“Não passa pela cabeça que haja legislativas em 2021”, diz Marcelo

Em entrevista à TVI, o Presidente recandidato afirmou que o próximo mandato vai ser mais difícil do que o anterior, não só por causa da pandemia e da crise social e económica, mas também por causa do “maior stress do sistema político”.

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Marcelo Rebelo de Sousa deu esta segunda-feira uma entrevista à TVI Nuno Ferreira Santos

O candidato Marcelo Rebelo de Sousa nunca despiu o fato de Presidente da República na entrevista que deu esta segunda-feira à noite à TVI e por isso, mais uma vez, recusou-se a comentar o Chega ou sequer a avaliar se propostas como a castração de pedófilos são ou não constitucionais. Também se furtou a responder se o ministro da Administração Interna tem ou não condições políticas para continuar no cargo, constatando apenas que Eduardo Cabrita “não pediu exoneração nem foi exonerado”.

Mas no que lhe diz respeito ou possa vir a dizer, como o próximo mandato presidencial, não hesitou: “O segundo mandato vai ser mais difícil, o próximo mandato é mais difícil” e “não passa pela cabeça que haja eleições legislativas em 2021”. A antecipação de cenários continua a ser uma das suas especialidades e as explicações claras como as de um professor. Claro que ser Presidente da República nesta altura e daqui para a frente é mais difícil do que foi, reconheceu, lembrando que em 2016 o país já estava a recuperar da crise anterior.

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Frame da entrevista à TVI DR

“Agora continua a haver pandemia não se sabe por quantos meses, e por muitos anos uma crise económica e social”, disse, mas há mais: “Quanto mais longo for tudo isto, maior a desigualdade entre os portugueses e quanto maior isto tudo, maior o stress do sistema político”. Porquê? “Os hemisférios [partidários] que já existiam mantêm-se, mas dentro deles há mais parceiros, mais pulverização, logo é mais difícil a sustentabilidade da esquerda no poder e mais complexa a alternativa de direita”, explicou.

Apesar disso, qualquer crise política vai ter de esperar. Não, “não passa pela cabeça que haja legislativas em 2021”, porque para já “há orçamento para 2021, há presidência portuguesa, há autárquicas” e depois há clarificações de liderança nos partidos, lembrou. “Não pode haver crise política”, sublinhou.

O jornalista Anselmo Crespo quis saber se Marcelo estava confortável com o alívio das medidas do Governo para o Natal, numa altura em que uma nova variante do coronavírus foi encontrada no Reino Unido, mas o Presidente disse apenas que não é provável que haja novas restrições a dois dias do Natal, embora defenda que, se for necessário, deve-se endurecer medidas.

Preferiu, no entanto, insistir no apelo aos portugueses “para que não estraguem tudo”, ou pelo menos “que façam um esforço para não estragar”. Pessoalmente, Marcelo acha que cinco deve ser o número máximo de pessoas a uma mesa de refeição, e por isso está indeciso sobre um almoço com a família no dia 26.

Questionado à distância por Miguel Sousa Tavares sobre se se vai empenhar para que não aconteça com a vacina da covid-19 o mesmo que aconteceu com a da gripe, o candidato-Presidente lembrou que já falou com a Pfizer e a Moderna para saber como está a ser preparada a distribuição: “Tenho a convicção que haverá vacinas para todos”, afirmou.

Ainda assim, insiste em que “não se deve elevar expectativas aos portugueses”, dada a complexidade do processo de vacinação, e deixou um recado aos responsáveis da saúde: “O meu grupo de vacinação é o segundo, espero que não escorregue para lá de Março”.

A entrevista começou pelo caso de Tancos e demorou-se nele. Marcelo lembrou que foi lá, viu “o tipo de fechadura tipo marquise dos anos 60/70, um cadeado de bicicleta” que fechava o paiol assaltado, e ouviu logo ali pedirem-lhe para intervir junto do Ministério Público para que a investigação passasse para a Polícia Judiciária Militar. Por isso, não se deixou envolver nas suspeitas sobre o seu então Chefe da Casa Militar: “O que ele tinha para me dizer, já eu sabia”.

Marcelo insistiu que a sua única interlocutora no processo de Tancos foi a então procuradora-geral da República e sempre pediu que tudo fosse esclarecido, “doesse a quem doesse”. Agora, que já enviou o seu depoimento escrito para o processo, espera apenas que haja uma decisão rápida, “fundamental para a dignidade do estado de direito democrático”.

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