Marcelo pede consenso, estabilidade, coesão social e confiança na sua mensagem de Natal
Uma análise do passado e uma projecção do futuro. Eis a mensagem do Presidente da República, intitulada “Um Natal em pandemia” e divulgada através do Jornal de Notícias.
Há quatro desejos, claramente expressos, na mensagem de Natal do Presidente da República divulgada nesta sexta-feira nas páginas do Jornal de Notícias, como vem sendo hábito nos últimos anos de mandato. Marcelo Rebelo de Sousa pede três C e um E: consenso, coesão social, confiança e estabilidade.
“Consenso alargado, estabilidade, reforço da coesão social, existência de referenciais de confiança. Eis o que o Natal de 2020 exige de todos nós, portugueses, continua a exigir agora e continuará a exigir por mais algum tempo”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa num texto que fala sobre história (natais passados) e futuro (a curto e médio prazo).
Para o Chefe do Estado, é urgente olhar para o Natal de 2020 com uma visão de prazo mais curto, evitando que "ele crie condições objectivas para um arranque negativo ou muito negativo de 2021”. Por outras palavras, Marcelo reforça o que disse anteriormente: é preciso celebrar a época festiva com cautela e responsabilidade. Mas o Presidente também entende que “deve haver um outro olhar para o Natal de 2020”. E é aí que deixa um apelo à resiliência dos portugueses, inspirado nos dez meses que passaram desde que a pandemia se instalou no país.
“Desde Março, temos demonstrado estar à altura de tal exigência. Não iremos esmorecer, nestes dias, por entre a alegria responsável do reencontro e a redescoberta do valor da esperança na resistência às dificuldades. Já percorremos tanto caminho juntos e com inabalável determinação, que nada poderá levar-nos a deitar a perder o realizado. Com hesitações, descontinuidades, tergiversações. Todas elas dispensáveis e mesmo contraproducentes. O desafio é importante de mais e o tempo premente de mais, também ele, para comportarem outra coisa que não seja continuar o feito e acelerar o que, na mesma linha, há que fazer”, escreve o Presidente no final da sua mensagem natalícia.
O texto começa por recordar outros “Natais em guerra”, que estão na lembrança dos que têm "mais de 90 anos" — "Uma guerra lá fora, mas com constrangimentos cá dentro, por exemplo em matéria de abastecimento de certos bens ou ainda de algum sobressalto no início da década de quarenta" — ou dos que têm “hoje acima dos 60 anos, em particular os que vieram de África depois de 1974 e os que combateram em Angola, Guiné e Moçambique”.
A seguir lembra os “Natais em crise financeira e económica e, decorrentemente, social” que estão na memória dos “menos jovens e mais jovens de várias gerações”. E os “Natais com pobreza muito vasta, ou com permanência de pobreza estrutural incompressível - ou seja, de dificílima redução -, ou com essa pobreza ampliada pelas crises económicas e financeiras”. Finalmente, não esquece outros “Natais com surtos epidémicos antes da democracia e já em democracia, mas de duração limitada”.
O que o Natal de 2020 tem de novo não é a guerra, a crise ou o surto epidémico, mas a circunstância de a pandemia de covid-19 juntar tudo isto. “E esta junção de crises converte este Natal num terreno nunca experimentado”, conclui Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhando que “apesar da esperança nas vacinas”, a pandemia “está para ficar semanas e meses, ninguém sabendo ou podendo prever quantos”.
Seguindo o exemplo de Mário Soares e Jorge Sampaio, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou esta semana que não divulgará a tradicional mensagem de Ano Novo por ser candidato. Ainda nesta sexta-feira, será a vez de António Costa, na qualidade de primeiro-ministro, se dirigir aos portugueses.