João Ferreira critica Marcelo e diz que o país precisa de um Presidente que “não se canse de lutar” por todos
No comício de abertura oficial da campanha para as presidenciais, no Coliseu do Porto, o candidato apelou ao “voto seguro” para se abrir “um horizonte de esperança”.
O candidato presidencial João Ferreira aproveitou a abertura oficial da campanha para a Presidência da República para dizer que a sua candidatura “é indispensável e insubstituível” e que nenhuma outra assumiu, como a sua, a Constituição e a defesa da democracia e da liberdade. “Nenhuma outra assumiu, como nós, a Constituição da República Portuguesa como o centro do seu programa e como bandeira da sua candidatura, os valores de Abril que ela comporta e o projecto de futuro que ela inclui”.
Recebido por um Coliseu do Porto cheio (dentro dos limites impostos pelas regras da Direcção-Geral de Saúde), João Ferreira começou por afirmar que esta é uma campanha diferente por causa das restrições da pandemia, mas isso não o vai fazer desistir de mobilizar as pessoas para o voto. “Não está a ser uma campanha diferente. Não participarei em almoços, jantares e arruadas, tomaremos todas as medidas de protecção sanitária necessárias, mas não desistiremos de fazer o trabalho necessário para assegurar o esclarecimento e a mobilização necessários ao voto no dia 24 de Janeiro para que “se abra um horizonte de esperança”.
Durante quase meia hora, o candidato à Presidência da República alinhou prioridades e apontou diferenças entre a sua candidatura e a dos outros candidatos presidenciais, mas foi para Marcelo Rebelo de Sousa que apontou baterias, embalado pela intervenção feita momentos antes pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que cometeu uma gafe logo no início da sua intervenção. Dirigindo-se à plateia, Jerónimo saudou-a como “povo de Lisboa”. “É daqueles erros que não se cometem”, disse.
“Foram opções contrárias à letra e ao espírito da Constituição que tornaram as relações laborais ainda mais desequilibradas em desfavor da parte mais fraca, os trabalhadores, a partir de legislação promovida pelos sucessivos governos muito antes da troika, durante a troika e depois da troika, e já durante o mandato do actual Presidente da República que a promulgou sem pestanejar”, apontou João Ferreira.“Desvalorização dos salários, desregulação dos horários de trabalho, precariedade generalizada, direitos atacados e limitados, como o direito à contratação colectiva, procurando quebrar o que faz a força dos trabalhadores - a sua unidade. Tudo isto é retrocesso”, denunciou, acrescentando que “nada disto pode ser aceite por quem queira defender o progresso”.
Aplaudido por diversas vezes, o candidato presidencial apoiado pelo PCP sossegou a plateia ao dizer que nesta batalha eleitoral vai honrar o imenso património de luta. “Aqui estamos, nesta batalha eleitoral, honrando um imenso património de luta, com a mesma determinação com que estivemos no 1.º de Maio e em todas as lutas que foi e é necessário travar, para colocar no centro da acção política a valorização do trabalho e dos trabalhadores”, prometeu.
João Ferreira proclamou de seguida: “Precisamos de um Presidente da República que tenha os seus primeiros afectos para os imprescindíveis deste país, para quem trabalha e trabalhou, para quem, nestes tempos duros e inquietantes saiu de casa todos os dias, ou foi obrigado a ficar em casa, para manter o país a funcionar, em todas as áreas da vida económica e social.”
“Precisamos de um Presidente da República que, a partir dos seus poderes, não se canse de lutar para que “todos os trabalhadores, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, [todos tenham] direito à retribuição do trabalho, observando-se o princípio de que para trabalho igual salário igual, à organização do trabalho, de forma a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar, à prestação do trabalho em condições de higiene, segurança e saúde, ao repouso e aos lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho, ao descanso semanal e a férias periódicas pagas”, à protecção no desemprego, “à assistência e justa reparação, quando vítimas de acidente de trabalho ou de doença profissional”, declarou. E reiterou: “Tudo isto está escrito nas páginas da Constituição. Nada disto pode ser letra morta nas páginas da Constituição.”
Para o candidato, “foram caminhos contrários ao sentido que aponta a Constituição, que levaram à degradação das respostas nos serviços públicos, entre os quais a escola pública, a braços com a falta de investimento, com a falta de pessoal docente e não docente, com a desvalorização das suas carreiras e profissões, como aliás, na generalidade da administração pública”.
Ao longo do comício, o candidato não se cansou de dizer que o seu projecto presencial passa pela “defesa dos serviços públicos e das funções sociais do Estado (…)”. “Aqui estamos para lembrar que ao Presidente da República cabe defender o direito de todos a Educação, à Saúde, à Segurança Social, não por razão de opinião ou ideológica, mas porque é isso que determina a Constituição”.
E não esqueceu os jovens a quem tem dado voz nos seus debates televisivos com outros candidatos. “Quisemos com esta candidatura denunciar também que aos jovens do nosso país, tem-lhes sido negada a protecção especial a que têm direito, porque está inscrita na Constituição. No acesso ao emprego, à educação, ao desporto, à cultura, à autonomia e autodeterminação de cada um. E estamos a levantar a bandeira, juntamente com tantos jovens, do combate ao racismo, à xenofobia e às discriminações que outros elegeram como tema central da sua acção”, declarou.
Antes de fazer um apelo ao “voto seguro”, João Ferreira sublinhou que aqueles que a apoiam a sua candidatura” não são meros espectadores da política feita espectáculo. São sim participantes de corpo inteiro, que abraçam, o que de mais nobre tem a actividade política, são candidatos, como eu, que lutam por um Portugal mais justo, próspero e soberano”, estava dado o recado.