Covid-19: especialistas defendem limite de pessoas e de famílias no Natal

Governo reavaliará medidas para esta época festiva nesta semana.

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Adriano Miranda

Diferentes médicos olham com preocupação para a quadra natalícia que se aproxima, insistindo que o contexto epidemiológico ainda não permite baixar a guarda face ao SARS-CoV-2. Limite de pessoas em casa, na celebração da data, e restrições de deslocação entre concelhos são algumas medidas que defendem.

“Devia haver restrições nas deslocações entre concelhos nos dias de Natal e um número orientador de pessoas por casa, de acordo com a composição do agregado familiar, entre seis a oito, idealmente até dois agregados familiares, e assegurando todas as medidas [de protecção]. Acho bem que o Governo diga um número orientador para as pessoas estarem na ceia de Natal”, declarou ao PÚBLICO o pneumologista Filipe Froes.

O bastonário da Ordem dos Médicos considera “fundamental” que o Governo, e o primeiro-ministro, façam essa recomendação: “Tem de haver um limite no número de pessoas na ceia de Natal, temos de ter regras. É importante que haja recomendações para orientar as pessoas, porque os cidadãos portugueses compreendem e têm cumprido. Poderiam ser oito a dez pessoas, mas é um exemplo, o Governo pode avançar com outro número que seja razoável, com base na opinião dos especialistas”, diz Miguel Guimarães.

Filipe Froes, também coordenador do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19, entende mesmo que, “nesta altura, a situação epidemiológica em Portugal é favorável a aumentar algumas restrições”: “Mas é evidente que temos de assumir a incapacidade de as fiscalizar, pelo que, na minha perspectiva, o mais importante era esclarecer o alcance das medidas num âmbito pedagógico, para que fossem as pessoas as primeiras interessadas no cumprimento.” Deste modo, “mesmo que não tenha capacidade de fiscalizar todas as medidas, o Governo deve dizer quais são essas recomendações numa perspectiva pedagógica”. “Para aderirmos e garantirmos a saúde e segurança da nossa família”, defende.

O especialista mostra-se, por isso, preocupado com a perspectiva de se aligeirarem algumas medidas nesta época: “Preocupa-me, porque essas medidas não se aplicam ao vírus, o vírus não perde nenhuma oportunidade para fazer o seu trabalho. No Natal devíamos ser mais restritivos para assegurar darmos o melhor presente de Natal: a saúde e segurança das nossas famílias.”

Também o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, defende que “as condições não melhoraram o suficiente para se baixar a guarda”: “Não estamos com a situação controlada, temos talvez a solução da vacina a caminho, mas até termos uma cobertura vacinal alta ainda demorará. Receio que a redução das restrições no Natal possa aumentar o número de casos e que se crie a ideia de que as coisas estão melhores, quando não estão fáceis.”

Ricardo Mexia ressalva: “Não sei se devemos apertar [as medidas], não devemos é reduzi-las no Natal. Nos Estados Unidos, o Dia de Acção de Graças levou a um aumento no número de casos, por exemplo. E quanto à gripe, tipicamente, a incidência maior tende a ocorrer no fim do ano ou no início do próximo. É fundamental que as pessoas não baixem a guarda. Preocupa-me que a mensagem que estejamos a passar seja interpretada de uma forma que pode levar as pessoas a adoptar comportamentos menos adequados.” Este especialista defende que, “mais do que uma restrição no número de pessoas nas festividades desta quadra, deve haver uma restrição no número de agregados que se reúnem”: “Isso deve ser alvo ser uma comunicação assertiva.”

A 5 de Dezembro, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou medidas para este período, e, até agora, tudo indica que será possível circular entre concelhos no Natal, mas não no Ano Novo. O Governo optou por não aprovar medidas para as reuniões familiares​. As regras serão reavaliadas na sexta-feira, numa altura em que vários países europeus estão a enveredar por mais restrições nesta quadra.

Nesta semana, o subdirector-geral da Saúde partilhou dez “recomendações práticas” para o Natal, sendo uma delas a de que, preferencialmente, se deve limitar as celebrações e contactos ao agregado com quem se coabita.

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