Contra a ameaça do deserto, os artistas continuaram

Um ano atípico, frio, amedrontado. Assim se poderá descrever 2020, mas aceitar, sem reservas, tal sinopse é dizer uma mentira. Pese embora todas as dificuldades, todas a angústias, os artistas continuaram a pensar, a fazer e a mostrar. A eles e a tantos outros agentes do meio artístico devemos momentos de comunhão, emoção, alegria. Abriram-nos espaços no tempo. Povoaram com eles o deserto destes dias.

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Empurrados para trás, para dentro, numa paragem lenta, com o sentimento de uma fina, por vezes irreal, aflição. Tal recuo, involuntário e doloroso, proporciona a criação de um espaço mental (físico, até) para repensar o que nos rodeia. As ruas desertas, os edifícios, as estradas, os carros estacionados ou que passam, breves, na estrada. O saco de plástico que voa, as luzes solitárias dos semáforos. A pergunta declina-se em surdina: em nome do quê, toda esta construção, esta acumulação, este consumo? Esboça-se, a custo, uma resposta, que logo se apagará e vão-se conjecturando cenários. Encontrada a milagrosa solução, o movimento será retomado (quem sabe?), numa maior, impiedosa aceleração. Ou não sabemos, simplesmente ninguém sabe, que acontecimentos nos aguardam.

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