Trump concede indultos a 20 pessoas, incluindo condenados na investigação à interferência russa

Condenados por crimes no Iraque da Blackrock e antigos congressistas republicanos estão entre os 15 perdoados, e cinco que tiveram a pena reduzida.

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George Papadopoulos, que admitiu mentir na investigação à interferência russa nas eleições, foi um dos perdoados por Donald Trump CARLO ALLEGRI/Reuters

O Presidente dos EUA, Donald Trump, aprovou uma série de indultos, incluindo a George Papadopoulos, antigo responsável pela sua campanha que confessou ter mentido aos investigadores no caso da interferência russa nas presidenciais de 2016, e a Alex van der Zwaan, que também confessou um crime semelhante na investigação e é genro do multimilionário russo German Khan.

Também foram perdoados Nicholas Slatten, Paul Slough, Evan Liberty e Dustin Heard, que cumpriam longas penas de prisão pelos crimes cometidos no Iraque onde trabalhavam para a empresa especialista em segurança Blackwater, por ligação à morte de 14 civis em Bagdad – entre as vítimas estavam crianças, uma com nove anos, e uma mãe com um bebé de colo –, que provocou um debate sobre o papel das empresas privadas na guerra.

Três antigos congressistas republicanos estavam também na lista de perdoados: Chris Collins de Nova Iorque (o primeiro membro do Congresso a apoiar Trump), Duncan Hunter da Califórnia e Steve Stockman do Texas.

Dois antigos guardas de fronteira, Ignácio Ramos e José Compean, a cumprir pena por dispararem sobre um homem, desarmado, que traficava marijuana, foram perdoados (os dois tinham recebido uma redução de pena do antigo Presidente republicano George W. Bush).

Os indultos que mais chamaram a atenção foram os relacionados com a investigação à interferência russa nas eleições de 2016. “Os perdões de hoje ajudam a corrigir a ideia errada que a equipa de Mueller provocou em tanta gente”, segundo uma declaração da Casa Branca. 

Perdões e indultos são normalmente concedidos a criminosos comuns, em especial no final de qualquer presidência. Até agora, segundo o Pew Research Center, Trump “usou os seus poderes de clemência menos do que qualquer outro Presidente na História moderna”, aponta o centro de pesquisas. Mas mesmo sendo raros, diz ainda o centro Pew, “o uso tem provocado controvérsia pela natureza dos seus perdões e comutações”, cita o diário britânico The Guardian.

Uma análise de Julho do blogue especializado em direito Lawfare nota a “ligação pessoal ou política” ao Presidente de muitos dos indultados, e o processo “tem muitas vezes contornado as formalidades habituais neste tipo de processos”.

Trump já tinha perdoado o seu primeiro conselheiro de segurança nacional, Michael Flynn, que tinha admitido ter mentido ao FBI na investigação sobre a interferência russa, e também o seu antigo conselheiro Roger Stone, condenado no âmbito da mesma investigação.

Os perdões anunciados na terça-feira levaram a várias críticas. O congressista democrata Adam Schiff, encarregado do processo de destituição de Trump, reagiu no Twitter: “Mentir para proteger o Presidente? Ganha um perdão. Político corrupto que apoiou Trump? Ganha um perdão. Eleger um corrupto para Presidente? Tem um resultado corrupto.”

“De modo desprezível, o Presidente Trump está a distorcer o seu poder presidencial para recompensar aliados que infringiram a lei para o defender”, declarou o senador democrata Richard Blumenthal, do Connecticut.

“É uma decisão lastimável do Presidente”, disse a congressista da Califórnia Katie Porter, referindo-se de seguida aos antigos congressistas republicanos: “Estes políticos corruptos não merecem um perdão.”

“Ainda se considera um Presidente que faz cumprir a lei depois de perdoar assassinos de uma criança de nove anos e outra de onze?”, perguntou Joyce Alene, professora de Direito da Universidade de Alabama e antiga procuradora, referindo-se ao perdão aos antigos seguranças da Blackwater.

O jornalista do New York Times Peter Baker referiu, no Twitter, que “em tempos os presidentes evitavam, de modo geral, perdoar assassinos, nem que fosse só porque era considerado autodestrutivo politicamente”.

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