2020 foi o ano mais quente de sempre na Europa

O relatório anual do programa Copérnico concluiu que a década de 2010-2020 foi a mais quente da história.

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PHILIPP GUELLAND/EPA

O ano de 2020 foi o mais quente da história na Europa e a nível mundial igualou o recorde de 2016, segundo o relatório do programa europeu de observação terrestre Copérnico divulgado esta sexta-feira. O relatório anual do Copérnico concluiu que a década de 2010-2020 foi a mais quente da história, fechando 2020 com um aumento de 0,4 graus Celsius face a 2019.

O relatório indica também que as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera continuaram a aumentar ao longo do ano passado a uma taxa de aproximadamente 2,3 partículas por milhão (ppm) com pico de 431 ppm durante o mês de Maio.

O ano de 2020 foi 0,6 graus Celsius mais quente do que a média entre 1981 e 2010 e cerca de 1,25 graus acima do período pré-industrial de 1850-1900. De acordo com essas observações, o maior aumento anual de temperatura em relação à média de 1981-2010 concentrou-se no oceano Árctico e no Norte da Sibéria, atingindo mais de seis graus Celsius acima da média.

A temporada de incêndios florestais na região do Árctico foi extremamente activa, com fogos registados pela primeira vez em Maio e que continuaram durante todo o Verão e até no Outono. Como resultado, os incêndios no Círculo Polar Árctico libertaram um recorde de 244 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2020, mais de um terço a mais do que o recorde de 2019, acrescenta o relatório Copérnico.

Durante a segunda metade do ano, o gelo do Árctico ficou significativamente abaixo da média para aquela época do ano, com a menor extensão de gelo do mar registada em Julho e Outubro.

Em geral, o Hemisfério Norte teve temperaturas acima da média durante 2020, enquanto algumas partes do Hemisfério Sul registaram temperaturas abaixo da média, especialmente no Pacífico equatorial oriental, associadas a condições mais frias, que se desenvolveram durante a segunda metade do ano. Por sua vez, os incêndios de 2020 no Árctico e na Austrália representam apenas uma pequena fracção das emissões globais de incêndios.

“Embora as concentrações de dióxido de carbono tenham aumentado um pouco menos em 2020 do que em 2019, isso não é motivo para comemoração. Até que as emissões globais sejam reduzidas a zero, o dióxido de carbono continuará a acumular-se e impulsionar as mudanças climáticas”, disse Vincent-Henri Peuch, director do Serviço de Monitorização Atmosférica do Copérnico.

No contexto da pandemia de covid-19, o Sistema Integrado de Observação de Carbono estimou que em 2019 houve uma redução de cerca de 7% nas emissões de dióxido de carbono decorrentes do consumo de combustíveis fósseis devido ao declínio geral da mobilidade. O projecto Copérnico, uma iniciativa da União Europeia em conjunto com a Agência Espacial Europeia, visa observar o ambiente para melhor compreender as alterações ambientais que ocorrem na Terra.

Para os cientistas, estes dados chamam a atenção para a necessidade de países e empresas reduziram as emissões de gases com efeito de estufa com rapidez para que se possam alcançar os objectivos do Acordo de Paris e evitar uma catástrofe das alterações climáticas. Neste acordo negociado por 195 países em 2015, a comunidade internacional comprometeu-se a limitar a subida da temperatura abaixo dos dois graus Celsius a prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais até 2100.

“Os grandes acontecimentos climáticos de 2020 e os dados do Serviço de Monitorização Atmosférica do Copérnico mostram-nos que não temos tempo a perder”, afirmou à agência Reuters, Matthias Petschke, director para o espaço na Comissão Europeia. “A chave aqui é… reduzir a quantidade que emitimos”, diz por sua vez Freja Vamborg, cientista do Copérnico.

Esta sexta-feira, também o Met Office (serviço nacional de meteorologia do Reino Unido) alertou que a actividade humana impulsionará já este ano as concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera para níveis 50% superiores aos valores pré-industriais. As emissões dos combustíveis fósseis e a desflorestação farão com que o CO2 se continue a acumular na atmosfera em 2021 e espera-se que a sua concentração exceda as 417 ppm durante várias semanas entre Abril e Junho pela primeira vez. Este valor seria assim 50% superior ao do início da era industrial, que era de 278 ppm.

Esse pico anual será, provavelmente, seguido por uma queda cíclica devido ao crescimento das plantas no Hemisfério Norte no Verão, que absorverão CO2. A partir de Setembro, os níveis de CO2 voltarão a subir e a concentração anual média de gases com efeito de estufa rondará os 416,3 ppm, indica o Met Office.

“A acumulação de CO2 causada pelo humano na atmosfera está a acelerar”, afirma Richard Betts, cientista do Met Office, citado pela Reuters. “Demorou mais de 200 anos para que os níveis aumentassem em 25%, mas agora em apenas 30 anos vamos aproximar-nos de um aumento de 50%.”

Depois de os valores terem caído na última Primavera devido à pandemia, as emissões voltaram agora, no geral, aos valores pré-pandémicos, refere ainda o serviço de meteorologia. Contudo, espera-se que a acumulação de CO2 seja um pouco mais lenta do que o normal em 2021, uma vez que os padrões climáticos ligados ao fenómeno La Niña deverão impulsionar um crescimento florestal que absorverá algumas emissões.