Padre do Porto: “Vai haver uma crise de desemprego, de fome e instabilidade social”
Padre Rubens Marques, 59 anos, é pároco no Marquês, no Porto. E lida com “a grande vaga dos desempregados da pandemia”, num projecto que fornece refeições a quem precisa (e a fila é cada vez maior, diz). “Espero que venha aí um programa estrutural de combate à pobreza.” Este é o seu testemunho.
A minha linguagem não será a mais acertada. Vários colegas descreveriam melhor o impacto da pandemia na vida das pessoas e na sua relação com Deus. Falo apenas daquilo que vejo. E o que vejo todos os dias são pessoas desesperadas, ao frio e à chuva, em filas crescentes para uma refeição. Quando a minha paróquia, da Senhora da Conceição, no Marquês, no centro do Porto, criou o projecto “Porta Solidária”, estávamos vocacionados para os sem-abrigo e preparados para servir 40 refeições. No pico da última crise, em 2013, tínhamos atingido médias diárias de 300 refeições, sobretudo a sem-abrigo e reformados cujas pensões mal chegavam para pagar o quarto, a água e a luz. Desde que esta pandemia começou, logo em Março, os números dispararam para uma média de 550 refeições diárias. Nas filas, vejo jovens ligados à restauração, às esplanadas, que tinham contratos precários ou que não tinham qualquer contrato, e que, de repente, ficaram sem nada. E vejo muita gente ligada ao pequeno comércio dos cabeleireiros, das esteticistas, vejo os personal trainers dos ginásios.
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