Novo grupo de rohingya levado para ilha do Bangladesh onde as inundações são frequentes

Organizações de defesa dos direitos humanos criticam a decisão de levar milhares de pessoas para uma ilha que costuma ser assolada por ciclones e cheias.

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Primeiro grupo de refugiados rohingya foi deslocado no início de Dezembro MOHAMMAD PONIR HOSSAIN/Reuters

Cerca de mil refugiados da etnia rohingya no Bangladesh vão ser deslocados para uma ilha ao largo da Baía de Bengala. Várias organizações de defesa dos direitos humanos alertam que o local é perigoso e apelam ao Governo para que desista da ideia.

O Governo do Bangladesh pretende levar o grupo de refugiados nos próximos dias para Bhasan Char, uma ilha de muito baixa altitude, onde é frequente a passagem de ciclones e que facilmente pode ficar totalmente submersa. “Autocarros e camiões estão prontos para os transportar, e também aos seus pertences, para o porto de Chittagong”, disse um responsável governamental, citado pela Reuters.

No início do mês, um grupo de mais de 1600 pessoas já tinha sido levado para a ilha. O Governo de Daca diz que a transferência é necessária para aliviar os campos de refugiados perto da fronteira com a Birmânia – de onde fogem os rohingya – que estão a abarrotar e garante que a ida para a ilha é voluntária.

A Human Rights Watch, porém, diz que “há alguns indícios de que as autoridades podem ter fornecido informações enganadoras e incentivos para que [as pessoas] se mudem para lá”.

O êxodo dos rohingya tornou-se numa das maiores crises humanitárias contemporâneas. Cerca de um milhão de pessoas fugiu do estado de Rakhine, no Nordeste da Birmânia, depois de uma violentíssima operação militar lançada em 2017 pelo Governo, que a ONU descreveu como uma tentativa de “limpeza étnica”. Foram destruídas várias aldeias e há registo de massacre de civis. A Birmânia defende a ofensiva e diz estar apenas a combater uma organização terrorista.

As organizações de defesa dos direitos humanos receiam que a deslocação para a ilha deixe milhares de pessoas numa situação ainda mais vulnerável, especialmente por causa da possibilidade de serem atingidos por desastres naturais, como ciclones e cheias. O enviado da Amnistia Internacional para o Sul da Ásia, Saad Hammadi, sublinha a “falta de compreensão sobre as garantias de direitos humanos [na ilha], incluindo o acesso a cuidados de saúde e ao direito de liberdade de movimentos entre a ilha e Cox’s Bazar [no continente]”.

O Governo bengali diz ter construído barreiras de protecção de 12 quilómetros para prevenir cheias na ilha e que há casas para cem mil pessoas.

As tentativas de repatriamento dos rohingya para a Birmânia falharam nos últimos anos, por causa da recusa dos refugiados em regressar ao país, temendo uma nova onda de violência contra si. Os rohingya, uma minoria muçulmana, não são reconhecidos como uma minoria étnica na Birmânia, e têm vedado o acesso à generalidade dos direitos de cidadania.

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