O que aconteceu a Jack Ma, um dos homens mais ricos da China, que não é visto há mais de dois meses?
O fundador da Alibaba não é visto em público desde Outubro, quando criticou as autoridades de regulação chinesas e os bancos estatais.
Quando o fundador do site Alibaba e que até há pouco tempo era o homem mais rico da China, Jack Ma, não apareceu para o episódio final de um concurso em que deveria ter feito parte do júri, a desconfiança aumentou: por que não aparece Ma em público há dois meses? E precisamente quando a última intervenção do multimilionário foi para criticar o organismo regulador chinês, e quando as suas empresas estão sujeitas a uma série de processos antimonopólio ou de regulação.
Duncan Clark, presidente da empresa de tecnologia BDA China, especulou que Ma poderia estar a tentar não chamar a atenção por causa de novas regras que afectam as suas empresas, segundo a agência Reuters.
Um jornalista da estação de televisão americana CNBC que entrevistou Ma no passado disse, na terça-feira, que o empresário não está desaparecido, mas sim “menos visível, propositadamente”. O jornalista, David Faber, garante que Ma “não foi preso, não foi levado, e, seja como for, não se espera que o Governo venha a fazer algo contra ele”.
Depois destas declarações, as acções da Alibaba nos EUA valorizaram 5,5% na terça-feira, fechando a 240 dólares.
Não é inédito que figuras poderosas ou famosas (e Ma é também uma espécie de estrela pop) desapareçam durante algum tempo depois de desentendimentos com as autoridades, diz o Washington Post, lembrando o caso da estrela de cinema Fan Bingbing, que não apareceu em público durante meses e quando voltou foi para confessar um crime de evasão fiscal.
Ren Zhiqioang, empresário do sector imobiliário reformado, que acusou o Partido Comunista Chinês de gerir mal a pandemia de covid-19, foi condenado a 18 anos de prisão, segundo o New York Times.
E o gestor de activos Xiao Jianhua, levado de um hotel em Hong Kong em 2017, segundo a Reuters, desapareceu enquanto estava sob custódia das autoridades chinesas – que absorveram, entretanto, parte da sua empresa.
Há, ainda, o caso de Meng Hongwei, antigo chefe da Interpol, que desapareceu em Setembro de 2018 durante uma viagem a França. Em Janeiro de 2020, foi condenado a 13 anos e meio de prisão por acusações de corrupção.
O Post sublinha que a saga de Ma mostra a cada vez maior tensão entre os gigantes de tecnologia chineses e o Partido Comunista Chinês, para quem os primeiros são vitais, mas que poderão estar a tornar-se demasiado grandes e poderosos para o gosto das autoridades.
Ma terá criticado os reguladores do país numa conferência em Xangai em finais de Outubro, chamando-lhes “um clube de velhos” sem sensibilidade para a inovação tecnológica chinesa. Também terá dito que os grandes bancos estatais eram como “lojas de penhores”.
Ora é precisamente com os bancos parte do problema actual da parte do serviço de pagamentos da Alibaba, que se transformou numa empresa independente de serviços financeiros, o Ant Group, e supera até muitos bancos, fazendo com que estes tenham de recorrer a ela para créditos (e não o contrário, como seria de esperar). Alguns bancos estatais acusam a Ant Group de lhes roubar negócios.
Fundada em 1999, a Alibaba tornou-se numa espécie de versão chinesa da Amazon gerando lucros de 50 mil milhões de dólares por ano, aponta o Post. O Ant Group separou-se da casa mãe em 2014.
Com a chegada de Xi Jinping à presidência e a sua tentativa de trazer mais empresas para a esfera do Estado, tem havido por vezes tensão com empresas de tecnologia que se tornaram muito grandes muito depressa.
Ao Washington Post, Orville Schell, observador da China e amigo de Ma, comentou que empresas como a Alibaba passaram de ser “parte de um caminho para a grandeza nacional para se tornar uma ameaça potencial à superioridade do partido”. Para Schell, a retirada de Ma do espaço público não parece “ser totalmente voluntária”.
Notícia corrigida a 8.1.2021: Ma não é, desde Setembro de 2020, o homem mais rico da China, como dizia erradamente o texto.