A primeira vacina da história
A invenção da primeira vacina está ligada à variante bovina da varíola, que é mais suave. O médico inglês Edward Jenner (1749-1823) reparou que as mulheres que ordenhavam vacas não ficavam doentes com varíola humana. Pensou que talvez tivessem protecção contra a varíola humana por terem sido contaminadas pela varíola bovina.
Em 1796
O médico testou a sua hipótese ao inocular o filho do seu jardineiro (James Phipps) com material recolhido em erupções cutâneas de varíola bovina numa ordenhadora (Sarah Nelmes). O rapaz teve uma forma suave de varíola bovina e depressa recuperou. Mais tarde, o médico inoculou-lhe material contaminado com varíola humana, mas o rapaz não desenvolveu a doença. Tinha criado defesas contra o vírus da varíola humana. Inventava-se assim a primeira vacina – há mais de 220 anos. A palavra “vacina” vem de “vaca” em latim (“vacca”).
Em 1980
O último caso de varíola no mundo registou-se a 26 de Outubro de 1977 na Somália (em Portugal foi em 1958). Em Maio de 1980 – há 40 anos – a Organização Mundial de Saúde declarava oficialmente a erradicação desta doença que, só no século XX, matou 500 milhões de pessoas. O vírus só existe hoje em laboratório.
Como se cria imunidade a um vírus
Por infecção ou pela vacina
A imunidade a um agente patogénico (vírus, uma bactéria, um parasita) pode criar-se pela infecção natural ou pela vacinação. Quando somos infectados, o sistema imunitário começa a construir uma defesa contra esse intruso, que passa pelo fabrico de anticorpos específicos (moléculas) dirigidos a esse agente patogénico em concreto. A vacinação socorre-se deste princípio.
Os antigénios e os anticorpos
O sistema imunitário reconhece um agente patogénico como tal porque ele tem elementos identificativos à superfície, como se vestisse uma roupagem distintiva, digamos um casaco vermelho com uns botões amarelos. Esses botões amarelos, que permitem ao sistema imunitário identificar o intruso e desencadear uma resposta imunitária, são o que se chama “antigénio”. Especificamente para o antigénio de um determinado agente patogénico, o organismo irá fabricar anticorpos. No novo coronavírus, a proteína da espícula (ou spike) à superfície funciona como antigénio.
Resposta imunitária
O que é uma vacina
É uma substância que tem o objectivo de enganar o sistema imunitário, levando a crer que está perante um agente infeccioso real. As células imunitárias identificam essa substância da vacina como perigosa e desencadeiam uma resposta de protecção, à semelhança do que acontece quando o corpo humano é invadido por um agente patogénico. Numa vacina o que se faz é simular essa invasão, para induzir o sistema imunitário a criar uma resposta dirigida a esse invasor, sem que ele realmente lá esteja nesse momento.
O sistema imunitário tem assim tempo de preparar uma resposta específica e memorizá-la. No futuro, caso a pessoa vacinada seja realmente infectada, o sistema imunitário responderá com rapidez para a proteger da doença.
Métodos diferentes, o mesmo propósito
Os métodos para chegar a uma resposta imunitária induzida por uma vacina podem ser muito diferentes: os mais clássicos envolvem usar um agente patogénico inteiro (que está enfraquecido ou mesmo inactivado) ou subunidades desse agente patogénico (como uma das suas proteínas), injectando-os no corpo de uma pessoa. Os métodos mais novos envolvem usar um outro vírus (por exemplo, um adenovírus) como invólucro com informação genética do novo coronavírus lá dentro, ou o uso de gotículas minúsculas de gordura a encapsular as instruções genéticas de uma das proteínas do vírus. Com essas instruções, as nossas células passam a fabricar um pedaço do SARS-coV-2 que induz uma resposta imunitária.
Vivos, mortos e aos bocados
As vacinas das covid-19 estão a ser fabricadas com base em abordagens novas e clássicas: vírus (vivos) atenuados, vírus (mortos) inactivados e fracções de vírus. Dentro das novas abordagens, temos vacinas de vectores virais e vacinas de ácidos nucleicos.
Técnicas de produção de vacinas
As vacinas da AstraZeneca/Oxford, da Moderna e da Pfizer/BioNtech são das que mais temos ouvido falar. A vacina da Pfizer/BioNtech começa a ser distribuída por toda a União Europeia a partir de 27 de Dezembro. Já está aprovada no mercado norte-americano, tal como a da Moderna. Ambas são produzidas com a técnica de ARN-mensageiro (ARNm), a primeira vez que tal acontece.
Técnicas novas
Técnicas tradicionais
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Vectores virais
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Ácidos nucleicos
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Vírus atenuado ou inactivado
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Partes do vírus
Vírus atenuado ou inactivado
Partes do vírus
Vectores virais (replicantes e não-replicantes)
Ácidos nucleicos (ARN e ADN)
Uma vacina em tempo-recorde
Tal foi possível porque…
• Os cientistas colaboraram e partilharam informação;
• A autorização para uso de emergência foi possível graças ao processo denominado “avaliação contínua” no qual as farmacêuticas foram partilhando com o regulador os resultados dos ensaios clínicos
• As farmacêuticas começaram a produzir a vacina em grande escala antes de completar todas as fases de ensaios clínicos e de haver garantia de autorização de comercialização e encomendas. Por essa razão, a distribuição e a operação logística começou a ser montada antes da autorização de uso de emergência