Rolem umas cabeças e sosseguem umas consciências? Não chega
O que aconteceu a Ihor Homenyuk não tem nenhum sinal de ser um acontecimento fortuito e isolado, mas antes o resultado extremo de uma cultura de impunidade, de desrespeito pelos direitos humanos, de desresponsabilização e falta de supervisão.
Durante nove meses, o país não se cobriu propriamente de glória perante o caso de Ihor Homenyuk, o cidadão ucraniano que foi torturado e morreu às mãos da nossa polícia de fronteiras, sem que tivesse havido uma consciencialização generalizada da gravidade do que se passara. Três jornalistas fizeram o seu dever para que o sucedido com Ihor Homenyuk não fosse esquecido — aqui no PÚBLICO a Joana Gorjão Henriques, e no DN Fernanda Câncio e Valentina Marcelino — focando sempre que necessário os problemas sistémicos no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a montante e jusante deste caso individual. Mas agora que finalmente a história dos últimos dias de Ihor Homenyuk ocupou o debate público, parece-me que estamos prontos a seguir o arco narrativo habitual nos casos políticos — um crescendo de tensão até ao momento em que alguém se demite ou é demitido, seguido por um novo desinteresse em relação ao assunto. Como quem diz: rolem umas cabeças e descansem umas consciências.
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