Covid- 19: autarquias disponibilizam espaços alternativos aos centros de saúde para vacinação

Associação diz que municípios estão prontos para apoiar se a resposta nos centros de saúde não for suficiente. E já há câmaras a seleccionar espaços. A necessidade poderá acontecer na segunda fase da vacinação, consideram representantes de médicos e enfermeiros, em que mais pessoas serão abrangidas.

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Reuters/POOL

Os responsáveis das associações que representam médicos e enfermeiros nos cuidados de saúde primários têm defendido que, na segunda fase da vacinação contra a covid-19, serão necessários espaços alternativos aos centros de saúde e algumas autarquias já começaram a fazer o levantamento de locais com condições para esse efeito. A Câmara de Cascais, por exemplo, está a preparar o centro de congressos do Estoril e autocarros dedicados a esta operação, para o caso de tal se revelar necessário, a de Vila Real ofereceu salas no centro de ciência e tecnologia local e as autarquias do Alto Minho ponderam a criação de pólos locais, eventualmente em juntas de freguesia ou outros espaços, para aliviar os centros de saúde.

A Fundação Calouste Gulbenkian também já se disponibilizou para criar unidades móveis de vacinação para reforçar as que já existem nos centros de saúde, segundo revelou esta quarta-feira numa audição no Parlamento o coordenador da task force responsável pelo plano nacional de vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos. Por enquanto, porém, e enquanto não se sabe quantas doses de vacinas vão chegar a Portugal, as administrações regionais de saúde (ARS) e os agrupamentos dos centros de saúde (ACES) estão concentrados na identificação das pessoas dos primeiros grupos a vacinar, como os cidadãos com mais de 50 anos e com doenças de maior risco de evoluírem para complicações graves e os residentes e funcionários de lares de idosos.

Apesar do revés que constituiu a “má notícia” dada pela Pfizer-BioNTech - que reduziu a sua capacidade de produção no primeiro trimestre em 20%, o que vai atrasar o calendário de vacinação na primeira fase -, Francisco Ramos garante que Portugal está preparado para começar a vacinar “assim que [as primeiras doses] chegarem”, o que pode acontecer antes do final do ano, uma vez que a Agência Europeia do Medicamento antecipou a avaliação desta primeira vacina para a próxima segunda-feira e a empresa assegurou que entrega o primeiro lote em apenas três dias.

Sobre os locais de vacinação, o coordenador da task force especificou que, além dos espaços nos centros de saúde, as unidades móveis que já existem nas unidades de cuidados na comunidade serão reforçadas para irem aos lares e ao domicílio, se necessário, nesta primeira fase, em que se prevê possam ser administradas 50 mil doses por dia. Já na segunda fase da operação, que envolve 2,7 milhões de potenciais cidadãos a imunizar, está a ser equacionada a possibilidade de criar “centros de vacinação nos centros urbanos com maior acessibilidade e eventualmente maior conforto” e será a este nível que se poderá contar com a colaboração de autarquias e outras organizações.

Tentando “antecipar soluções para problemas que se adivinham no futuro”, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, disse ao PÚBLICO que já estudou a criação de espaços de vacinação alternativos aos centros de saúde, “o mais emblemático dos quais é o centro de congressos do Estoril”, e está a pensar em “montar kits” com bancadas e frigoríficos dentro de autocarros, como já foi feito, ainda que apenas com um veículo deste género, na vacinação contra a gripe.

Em Vila Real, o presidente da Câmara disponibilizou três salas do parque de ciência e tecnologia local e Miguel Alves, que preside à Comissão de protecção Civil de Viana do Castelo e à Câmara de Caminha, disse que as autarquias do Alto Minho propuseram já às autoridades de saúde a criação de pelo menos um “pólo civil” alternativo aos centros de saúde em cada concelho para aliviar a carga dos centros de saúde, pólos estes que podem ser “salas de agremiações ou equipamentos municipais que estejam encerrados”.

Em “estado de prontidão"

As câmaras municipais, disse ao PÚBLICO o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), “estão em estado de prontidão”. Manuel Machado assegurou que “estão prontas para cooperar na selecção e preparação de instalações complementares aos centros de saúde e extensões que venham a ser necessárias para que seja feita a campanha de vacinação covid”. Um trabalho que está a ser feito, mas ainda não há uma lista de locais identificados.

“Primeiro avançam os centros de saúde e não sendo suficiente, as autarquias avançam complementarmente em função das necessidades”, explicou o presidente da ANMP. Manuel Machado salientou que este “é um trabalho contínuo”, tendo em que conta que vários detalhes, como o número de vacinas disponíveis e pessoas a vacinar nesta primeira fase, ainda não é conhecido.

A Câmara Municipal do Porto é outra das que já disse estar disponível. Mas, para já, aguarda indicações oficiais do que possa vir a ser preciso para encontrar e preparar espaços adequados. Na reunião da Comissão Municipal de Protecção Civil, que se realizou esta quarta-feira, este foi uma das questões em cima da mesa. Fonte da autarquia explicou que o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) Norte “indicou que eventualmente, nesta primeira fase, não serão precisos locais complementares tendo em conta o número de pessoas que serão abrangidas na primeira fase de vacinação, mas que poderá ser numa segunda fase”.

Também a Câmara Municipal de Oeiras se mostrou disponível junto do Agrupamento de Centros de Saúde Lisboa Ocidental e Oeiras (ACESLOO), como a mesma disse ao PÚBLICO, “para disponibilizar os locais que forem necessários para a realização de vacinação covid”. “No entanto, o ACESLOO diz não ter ainda indicação da ARS Lisboa e Vale do Tejo para o fazer, já que esta entidade ainda não deu as directrizes de como será feita a aplicação e do número de vacinas”, explicou, acrescentando que assim que houver esse contacto tomarão medidas.

Mas, se a segunda fase já implicará mais recursos, a primeira não será complicada, na perspectiva de Francisco Ramos. A vacinação não deverá envolver mais do que 20% dos enfermeiros dos centros de saúde, contabilizou. Também a cadeia de distribuição está montada e pronta a ser accionada assim que a vacina chegue aos três pontos previstos de entrega em Portugal – um no continente e os restantes nos Açores e na Madeira.

Quanto à cadeia de frio, Francisco Ramos esclareceu que o armazenamento a 70 graus negativos é requerido apenas nos locais de entrega e armazenamento onde as doses podem ser guardadas durante seis meses e poderão, depois de sair, permanecer durante 30 dias nas caixas térmicas fornecidas pelo fabricante. Após a abertura das caixas, as vacinas podem ficar armazenadas durante cinco dias em “frigoríficos semelhantes aos frigoríficos domésticos”.

Com Natália Faria

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