Assim fala Desidério Murcho no Brasil

Para o filósofo português, “a ciência, a tecnologia e o pensamento lógico em geral é a nossa melhor aposta para que tenhamos instituições políticas e sociais mais justas, melhores padrões de vida e uma melhor condição humana no seu todo”.

Foto
Desidério Murcho DR

Na edição desta semana do “Assim Fala a Ciência”, o podcast quinzenal do PÚBLICO, com o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, co-organizado por mim e pelo David Marçal, entrevistei Desidério Murcho, professor de Filosofia na Universidade Federal de Ouro Preto, no Brasil, desde 2007, após ter estudado na Universidade de Lisboa e no King’s College de Londres. Ele é autor de numerosos livros, entre os quais o best-seller Filosofia em Directo, do prelo da referida fundação. Entre os últimos, destaco Todos os Sonhos do Mundo e Outros Ensaios e Lógica Elementar, nas Edições 70. O autor, incansável tradutor, editor e divulgador da filosofia, foi fundador e director da revista Crítica, hoje Crítica na Rede, e cronista do PÚBLICO

Entre os vários temas de filosofia sobre as quais tem escrito incluem-se a lógica e a epistemologia, que foram os assuntos principais da nossa conversa. Mas também abordámos outros como a ética e a religião. A minha primeira questão foi precisamente sobre a relação entre filosofia e ciência. Já houve um tempo em que a física se chamava filosofia natural. Mas, a partir de Kant, deu-se uma separação entre filosofia e física. Num capítulo do livro Todos os Sonhos do Mundo Desidério citou o Nobel da Física Richard Feynman: “A filosofia da ciência é tão útil para os cientistas quanto a ornitologia é para as aves.” Perguntei-lhe o que se passou desde Kant e como pode hoje a filosofia ajudar e ser ajudada pela ciência.

A lógica veio da filosofia, mas é central na matemática, a linguagem da ciência. E o raciocínio lógico está hoje na base de toda a ciência e, portanto, de toda a tecnologia. No entanto, apesar disso, a lógica não está assim tão disseminada. Perguntei-lhe por que razão isso acontecia. Quando vejo a lógica ser atropelada, lembro-me sempre do livro O Mundo Infestado de Demónios, de Carl Sagan, que contém um kit para detectar falácias. Pedi ao Desidério um exemplo de uma falácia comum, para nos ajudar a perceber como é fácil sermos enganados.

Num capítulo “Todos os sonhos do mundo,” Desidério diz considerar “a ciência, a tecnologia e o pensamento lógico em geral a nossa melhor aposta para que tenhamos instituições políticas e sociais mais justas, melhores padrões de vida e uma melhor condição humana no seu todo”. A ciência permanece, porém, largamente incompreendida. Pedi-lhe uma tentativa de explicação da forte presença do obscurantismo no mundo de hoje, um mundo dominado tão marcado pela ciência e tecnologia. Como enfrentar o obscurantismo, tão patente no Brasil?

Por último, falámos sobre ética e religião. A ética, sendo exterior à ciência, coloca-lhe limites. Einstein achava que a ética era um assunto puramente humano e não divino. Mas as religiões estão repletas de preceitos éticos. Como podem – ou melhor, devem, para usar um verbo da ética – ciência, ética e religião relacionar-se para constituir um triângulo virtuoso?

Pode ouvir as respostas dadas no podcast “Assim Fala a Ciência, onde se ouvem cientistas portugueses no mundo, procurando combater a desinformação.

Subscreva o Assim Fala a Ciência na Apple Podcasts, Spotify, SoundCloud ou outras aplicações para podcasts.

Conheça os podcasts do PÚBLICO em publico.pt/podcasts.

Este programa tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários