Vacina da covid-19 pode ser actualizada em seis semanas para responder à variante britânica
OMS vai convocar reunião a nível europeu para discutir a situação. BioNtech diz estar confiante de que a sua vacina continua a ser eficaz, mas está a fazer experiências e vai ter resultados dentro de duas semanas.
Se for preciso modificar a vacina da BioNtech-Pfizer contra a covid-19 por causa da variante do novo coronavírus que surgiu no Reino Unido, seria possível fazê-lo em seis semanas. “Em termos estritamente técnicos, sem contar com a apreciação das agências reguladoras do medicamento, podíamos fazer isso em seis semanas”, afirmou Ugur Sahin, o administrador da empresa de biotecnologia alemão especializada na tecnologia de ARN-mensangeiro (ARNm) que desenvolveu a vacina que está a ser produzida e comercializada em conjunto com a Pfizer.
A BioNtech anunciou, em conferência de imprensa virtual um dia após a aprovação da sua vacina na União Europeia, ter lançado uma série experiências para verificar se a sua vacina continua a ser eficaz contra o vírus, apesar desta modificação, da qual foram detectados 1108 casos no Reino Unido, desde 13 de Dezembro, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Dentro de 15 dias teremos resultados. Mas é altamente provável que continue a proteger, pois 99% da proteína da espícula continua a ser a mesma”, disse Ugur Sahin.
Esta proteína da espícula está à superfície do vírus é o que dá ao coronavírus o aspecto despenteado e é o alvo das vacinas contra a covid-19. No caso das vacinas de ARNm, como a que foi desenvolvida por esta empresa, injecta-se no organismo apenas instruções genéticas (o ARNm) para produzir a proteína da espícula, para treinar as células do sistema imunitário a reconhecer o novo coronavírus, em caso de infecção. Esta proteína não é aqui infecciosa.
Até ao fim do ano, devem ser distribuídas 12,5 milhões de doses da vacina na União Europeia, avançou Sean Marrett, administrador comercial da BioNtech.
Num novo comunicado, a OMS diz que a variante designada VUI–202012/01 (que significa variante sob investigação, no ano de 2020, do mês 12, da variante 01), identificada no Reino Unido, apresenta 14 mutações que resultam em mudanças de aminoácidos (os tijolos com que se constroem as proteínas) e três deleções, quando se compara com o primeiro genoma do vírus que foi sequenciado – e que foi usado para fazer as vacinas contra a covid-19.
Algumas dessas alterações, que foram detectadas em diferentes países – desde a Islândia até à África do Sul e a Austrália – podem influenciar a capacidade de transmissão do novo coronavírus entre os seres humanos. Podem afectar, por exemplo, locais dos receptores que proteína viral usa para entrar na célula, ou a eficácia de alguns testes de PCR para detectar o vírus, diz a OMS.
“Mas essas mutações continuam a ser reconhecidas pela vacina”, considerou Sahin. De qualquer forma, sublinhou a necessidade de aguardar para ter respostas quantificadas dentro de duas semanas.
Deve haver uma reunião em breve da OMS Europa para decidir como responder a esta crise, anunciou o director europeu da agência das Nações Unidas, Hans Kluge, sem avançar ainda uma data, segundo noticiou a Reuters.
No Reino Unido, 50% das amostras do novo coronavírus que foram sequenciadas entre 5 de Outubro e 13 de Dezembro (entre 5 e 10% do total) revelaram ser desta nova variante, sendo a primeira identificada em Kent, no Sudeste de Inglaterra, a 20 de Setembro, ao que se seguiu um rápido aumento a partir de Novembro, sobretudo entre pessoas com menos de 60 anos, explica o comunicado da OMS.
Se fosse necessário fazer ajustes na vacina, disse Özlem Türeci, administradora responsável pelo desenvolvimento dos produtos médicos, a plataforma tecnológica de ARNm usada para desenvolver a vacina poderia ser rapidamente adaptada – daí o prazo de seis semanas para a actualizar, explicou. “Seria sempre mais complexo, pois dependeria da resposta das agências reguladoras”, disse. “Até agora, temos dados que mostram a estabilidade dos anticorpos durante cerca de três meses. Vamos tentar determinar se serão necessários potenciadores do efeito das vacinas”, avançou ainda.
Em curso estão também estudos para tentar perceber se as pessoas que são vacinadas, além de não desenvolverem formas graves de covid-19, deixam de transmitir o vírus a ouras pessoas – algo que não foi provado até agora. Sahin disse esperar haver resultados sobre isto no fim de Janeiro ou princípio de Fevereiro.
Segundo Özlem Türeci, estão ainda em curso negociações com várias agências reguladoras para estudar a melhor forma de fazer ensaios clínicos com vários subgrupos populacionais que ficaram excluídos das recomendações para a toma da vacina contra a covid-19, como mulheres grávidas, doentes imunodeprimidos, crianças com menos de 16 anos.