Novas restrições mudam campanha – candidatos ajustam horários, cancelam jantares e arruadas

Candidato apoiado pelo PCP mudou para as 11h eventos marcados para a tarde deste fim-de-semana. Marcelo admite que a sua campanha se vai basear nos debates e entrevistas e que não poderá fazer visitas a instituições. Ventura mantém arruadas mas promete limitar participantes nos desfiles e comícios.

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Campanha de 2016

Numa altura em que, num ano normal, as caravanas dos candidatos presidenciais já estavam com os planos para as próximas das semanas bem delineados, desta vez os 14 dias de campanha eleitoral são quase uma incógnita ou pelo menos apenas um esboço. O anúncio do primeiro-ministro sobre as restrições à circulação e recolhimento obrigatório a partir das 13h para este fim-de-semana já levou à mudança de planos de todos os candidatos presidenciais. E a expectativa sobre um novo confinamento a começar no dia 16 (ou até antes) coloca tudo ainda mais em perspectiva.

O primeiro a anunciar retoques ao programa foi João Ferreira, que cancelou almoços, jantares, arruadas e desfiles, mudou os eventos da tarde, como o comício de arranque oficial da campanha, no domingo, no Porto, para as 11h, e reduziu ainda mais o público nos eventos. O PCP resistiu sempre a cancelar iniciativas políticas, como a Festa do Avante! ou o seu congresso, mas desta vez o candidato apoiado pelo partido foi o mais célere a anunciar ajustes.

De acordo com o gabinete de imprensa de João Ferreira, tendo em conta a evolução recente da pandemia, com o aumento diário de casos positivos a rondar os dez mil, a programação da campanha está “em revisão, designadamente com a anulação de acções de almoços, jantares, arruadas e desfiles”.

Já neste fim-de-semana, os comícios previstos para Silves (18h de sábado, na Fissul) e no Porto (15h de domingo, no Coliseu), foram mudados para as 11h de forma a encaixarem no horário em que é permitido circular na via pública. A organização também anunciou que vai limitar o número de participantes nestes comícios para metade do que já se previa (e que já estava em lotação reduzida).

O gabinete garante que a concepção da campanha foi feita de modo a assegurar o “esclarecimento e participação com a necessária protecção e prevenção sanitária” tendo em conta as circunstâncias de saúde pública devido à pandemia. “A agenda da campanha está assim a ser construída em função das condições concretas da epidemia e sua evolução, introduzindo as alterações de agenda correspondentes, com vista a garantir a protecção sanitária sem prescindir da acção de mobilização e participação que em si mesmo valorizam e dignificam este acto eleitoral.”

Ou seja, são cancelados eventos que implicariam maior proximidade entre os apoiantes e até onde não se usaria máscara em parte do tempo (refeições), mas manter-se-ão “iniciativas de esclarecimento cujas características e organização permitam assegurar todas as condições de protecção sanitárias, nomeadamente sessões públicas”. Como a que João Ferreira tinha agendada para esta sexta-feira de manhã junto ao porto de pesca de Sesimbra, que se realizou como previsto.

Ana Gomes não sai durante o recolher obrigatório

Já Ana Gomes não tem qualquer acção de campanha durante os períodos de recolher obrigatório. Na pré-campanha, que durou cerca três meses e em que a candidata já palmilhou milhares de quilómetros por todo o país, o planeamento foi constantemente alterado e o mesmo já aconteceu na preparação do período oficial, que decorre entre os dias 10 e 22.

Por essa razão, a sua campanha será praticamente planeada de um dia para o outro. O tiro de partida é dado na manhã deste domingo no distrito de Setúbal, com passagens por Sesimbra, Quinta do Conde e Barreiro, com um programa que termina às 13h, altura em que começa o recolher obrigatório. 

À chegada à SIC, na última quarta-feira, para o debate com André Ventura, Marcelo Rebelo de Sousa deixou antever que a sua campanha será centrada nos debates televisivos e nas entrevistas das próximas semanas. Nesse dia, o Presidente esteve em isolamento profiláctico durante algumas horas, já que um elemento da sua Casa Civil soube estar infectado com o vírus SARS-CoV-2.

“A própria determinação da autoridade de saúde impõe-me uma vigilância passiva, o que implica não ir para aglomerações significativas durante 14 dias. Uma entrevista não é uma aglomeração significativa, um debate também não, mas algumas iniciativas de visitas a instituições já podem ser. A contar catorze dias desde dia 4 [quando tinha contactado com o assessor entretanto detectado positivo] dá até 18 de Janeiro. É uma grande limitação”, explicou.

Tiago Mayan Gonçalves, o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, revelou na quarta-feira, durante o debate com João Ferreira, que não está a fazer uma campanha habitual por causa da pandemia e foi taxativo a afirmar que não fará “o que não é permitido ao cidadão comum” e que respeitará as “medidas avulsas de restrição da circulação”, apesar de não concordar com elas. 

Ventura mantém arruadas mas com menos gente

Quem já está com os dois pés na rua é André Ventura, que neste fim-de-semana tem iniciativas de campanha, incluindo um jantar no sábado à noite com a participação de Marine Le Pen cujo plano está aprovado pela DGS, garante a assessoria. O candidato mantém o plano inicial de visitar todos os distritos para “conhecer os problemas de cada região” e admite que está a ser estudada a redução para metade dos participantes em eventos, que já estavam limitados a 150 pessoas, e repensadas as arruadas, que poderão ser trocadas por eventos em auditórios. Mas nesta sexta-feira ao início da noite a assessoria reiterou a manutenção da concentração em Serpa (domingo) e das arruadas em Faro (segunda-feira), Évora (terça) e Santarém (quarta).

“A campanha irá decorrer da forma mais minimalista possível, com o menor número de pessoas envolvidas”, tanto nos desfiles como nos comícios. “Neste aspecto vamos analisando quase dia a dia, na medida em que poderá haver diferentes medidas em diferentes zonas do país.” A campanha de Ventura vai distribuir máscaras, desinfectantes e “zelar para que seja cumprido o distanciamento social exigido nesta fase”.

Do lado de Marisa Matias, a candidatura da eurodeputada bloquista já tinha excluído várias actividades realizadas em campanhas anteriores. Ao PÚBLICO, o dirigente bloquista Adriano Campos lembra que “nunca estiveram previstas arruadas, nem almoços ou jantares de campanha” e que todas as iniciativas serão adaptadas ao contexto de pandemia. “Já estava definido que a campanha cumprirá todas as regras de segurança sanitária”, declarou. Além disso, “todos os elementos da campanha serão testados, tendo sido pedido o mesmo aos jornalistas que acompanham Marisa Matias”.

Vitorino Silva também já fez alguns ajustes, acabando por cancelar iniciativas que tinha marcadas para este fim-de-semana, por causa do recolher obrigatório. Assim, a sua campanha só arranca oficialmente na segunda-feira (11), com uma dádiva de sangue. com Luciano Alvarez

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