Cabo Delgado: Total retira trabalhadores de projecto de gás devido a ataques jihadistas
Ataques perpetrados por grupos terroristas perto da construção da petrolífera francesa em Afungi levou a empresa a tomar medidas preventivas. Violência levanta dúvidas quanto ao futuro do megaprojecto de 20 mil milhões de dólares.
A petrolífera francesa Total suspendeu o seu megaprojecto de gás natural em Afungi, na província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, invocando questões de segurança, devido à vaga de ataques jihadistas das últimas semanas na região.
“Face à evolução da situação de segurança na província de Cabo Delgado e no distrito de Palma, a Total decidiu reduzir o pessoal presente no local do projecto, em Afungi. O processo de desmobilização está em curso de forma organizada e em conformidade com os protocolos estabelecidos”, anunciou a Total, num comunicado citado pela agência Lusa.
A empresa garantiu que está a tomar “todas as medidas necessárias para garantir a segurança e protecção do seu pessoal e das suas subcontratadas”. De acordo com a AP, a Total terá cerca de três mil trabalhadores envolvidos no projecto de gás natural em Afungi, não tendo ainda sido relevado o número de pessoas retiradas da construção.
A agência moçambicana Zitamar acrescenta que todos os trabalhos da petrolífera em Afungi foram suspensos, tendo a Total limitado as suas operações ao mínimo, retirando os seus funcionários por via aérea.
A petrolífera diz que a situação está em “avaliação contínua” e que mantém o contacto com o Governo moçambicano, que, por sua vez, teme que a Total recue no megaprojecto, considerado o maior investimento privado na África subsariana. Os analistas apontam para a possibilidade de a violência vir a pôr em causa a viabilidade do projecto.
“A execução do projecto estava a ocorrer de forma satisfatória, mas quando se registam ataques a cerca de cinco quilómetros do acampamento de Afungi, fica-se sem saber se o projecto de gás natural liquefeito vai ser desenvolvido ou não”, afirmou o analista Francisco Ubisse à Voz da América.
Já a economista Inocência Mapisse sublinhou que a redução dos trabalhadores da petrolífera pode ter consequência no calendário da construção do megaprojecto de gás natural, sendo “provável que o projecto seja adiado, o que não é desejável”.
No passado fim-de-semana, a petrolífera já tinha anunciado a redução das suas operações devido a ataques terroristas nas proximidades das instalações onde está a ser construída uma central de gás natural liquefeito, um megaprojecto com um investimento de 20 mil milhões de dólares.
No dia 29 de Dezembro, grupos jihadistas levaram a cabo dois ataques simultâneos no distrito de Palma, em Olumbi e no povoado de Monjane, a apenas cinco quilómetros das obras do megaprojecto da Total, tendo-se verificado confrontos entre os grupos terroristas e as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas que, no mês passado, travaram um ataque de rebeldes armados contra a construção da Total.
A vaga de ataques reivindicados por grupos extremistas na província de Cabo Delgado começou em Outubro de 2017 e tem-se vindo a intensificar ao longo dos anos. Pelo menos 2400 pessoas morreram e mais de 500 mil tiveram de abandonar as suas casas devido à violência, segundo os números do Governo moçambicano.