fenomenologia husserliana; Miguel Baptista Pereira, com quem aprendi dentro e fora das aulas a filosofia e muitas coisas da vida; Maria Helena Rocha Pereira, que nos mostrou com rara sensibilidade e conhecimento a cultura grega; Joaquim Ferreira Gomes (também demitido no tempo de Marcello Caetano, felizmente só por breves e angustiantes dias), neste caso mais pelo convívio e pelas suas considerações críticas emitidas ao longo da vida do que nas suas aulas; e Silva Dias, o meu verdadeiro mestre, não tanto pelas aulas de História da Cultura Moderna e de História da Cultura Portuguesa, mas mais pela forma crítica como orientou as minhas primeiras pesquisas históricas.
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