Activistas pró-democracia que tentaram fugir de Hong Kong começam a ser julgados na China
As famílias dos acusados foram impedidas de assistir ao julgamento. EUA exigiram libertação imediata, China diz que o assunto é interno.
A China começou a julgar dez dos 12 membros do movimento pró-democracia que em Agosto foram capturados pelas autoridades chinesas quando tentavam fugir para Taiwan. O julgamento, que se tornou num símbolo da crescente perseguição do regime chinês às vozes de oposição em Hong Kong, foi vedado a jornalistas e diplomatas estrangeiros.
As autoridades de Shenzhen, próxima da fronteira com Hong Kong, montaram um forte aparato de segurança em torno do tribunal que começou a julgar os dez. Foram erguidas barreiras à volta do edifício e a polícia fez patrulhas ao seu redor durante o julgamento, descreve o South China Morning Post.
De fora do tribunal ficaram diplomatas de vários países, incluindo Portugal, que queriam acompanhar a sessão, embora as autoridades locais tenham prometido um “julgamento aberto”. “A explicação oficial que nos foi dada é a de que o caso não envolve nenhum cidadão estrangeiro”, disse um dos diplomatas à Reuters.
Foi a 23 de Agosto que 12 membros do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidos quando estavam a caminho de Taiwan de barco. O grupo faz parte de um alargado número de pessoas, sobretudo ligadas ao movimento anti-Pequim, que fugiu de Hong Kong nos últimos meses com receio de vir a ser preso ao abrigo da nova lei de segurança nacional, considerada uma arma ao serviço do Partido Comunista Chinês para calar qualquer voz dissonante no território.
A aprovação desta legislação foi vista por parte da sociedade como um dos sinais mais evidentes de que Pequim está gradualmente a violar os direitos e liberdades de que Hong Kong deve usufruir por ser classificada como zona administrativa especial, à semelhança de Macau.
Os 12 activistas pró-democracia, com idades entre os 16 e os 33 anos, foram detidos de imediato e levados para uma prisão onde permaneceram nos últimos meses quase sem ter contacto com a sua família. A maioria esteve envolvida nos grandes protestos do ano passado contra a interferência chinesa em Hong Kong e, por isso, são vistos pelas autoridades como “separatistas” e ameaças à segurança interna do território.
Oito dos réus foram acusados de atravessar a fronteira ilegalmente, podendo incorrer numa pena de um ano de prisão, e dois são acusados de organizar a travessia ilegal, que pode ser punida com sete anos de prisão. Os outros dois são menores de idade e são julgados em separado.
Entre os detidos está um luso-descendente, mas a China não reconhece a dupla nacionalidade dos cidadãos nacionais e, por isso, tem travado as iniciativas diplomáticas portuguesas.
Os advogados contratados pelas famílias dos activistas foram impedidos de aceder aos pormenores do caso e de falar com os acusados, que são defendidos por advogados públicos. As famílias foram impedidas de comparecer ao julgamento, por causa das restrições relacionadas com a pandemia de covid-19, diz a BBC. Dias antes do julgamento, os familiares assinaram uma carta conjunta dirigida a vários países para que pressionem Pequim e que assegurem o cumprimento dos “direitos legais” dos activistas.
Na véspera do julgamento, a embaixada norte-americana em Pequim exigiu a “libertação imediata” dos activistas. “O seu chamado ‘crime’ foi fugir à tirania”, disse a embaixada. “A China comunista não irá deixar de fazer tudo para impedir que o seu povo possa procurar a liberdade noutros locais”, acrescentou o mesmo comunicado.
O Governo chinês respondeu acusando Washington de “ignorar os factos e misturar o certo e o errado”. “As questões de Hong Kong são um assunto interno da China e o caso em questão está dentro da jurisdição da China”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zhao Lijian.